Juventude: Precariedade, salários baixos e falta de acesso à habitação – o diagnóstico sobre os principais problemas dos jovens

«Estica-se o que é a juventude desde os 18 aos 35 anos. Portugal estende consecutivamente a idade de ser jovem porque nos roubaram a capacidade de ter adultez» – Adriana Cardoso 

Foto: Agência ECCLESIA/JG

Lisboa, 29 set 2022 (Ecclesia) – Adriana Cardoso, estudante de mestrado em Ciências Farmacêuticas e fundadora da academia apartidária «A Próxima Geração» disse hoje que os três grandes problemas dos jovens são a precariedade, os salários e a falta de acesso à habitação.

“O Estado Social que fornece escola pública, não ajuda depois no mercado de trabalho para encontrarmos empresas que assimilem as competências que obtivemos. É muito bonito falar em empresas que pensam em quotas para os seus quadros, mas a nossa economia é baseada em pequenas e medias empresas, com dificuldade em contratação e pagamento de salários”, lamentou no debate «Políticas para uma Nova Geração».

A jovem de 22 anos recordou, a partir de um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que “três em quatro jovens recebe menos de 900 euros e arrendar um T1 em Lisboa, custa cerca de 750 euros”.

“Vivemos num país de reformas estruturais que culminam em nada. Gostaria que pensássemos nos baixos salários como o nosso maior fator de atraso. Que tenhamos um debate sério sobre isso”, pediu.

A construção habitacional “está muito focada no luxo”, lamentou a jovem, evidenciando essa grande dificuldade dos jovens em continuar a estudar sem acesso a habitação, numa realidade que descreve não circunscrita aos grandes centros urbanos.

Adriana Cardoso criticou ainda o “estender consecutivamente a idade de ser jovem”.

“Portugal vive um fenómeno de estender consecutivamente aquilo que é a idade de ser jovem porque nos roubaram a capacidade de ter adultez. Atualmente, estica-se o que é a juventude desde os 18 aos 35 anos. Isto leva a um ciclo de problemas quando a minha geração adia o seu ciclo de familiar, tem incapacidade de ter habitação própria, e adia cada vez mais o primeiro filho, muitas vezes acaba por ter só um ou mesmo nenhum”, lamentou.

O antigo Ministro da Economia e também do Trabalho e Solidariedade Social, José Vieira da Silva, disse que os problemas complexos que hoje a sociedade portuguesa enfrenta “não se resolvem com balas de prata ou comissões independentes”.

Foto: Agência ECCLESIA/JG

O antigo governante respondia a Jorge Moreira da Silva, Presidente da Plataforma para o Crescimento Sustentável, que defendeu esta manhã a criação de uma “comissão independente para aferir o impacto das políticas públicas nas futuras gerações”, lamentando que se viva “a crédito do futuro dos filhos” e não se reabilite o “direito ao futuro”.

“Se há política onde sabemos que são os filhos que vão arcar com tudo são as alterações climáticas, e na verdade há oportunidades económicas na descarbonização. Se não fossem apenas as questões éticas e morais (para agir), ela gera um dividendo económico para além de social”, explicou Moreira da Silva.

José Vieira da Silva reconheceu o duplo envelhecimento da sociedade portuguesa, provocado por “nascerem menos crianças”, haver menos jovens e “mais pessoas com esperança de vida” o que, afirmou, implica um olhar diferente sobre “vários setores”.

“Temos sempre de olhar para o sistema de pensões com um grande objetivo: tomar o mercado de trabalho acessível a todas as gerações. Aos jovens, seguramente, mas atenção: acredito pouco nas políticas para jovens mas antes em políticas e comportamentos para todos. Não será com medidas muito dirigidas que conseguiremos”, explicitou.

O antigo Ministro da Solidariedade e Segurança Social quis sublinhar o “salto notável” na qualificação dos jovens portugueses que “ultrapassou a média europeia”, reconheceu que “nos anos de democracia poderia ter feito mais” e indicou a necessidade de se pensar na escola “mais ligada à sociedade e às comunidades”, continuando a investir na “vantagem competitiva das qualificações”.

As empresas devem aproximar-se das escolas, não só das universidades. Os jovens começam a pensar no seu futuro a partir dos 15 anos”, indicou.

A Conferencia «Em Nome do Futuro: Os desafios da juventude», que decorreu esta manhã no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, numa parceria entre a Rádio renascença e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, quis «projetar um país em mudança», apontando à JMJ Lisboa 2023.

LS

Juventude: Problemas atuais dos jovens são os problemas de todas as gerações – José Luís Ramos Pinheiro (c/vídeo)

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