Juventude Operária Católica alerta para precariedade e instabilidade no trabalho

No âmbito da campanha nacional da Juventude Operária Católica (JOC) “Precaridade e Instabilidade do Trabalho” tem-se realizado uma série de iniciativas para conhecer melhor a realidade de vida das pessoas. Numa primeira fase, que agora termina, o objectivo foi contactar com os jovens para perceber o que cada um sente, quais as suas expectativas, sonhos, frustações,… A JOC entrará agora numa outra fase deste percurso, que é o de analisar as várias situações à Luz de vários documentos da Igreja, bem como a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Comunicado A precariedade e instabilidade no trabalho têm aumentado de forma significativa em Portugal, mas, em particular, nos distritos do Porto e Aveiro. A JOC (Juventude Operária Católica) no âmbito da campanha nacional “ Precariedade e Instabilidade do Trabalho” tem estabelecido contactos mais directos, nomeadamente com jovens que trabalham nos hipermercados. Nestes contactos feitos, verificámos situações bastante deprimentes que põem em causa a dignidade da Pessoa. Vivemos numa sociedade capitalista e consumista e isto provoca situações em que o que interessa não é a Pessoa, mas sim o que produz e o lucro que dá. Não podemos dizer que os hipermercados estão fora da lei, mas, na verdade, a sua política não tem em conta o seu colaborador, que é humano e merece ser respeitado enquanto tal e não como um boneco de produção. Por exemplo, o Feira Nova, em Santa Maria da Feira, no mês de Dezembro, contratou colaboradoras em função da aproximação do Natal. No dia 23 uma das jovens contou-nos, com um olhar triste, que era o penúltimo dia de trabalho e que, depois, ia mais uma vez para o desemprego. Na cafetaria do Plus em Lourosa (Santa Maria da Feira) contrataram uma jovem só pelo período em que uma colega estava em casa doente. Relatamos dois casos, mas poderíamos relatar muitos mais, porque se é verdade que o Código Laboral, infelizmente, permite estas situações, não podemos deixar de lamentar que isto aconteça. A ausência de políticas que coloquem o emprego como uma prioridade e a introdução desordenada da tecnologia têm provocado o aumento do desemprego e, consequentemente, a degradação do equilíbrio social. Hoje em dia, verifica-se em alguns hipermercados projectos-piloto em que as caixas registadoras estão preparadas para não necessitar de um trabalhador. O cliente passa o código de barras no leitor óptico e faz a soma automática dos produtos e paga através de cartão Multibanco. O que vai isto provocar? Que consequências? O aumento do desemprego transmite medo às pessoas, provocando uma maior exploração, porque “se não quiserem assim, há muito quem queira”. Isto acontece também, porque os trabalhadores não têm a formação e informação suficiente para ter uma intervenção mais forte. Na verdade, o facto de as pessoas trabalharem de forma mais isolada e, de se sentir um maior individualismo e acomodamento face às injustiças, provoca esta “cavalgada” com o objectivo de destruir os direitos que são justos e o equilíbrio social. Nota-se, por um outro prisma, a falta de formação humana e técnica de muitos empresários e, por isso, não entendem que a produtividade de uma empresa também depende do bem-estar dos seus colaboradores. Ora daí a necessidade de haver estabilidade do emprego, boas práticas da empresa em relação à família. Uma pessoa ansiosa, preocupada, revoltada devido aos problemas impostos, não rende como uma pessoa realizada e com condições de trabalho dignas, em todos os sentidos. Existe também uma crescente subjugação dos trabalhadores às condições oferecidas pela entidade patronal, vivendo um clima sistemático de pressão psicológica e que tem provocado perturbações psicológicas e mentais. A flexibilidade dos horários, o poder de compra dos trabalhadores a diminuir, a precariedade dos contratos de trabalho, o trabalho a recibos verdes, tem consequências muito graves na sociedade. Existe um sentimento de frustração, as pessoas não se sentem realizadas no que fazem e isso reflecte-se quer no trabalho quer na família. A incerteza em relação ao futuro adia o projecto de muitos jovens da constituição da sua família e do nascimento dos filhos. Perante estas situações nota-se que a emigração está a crescer, com a tentativa de procurar noutros países, aquilo que o seu próprio país não foi capaz de proporcionar: condições dignas de vida. Tudo isto afecta as famílias, a comunidade e o país. Pessoas tristes e desmotivadas, sem perspectivas nem sonhos. Alguns jovens pensam que não vale a pena adquirir formação, pois não vão ter oportunidade de a pôr em prática. As famílias cheias de problemas não têm disponibilidade para a vivência de tempos livres saudáveis e culturais, nem para a participação cívica. E procuram compensação no consumismo, endividando-se cada vez mais. Devido a isto sente-se um empobrecimento também ao nível das relações humanas quer nas empresas quer na sociedade em geral, usando a compra sucessiva de coisas e mais coisas com vista à satisfação pessoal. O empobrecimento das famílias é preocupante, onde se regista o valor recorde de endividamento, cifrando-se segundo os mais recentes dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) nos 118% como média nacional, o que significa que o ordenado líquido das famílias não chega para pagar as prestações de crédito. É urgente mudar e transformar este estado de coisas. Para isso é imprescindível que as pessoas estejam organizadas e informadas dos seus direitos e deveres e que lutem para que sejam respeitados. Não nos podemos calar, nem subjugar aos interesses económicos. Contestar de forma individual não é a melhor solução. É importante a mobilização dos colegas de trabalho para a luta que é para o bem de todos, em que a resistência e a convicção daquilo em que acreditamos vai levar à destruição da mentalidade capitalista. A JOC continuará firme na defesa e respeito pelos trabalhadores, não hesitará em denunciar mais casos em que o respeito pela dignidade da pessoa não seja cumprido e continuará a desafiar especialmente os jovens para uma intervenção mais esclarecida no seu meio. Juventude Operária Católica/Porto

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