Liberdade e responsabilidade

António Estanqueiro, professor e formador

Agência Ecclesia/MC

A liberdade é o dom mais precioso do ser humano. É a capacidade de autodeterminação, que nos permite fazer escolhas e tomar decisões na nossa vida pessoal e social. Somos protagonistas da nossa história.

Não existe liberdade sem responsabilidade. Quando agimos de forma livre, consciente e voluntária, não forçados pelas circunstâncias, devemos assumir a responsabilidade pelas nossas ações e omissões.Sem desculpas!

Condicionantes da liberdade  

Seremos realmente livres? Há pensadores que negam a liberdade, considerando que o agir humano é previamente determinado. Mas a liberdade existe, apesar de limitada ou condicionada por fatores biológicos e sociais.

De facto, a herança genética condiciona, mas não determina o comportamento humano. Ao contrário dos animais irracionais, que nascem geneticamente programados e agem por instinto, as pessoas têm capacidade para gerir os seus impulsos biológicos e agir com critérios racionais, de acordo com princípios e valores. Assim, as ações humanas, avaliadas como boas ou más, podem gerar sentimentos de orgulho ou de vergonha em quem as pratica e merecem o elogio ou a censura dos outros, o que não acontece com os animais.

Também é verdade que o exercício da liberdade está condicionado pela vida social. Temos de obedecer a certas regras e leis da sociedade, mesmo contra a nossa vontade. Muitas vezes, somos pressionados pelos grupos em que nos inserimos. E deixamo-nos influenciar pelas pessoas com quem nos relacionamos, quando queremos receber a sua aprovação ou o seu afeto. Isso, porém, não nos impede de pensar e fazer escolhas.

 Viktor Frankl (1905-1997), psicoterapeuta austríaco de origem judaica, prisioneiro sobrevivente dos campos de concentração nazis, defendeu que o ser humano tem sempre alguma liberdade, por pior que seja a situação em que se encontra. Refletindo sobre a sua experiência de sofrimento extremo, concluiu: “É possível tirar tudo a uma pessoa, menos uma coisa: a última das liberdades humanas, a escolha da sua atitude, em qualquer circunstância, para decidir o seu próprio caminho.”

É esta liberdade que nos distingue como seres humanos e nos permite descobrir razões de viver.

O valor da responsabilidade

Somos responsáveis pelas escolhas que fazemos. Como seres livres e responsáveis, devemos cumprir as obrigações correspondentes ao nosso estatuto (de filhos ou pais, de alunos ou professores, de trabalhadores ou chefes…) e fazer boas escolhas, cuidando de nós mesmos, dos outros e da natureza, mesmo quando ninguém está a observar-nos.

Porque somos imperfeitos, também fazemos más escolhas. Nestes casos, como proceder com sentido de responsabilidade e lidar com as consequências negativas dos nossos atos?

Na gestão da vida pessoal, se tomamos decisões que geram insucesso ou nos prejudicam a saúde e o bem-estar, o único caminho é reconhecer com humildade os erros que cometemos, corrigi-los e aprender com a experiência. Nas relações interpessoais, se mentimos, enganamos, ofendemos ou agredimos alguém, a atitude certa é pedir-lhe desculpas sinceras e reparar os danos causados por palavras ou atos.

Seria uma irresponsabilidade inventar justificações ou procurar culpados para o mal que fazemos no uso da nossa liberdade. Atribuindo culpas aos outros ou às circunstâncias, não mudamos de comportamento.

Quem tem mais poder, tem mais responsabilidade. Mas quantos políticos e líderes abusam do poder e, em vez de admitirem a responsabilidade pelos seus erros, tentam desculpar-se, dizendo sem vergonha que têm a “consciência tranquila”? O que lhes falta? Consciência, talvez! Falta-lhes, certamente, honestidade e respeito pelos outros.

O direito à liberdade exige o dever da responsabilidade. É missão da família e da escola investir na educação moral e cívica dos jovens, dando atenção ao valor da responsabilidade. A formação integral inclui competências e valores. Gradualmente, sob orientação pedagógica dos educadores, as crianças e os adolescentes precisam de ganhar autonomia para fazer escolhas e assumir a responsabilidade pelos atos que praticam.

Pessoas conscientes e responsáveis, moralmente educadas, reforçam a sua credibilidade edesenvolvem relações humanas gratificantes. Deste modo, sentem-se mais felizes e contribuem para um futuro melhor.

 

António Estanqueiro

Professor e Formador

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