Lisboa: Julgamento de Jesus foi o «mais importante da história da civilização ocidental»

Conferência de Joseph Weiler levou centenas à Fundação Gulbenkian

Lisboa, 14 mar 2016 (Ecclesia) – O professor Joseph Weiler, reitor do Instituto Universitário Europeu, em Florença, apresentou hoje em Lisboa uma conferência sobre o ‘O Julgamento de Jesus’, que considerou como “o mais importante da história da civilização ocidental”.

Perante centenas de pessoas reunidas no grande auditório da Fundação Gulbenkian, o investigador apresentou uma reflexão sobre a necessidade de reconsiderar este julgamento para que seja “relevante” para os dias de hoje.

“É o julgamento mais importante da história da Civilização Ocidental”, sublinhou o especialista.

Weiler, judeu praticante, observou que “bem ou mal, as autoridades judaicas consideraram Jesus a pessoa mais perigosa na nação”.

“O mais significativo neste julgamento foi o facto de ter havido um julgamento”, referiu.

Para o codiretor do LL.M. “Law in a European and Global Context” da Católica Global School of Law (Universidade Católica Portuguesa), este julgamento deixou marcas no “coração” do sistema judicial ocidental, dado que Jesus “não foi executado”, simplesmente, mas teve direito a um julgamento.

“Não basta haver um julgamento, tem de ser um julgamento justo”, prosseguiu.

O que “horroriza” é a forma como Jesus foi tratado após ser declarado culpado.

“Misericórdia e dignidade são uma parte essencial do nosso sistema judicial”, disse ainda.

Joseph Weiler rejeita a ideia de que Jesus tenha sido condenado por “blasfémia”, recordando que no seu tempo “muitas pessoas diziam ser o messias e mesmo filho de Deus”.

“A chave, do meu ponto de vista, está nos Atos dos Apóstolos, escritos por São Lucas, onde encontramos muito claramente a acusação: que tentou incitar o povo a afastar-se da lei de Moisés”, salientou.

A partir desta passagem do Novo Testamento, o orador apresentou duas hipóteses: uma “banal”, de que o Sinédrio acreditava que Jesus era alguém que se apresentava como “autoridade” em relação à lei judaica; a “radical”, de que Jesus era “essa pessoa” anunciada pelo capítulo 13 do Deuteronómio como o “profeta” de Deus que iria ser morto, pelo que o julgamento de Jesus seria “o julgamento dos judeus”.

Neste sentido, todos estariam a “seguir as ordens de Deus”.

“Por um lado, Jesus morre inocentemente, porque estava só a fazer o que Deus lhe mandou fazer; por outro lado, o povo que o condena não está a cometer uma injustiça, porque estavam a fazer o que lhes tinha sido dito para fazer nessa circunstância”, assinalou.

O julgamento de Jesus, advertiu o académico, “abalou” as relações entre cristãos e judeus.

Numa análise ao julgamento no tribunal judaico (Sinédrio), Weiler observa que há “pelo menos 14” violações das suas regras, a começar pelo facto de decorrer à noite, bem como pela admissão da própria culpa ou pela condenação por unanimidade.

D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, introduziu a conferência, saudando a UCP pela iniciativa, dedicada a um “facto cultural de suma importância”.

“No julgamento deste jovem judeu de há 2 mil anos encontraram-se de uma maneira única quer a tradição histórica e religiosa do seu próprio povo e a primeira globalização do direito”, representada pelo Império Romano, realçou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

OC

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