Lisboa 2023: Jovem português falou ao Papa sobre «marcas» da pandemia

Meditações da Via-Sacra abordaram dramas atuais da realidade juvenil

Lisboa, 04 ago 2023 (Ecclesia) – Um jovem português apresentou hoje ao Papa uma reflexão sobre as “marcas” deixadas pela pandemia da Covid-19, falando durante a celebração da Via-Sacra, no Parque Eduardo VII.

“Persiste um isolamento silencioso, um isolamento emocional, que a ausência de máscaras não conseguiu calar”, disse João, de 23 anos.

O jovem falou da experiência como universitário nos confinamentos, em que teve de “comunicar, estudar e terminar a universidade através de um ecrã”.

“No meu caso, o período de isolamento transformou-se num exercício de me ouvir. Recuei no tempo para revisitar o período em que sofria bullying na escola – como isso me marcou, as inseguranças que causou e a verdadeira cruzada interior que movi, sem sucesso, para descobrir o que havia de errado em mim”, relatou.

Esther, com 34 anos de idade, da Espanha, em cadeira de rodas, que falou da experiência de um aborto, do seu arrependimento, da ajuda para superar as dificuldades no casamento e do amor pela sua filha.

Caleb, de 29 anos, natural dos Estados Unidos da América, recordou o seu passado de depressão, toxicodependência e a sua conversão ao catolicismo, que “curou” a sua alma, pela fé na Eucaristia.

Além dos três testemunhos, as reflexões para a Via-Sacra apresentaram preocupações sobre temas como a guerra, desemprego, solidão, dependência digital, perseguição religiosa e alterações climáticas, acompanhadas por uma cenografia especial no altar-palco.

A primeira meditação fala num futuro “tirado” às novas gerações, dando início a uma série de alertas, que evocam, entre outros, “muitas pessoas que tentam desesperadamente fugir de situações desumanas”.

“Fogem da guerra, da fome, da falta de água, das perseguições políticas. A sua casa deixou de ser o seu abrigo e passou a ser o lugar provável da sua morte”, pode ler-se, no texto disponível na aplicação móvel oficial da JMJ Lisboa 2023.

As meditações abordam as tradicionais 14 estações – momentos ligados à prisão, julgamento e execução de Jesus Cristo.

“Hoje, só conta quem produz. Não contam os idosos, não contam as pessoas com deficiência, não contam os desempregados, não contam os sonhadores”, assinalam os jovens.

Dizem-nos que a vida está cheia de oportunidades, mas é difícil ver onde estão essas oportunidades quando o dinheiro não chega, quando não se consegue arranjar trabalho e quando ter acesso à educação é, na prática, muitas vezes impossível”.

A reflexão sobre a condição juvenil aponta ao impacto da intolerância, perseguição religiosa ou da violência, com referência a “guerras, atentados, tiroteios em massa, mas também violência nos casamentos e nos namoros, abusos de crianças, bullying, abusos de poder”.

Os jovens autores apresentam várias referências à dependência digital, que fomenta o individualismo e a solidão.

“Vivemos numa terra de espelhos onde o que conta é a aparência, a imagem. Selfies e mais selfies. A tirania do corpo certo e do sorriso perfeito. Fotos de si mesmo nas redes sociais em poses cuidadosamente estudadas. Posts artificiais à espera dos likes dos outros”, advertem.

Questões ligadas a problemas de saúde mental e a distúrbios alimentares também surgem nos textos, que abre espaço para a interrogação sobre o futuro do planeta.

“Assistimos ao consumo descontrolado dos recursos da terra, à extinção de espécies, à devastação de florestas. Assistimos assustados às alterações climáticas e sentimo-nos muito inseguros em relação ao futuro. E tudo isto associado a estilos de vida desequilibrados que fazem com que alguns morram à fome enquanto outros fiquem doentes por comerem demais”, advertem.

Senhor, ensina-nos a ter estilos de vida mais simples, mais solidários, mais conscientes das consequências, mais próximos do essencial. Mais parecidos contigo”.

Os temas das meditações da Via-Sacra da Jornada Mundial da Juventude 2023 nasceram da auscultação aos 20 jovens dos cinco continentes que fazem parte do ‘International Youth Advisory Body’ (grupo de consultores) do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, criado após o Sínodo de 2018, cujo tema foi “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

OC

 

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