Tony Neves
Budapeste, a ‘cidade das fontes e das pontes’ – como lhe chamou D. José Cordeiro – acolheu o 52º Congresso Eucarístico Internacional, um evento que a Igreja católica organiza desde 1881 (Lille, França). Apesar da pandemia (devia ter-se realizado em 2020), o Congresso aconteceu nesta parte Leste da Europa com uma longa história de perseguição aos cristãos, marcada por ‘testemunhos extraordinários de verdadeiro martírio’ – como lembrou o Bispo de Bragança-Miranda, responsável pela delegação portuguesa.
O ponto alto, como sempre, é a Missa de Encerramento presidida pelo Papa. Apesar dos constrangimentos da saúde e da idade, o Papa Francisco rumou às margens do Danúbio azul para sete horas de pura missão.
Cinco momentos marcaram esta visita relâmpago: o encontro com as autoridades, com os bispos católicos, com os representantes do Conselho Ecuménico das Igrejas e Comunidades Judaicas (sempre no Museu das Belas Artes), a Eucaristia e o Angelus.
Do encontro protocolar com membros do governo pouco ou nada transpirou, até porque são conhecidas as posições governamentais contra o acolhimento a refugiados (e outras) em contradição clara com o que tem defendido o Papa Francisco. No encontro com líderes cristãos e judaicos, o Papa falou do caminho da unidade que exige ‘rezar juntos, uns pelos outros, e trabalhar unidos na caridade, uns com os outros, por este mundo que Deus tanto ama’.
Em Budapeste, o Papa agarrou-se à sugestiva imagem da famosa Ponte das Correntes, a mais conhecida e mais antiga da Cidade, e pediu educação e compromisso por mais e melhor fraternidade, apagando o rastilho das ameaças do antissemitismo. Lembrou que ‘a Ponte é sustentada por grandes correntes, formadas por muitos elos. Estes elos somos nós, e cada um é fundamental; por isso, já não podemos viver na suspeita e na ignorância, distantes e discordes’. No fim, o Papa lembrou que ‘só radicados em profundidade é que se chega alto. Só se formos raízes de paz e rebentos de unidade é que seremos críveis aos olhos do mundo, que nos olha com a nostalgia de ver desabrochar a esperança’.
No encontro com os Bispos católicos, o Papa recordou a centralidade da Eucaristia na vida da Igreja e evocou a história da Hungria marcada por uma fé inabalável, por perseguições e pelo sangue dos mártires (‘moídos como os grãos de trigo, espremidos como as uvas’) que viveram a caridade e deram testemunho radical do Evangelho. Deu três indicações aos Bispos sobre a Missão a fazer: 1.Ser anunciadores do Evangelho, servindo a Igreja e o mundo com paixão, sendo próximos de Deus, uns dos outros, dos padres e do povo. Recordou-lhes a importância dos leigos: ‘serão eles os canais por onde o rio da fé irrigará novamente a Hungria’. 2. Ser testemunhas da fraternidade, apoiando a realidade multicultural do país, o que exige aceitar como riqueza a diversidade de etnias, minorias, confissões religiosas e migrantes, sonhando uma sociedade plural e fraterna. Citando a bela Ponte das Correntes, pediu aos Bispos que a Igreja ajudasse a construir novas pontes de diálogo. 3. Ser construtores de esperança, ao estilo de Deus ‘que é um estilo de proximidade, compaixão e ternura’. Recordou aos Bispos que ‘o pastor deve estar dentro do rebanho’.
A Eucaristia foi o ponto alto deste Congresso, com mais de 100 mil pessoas. O tema, ‘Todos as minhas Fontes estão em Ti’, sintonizava com a cidade que o acolheu e com os tempos que se vivem. A pergunta que Cristo faz no Evangelho desse domingo: ‘E vós, quem dizeis que Eu sou?’, permitiu ao Papa fazer uma homilia sobre a importância do anúncio de Jesus, de fazer um discernimento com Jesus – não tendo medo da Cruz, dando a vida pelos outros, fazendo uma opção clara pelos mais frágeis. Finalmente, o papa apela ao caminhar no seguimento de Jesus: ‘abramo-nos à novidade escandalosa de Deus crucificado e ressuscitado, Pão partido para dar a vida ao mundo. Estaremos na alegria e levaremos a alegria’.
No Angelus, à hora de partir, o Papa projetou o futuro: ‘que a cruz seja para vós uma ponte entre o passado e o futuro. Ela convida a saciar a sede nas fontes, abrindo-nos aos sedentos do nosso tempo’.
De Budapeste, o Papa rumou a Bratislava. O próximo Congresso será em Quito, no Equador, em 2024.