Lamego: D. Jacinto Botelho, balanço tranquilo

D. Jacinto Botelho, administrador apostólico da Diocese de Lamego, prepara-se para deixar um cargo que ocupou durante 12 anos, passando o testemunho a D. António Couto com sentido de dever cumprido. Em entrevista à ECCLESIA, este responsável diz ter tido a preocupação de desenvolver os “órgãos de participação”, para que o trabalho de pastoral seja “refletido por vários e depois seja assumido por vários, porque são todos que o têm de pôr em prática, que o têm de desenvolver”.

Natural de Moimenta da Beira, Diocese de Lamego, D. Jacinto Botelho nasceu a 11 de setembro de 1935 e foi ordenado padre em 1958. Em outubro de 1995 é nomeado bispo auxiliar de Braga, por João Paulo II, tendo a ordenação episcopal decorrido na Sé de Lamego, a 20 de janeiro do ano seguinte. A nomeação para a diocese natal acontece, curiosamente, no mesmo dia, no ano 2000, e a tomada de posse decorreu a 19 de março, dois meses depois.

O prelado evita falar em “legados”, lembrando a sua chegada a Lamego durante o “Ano Santo”, o jubileu proclamado por João Paulo II em 2000, o mesmo Papa que serviria de inspiração para o programa de ação de D. Jacinto Botelho, a partir da carta apostólica ‘Novo Millennio Ineunte’ (6 de janeiro de 2001), definindo “um plano de pastoral em três ciclos, de três anos cada um” [em setembro de 2010, o bispo completou 75 anos e apresentou a sua renúncia a Bento XVI, que a aceitou em novembro de 2011].

“Procuramos cumpri-lo, mas naturalmente houve mais empenho de alguns lugares, de alguns setores do que outros”, afirma, sem deixar de considerar que a aplicação do programa definido como “positiva”.

Em primeiro lugar, assinala, na criação de um “sentido de comunidade”, como Igreja, que “é vitalizada pela Palavra de Deus e alimentada pelos Sacramentos”. “No fundo, é o que há de mais tradicional, mas de mais essencial na vida da Igreja”, observa D. Jacinto Botelho.

O bispo refere que procurou promover a “proximidade” com os padres da diocese, que considera “fundamental”: “A necessidade que temos de contactar com o laicado será tanto mais visível quanto maior for a proximidade com o clero”.

Este responsável diz mesmo que os sacerdotes “nunca precisaram de marcar audiência” para serem ouvidos, sendo uma “prioridade” no trabalho desenvolvido: “Será mais fácil, depois, assumir os trabalhos que são programados quando existe essa proximidade”.

D. Jacinto Botelho deixa uma diocese com vários padres jopvens, depois de ter ordenado 29 sacerdotes diocesanos e outro de uma congregação religiosa. “Em comparação com dioceses com outra população, fomos uma diocese com esta graça extraordinária do Senhor”.

Esses novos padres enfrentam os desafios específicos de uma diocese “muito dispersa”, com uma população muito envelhecida, realidade sobra a qual o administrador apostólico propõe “uma reflexão muito grande”: “A desertificação acentua-se, com a baixa da natalidade e outras causas, outros fatores que também influenciam”.

A resposta na ação da Igreja Católica pode passar, segundo D. Jacinto Botelho, por uma “estruturação” em equipas, juntando vários sacerdotes para poder responder a uma zona maior. “Chegará o tempo em que não teremos sacerdotes para celebrar a missa todos os domingos em todas as comunidades paroquiais”.

O antigo bispo de Lamego fala numa diocese com “gente muito boa” e algumas pessoas bem preparadas, destacando a participação em movimentos como os Cursos de Cristandade, os Convívios Fraternos ou os ligados à pastoral familiar. “É importante que haja uma formação permanente para o nosso laicado, mas o certo é que temos gente um pouco envelhecida, para quem a formação é, possivelmente, um pouco diminuta”.

Nas camadas jovens, prossegue, “verifica-se o que se verifica no resto do país, a juventude vai perdendo aquela chama da fé; o facto de muitos se aproximarem do Crisma não quer dizer que seja o início de uma vida cristã empenhada, comprometida”.

Uma situação geral que apresenta como desafio “o aprofundamento da fé”, no qual os bispos têm insistido desde a primeira visita de João Paulo II a Portugal, em 1982.

Sobre a chegada do seu sucessor, D. Jacinto Botelho manifesta “grande esperança e muita alegria”, apresentando D. António Couto como “um bispo relativamente jovem, muitíssimo bem preparado”, que espera ver entusiasmar todos “com a sua palavra e o seu testemunho”. “É um bispo que certamente trará um impulso missionário e procurará mobilizar todos”, conclui.

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