Lisboa: Clero reúne-se em formação permanente com foco na vida espiritual

«A dimensão espiritual consegue fazer com que o mundo seja um mundo melhor, seja um mundo capaz de paz, seja um mundo capaz de esperança» – Patriarca de Lisboa

Turcifal, 23 jan 2024 – O Seminário de Formação Permanente do Clero de Patriarcado de Lisboa teve início hoje, no Centro de Espiritualidade do Turcifal (Torres Vedras), com o patriarca de Lisboa a afirmar que “a vida espiritual é fonte de unidade”.

“É só ao ritmo e na luz e no encalço da vida espiritual que é possível estabelecer proximidade, compreensão e entendimento com todo o ser humano, com todas as pessoas. Nós já verificámos que não é a dimensão política que nos traz soluções. Não é a dimensão económica que traz a solução para os problemas do mundo”, disse D. Rui Valério, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O patriarca de Lisboa fala no impasse em que o mundo se encontra, onde a “guerra está em crescendo”, ressaltando conflitos noutras geografias além do Médio-Oriente e da Ucrânia, nomeadamente na República Centro-Africana e no Mali, e considera que “tudo tem sido pouco” para solucionar problema, porque “nunca se deu a voz e a vez à dimensão espiritual”.

“A dimensão espiritual, julgo eu, é onde reside o segredo para aproximar as pessoas, para as por a entender. Porque, de repente, nós somos conduzidos para um horizonte que é muito mais daquilo que nós estamos a ver”, diz, completando que a vida espiritual “é um tornar vivo a realidade”.

“Ser acompanhado e acompanhar” é o tema central do Seminário de Formação Permanente do Clero do Patriarcado de Lisboa, que no primeiro dia teve como foco “A sede de uma vida espiritual”, reunindo dezenas de sacerdotes.

O patriarca de Lisboa justifica a escolha do mote para o programa dos três dias com base em três circunstâncias, sendo uma delas o legado deixado pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023: “a centralidade da dimensão espiritual na vida”.

“Este tema também surgiu muito, porque a seguir à Jornada Mundial da Juventude houve muita perceção de que a vida espiritual, a vida de oração, a procura de Deus, a procura de uma unidade de vida está muito à flor da pele, porque as jornada despertou muito este desejo, portanto, este também é um tema que nós damos, graças a Deus, que a providência nos tornou mais conscientes da sua importância”, explica o padre Duarte da Cunha, da coordenação do Seminário de Formação do Clero do Patriarcado de Lisboa.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

Além do encontro com o Papa em Lisboa, D. Rui Valério assinala o momento frágil que a sociedade vive e a perceção de que “só no desenvolvimento da vida espiritual existe, efetivamente, uma plenitude” para explicar a necessidade de refletir sobre o tema.

“A dimensão espiritual consegue fazer com que o mundo seja um mundo melhor, seja um mundo capaz de paz, seja um mundo capaz de esperança, seja um mundo capaz de oferecer a cada pessoa, a cada ser humano, um lar, uma pátria, um lugar para viver. É por isso que é crucial a dimensão espiritual da vida e, sobretudo, a vida espiritual”, destacou.

Segundo o patriarca de Lisboa, a vida espiritual “é a vida na sua espontaneidade”: “É a vida na certeza de que quando eu estou a falar com alguém, estou a falar com alguém que tem um significado, que tem uma grandeza, não é só um indivíduo que está ali”.

“Nunca devemos dizer que a vida espiritual é uma vida paralela à vida quotidiana, à vida do trabalho”, insistiu.

O segundo dia do programa do Seminário de Formação do Patriarcado de Lisboa é direcionado para o “Acompanhamento espiritual na vida do sacerdote”, tema a que o pároco de Monte Abraão e vigário da Vigararia da Amadora não é indiferente.

Para o padre Abel Ferreira, só é capaz de ser acompanhante espiritual “quem se deixa primeiro acompanhar e faz em si próprio a experiência de ser acompanhado de uma vida no espírito, que é também uma vida no corpo”.

“O acompanhamento espiritual tem componentes técnicas específicas, mas não é sobretudo um curso teórico, é muito uma vida prática, um caminhar lado a lado com aquele que estamos a acompanhar, e que, às vezes, é preciso ir à frente a puxar, outras vezes é simplesmente ir ao lado, outras vezes é ir atrás a empurrar quando as forças já falham”, salienta.

A primeira mesa redonda do dia teve como lema “A sede de Deus e a procura de uma relação real e viva com Deus no mundo atual”, tendo os convidados falado da sua experiência pessoal.

Apesar de nestes dias o tema central ser virado para a espiritualidade, a organização do Seminário de Formação do Clero do Patriarcado de Lisboa promove sessões de cultura no primeiro e segundo dias, que decorrem às 21h.

A Inteligência Artificial, conduzida pelo investigador Miguel Panão, e os 50 anos do 25 de abril – A Igreja e a Política, pela jornalista Maria João Avillez, António Pinheiro Torres e António Capela, vão estar em destaque.

Padre Duarte da Cunha
Foto: Agência ECCLESIA/LJ

“Não há dúvida que a Inteligência Artificial está em cima da mesa e que também nos afeta, porque a própria vida espiritual não é uma vida paralela”, diz o padre Duarte da Cunha, que acrescenta ainda que em ocasiões complexas como Portugal atravessa a nível político, “é necessário pensar o que tem sido e o que deve ser este protagonismo dos cristãos, não só dos padres, mas dos cristãos em geral na vida política e social” do país.

O Seminário de Formação Permanente do Clero do Patriarcado de Lisboa, que decorre até dia 25 de janeiro, é também momento de oração, partilha e convívio entre o clero.

“Talvez a coisa mais formativa destas jornadas é o nosso encontro pessoal. […] É partilharmos, é conversarmos sobre estes temas e sobre outros temas que nos preocupam e, portanto, estamos aqui três dias e julgo que vai ser uma coisa que também vai ter os seus frutos”, aponta o sacerdote.

O último dia de Formação Permanente do Clero tem como tema “Acompanhar os fiéis leigos”, estando agendados uma conferência sobre “Os pedidos de um acompanhamento. Os medos, as crises e os entusiasmos” e uma sessão de “Testemunhos e Pistas”.

LJ

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