João Paulo II condena recurso à violência nos conflitos internacionais

Audiência ao Corpo diplomático na Santa Sé aponta desafios para a comunidade intenacional: defesa da vida, paz, liberdade e pão para todos João Paulo II manifestou-se hoje contra o recurso à violência nos conflitos internacionais no seu discurso ao Corpo diplomático creditado junto da Santa Sé, um dos mais importantes do ano. “À prepotência deve contrapor-se a razão, ao confronto da força o do diálogo, às armas apontadas as maõs estendidas”, disse o Papa, falando nos “caminhos da paz”. Aos embaixadores reunidos no Vaticano, João Paulo II assegurou, ainda, que continuará a “intervir para indicar os caminhos da paz e convidar a percorre-los com coragem e paciência”. O desafio da paz foi um dos quatro apresentados pelo Papa como as prioridades da comunidade internacional para o ano que agora começa. Os outros foram a defesa da vida, a liberdade e pão para todos. Considerando que a paz “condiciona a obtenção de muitos outros bens”, João Paulo II condenou as guerras e conflitos armados que “de um extremo ao outro do globo causam inumeráveis vítimas inocentes e são origem de muitos outros males”. O olhar do Papa dirigiu-se de forma especial para os países do Médio Oriente, África, Ásia e América Latina, “nos quais o recurso às armas produz danos materiais incalculáveis, fomenta o ódio e aumenta as causas da discórdia”. A estes acontecimentos, que foram classificados como trágicos, João Paulo II acrescntou o “flagelo do terrorismo”, com uma dimensão planetária, “cruel e desumana”. O cenário apresentado neste discurso é atenuado por gestos e sinais de paz, vindos eles próprios de todo o mundo: a reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nairobi, a cimeira sobre a emergência humanitária no Darfur e a situação na Somália, a Conferência Internacional sobre a região dos Grandes Lagos… João Paulo II saudou de forma mais efusiva o que considera serem os sinais positivos vindos da Terra Santa. Sem nunca se referir a Abu Mazen, novo líder da Autoridade Palestiniana, o Papa assegurou que “no Médio Oriente, essa terra tão querida para os crentes no Deus de Abraão, parece atenuar-se o cruel confronto das armas e abrir-se uma saída política para o diálogo e a negociação”. O alargamento da União Europeia durante 2004 foi considerado pelo Papa como um exemplo de que a paz é possível: “nações que em tempos eram cruelmente inimigas e se defrontaram em guerras mortais estão hoje juntas na UE”, assinalou. A possível adesão da Turquia não foi abordada directamente, embora o discurso papal tenha destacado que a UE “permanece aberta a acolher outros Estados, dispostos a aceitar as exigências que a sua adesão implica”. Cenário de crise A violência e o terrorismo não foram os único elementos enumerados pelo Papa no cenário de crise que traçou para a nossa humanidade. As catástrofes naturais, de modo especial a tragédia na Ásia, serviram para que João Paulo II lembrasse o princípio do “destino universal dos bens”, apelando á generosidade de todos. O drama da fome, que todos os anos mata milhões de crianças, foi considerado pelo Papa como um desafio a que é preciso fazer frente “com uma forte mobilização moral da opinião pública e mais ainda dos responsáveis políticos, sobretudo nos países que atingiram um nível de vida satisfatório e próspero”. O discurso abordou ainda a necessidade de garantir, em todo mundo, “a liberdade de religião”, sublinhando que em alguns Estados “esse direito não é suficientemente reconhecido ou não o é de maneira apropriada”. Sobre o desafio da vida, o Papa recordou posições contrárias ao aborto, à investigação com células estaminais embrionárias ou a clonagem, vincando que “o embrião humano é um sujeito idêntico à criança que vai nascer e às que já nasceram”. A defesa da vida implica ainda a “defesa da família”, com João Paulo II a contestar fortemente os projectos legislativos tendentes a legalizar as uniões homossexuais, projectos esses que considerou “ditados por uma visão restritiva e inatural do homem”. João Paulo II privilegiou, ao longo do seu longo Pontificado, uma abertura diplomática a todos os povos e durante a sua liderança quase duplicou o número de países com os quais a Santa Sé mantém normais relações diplomáticas ao nível de Nunciatura Apostólica: dos 92, no início do pontificado (incluindo a Ordem Soberana de Malta, que tem a sua sede em Roma), passou para os actuais 176 (174 estados, a União Europeia e a Ordem de Malta); além disso há duas Missões de carácter especial: a missão da Federação Russa e o secretariado da Organização para a Libertação da Palestina. No decorrer do ano de 2004, a Santa Sé assinou vários acordos internacionais, com destaque para a nova Concordata com Portugal, a 18 de Maio. A Eslováquia, a Eslovénia, o Paraguai e duas regiões da Alemanha foram outros que negociaram acordos específicos com a Santa Sé.

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