Margarida Vaz Pinto sonhava ser mãe «de muitos filhos», até que participou na JMJ Madrid 2011 e hoje é religiosa na Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus
Lisboa, 23 nov 2022 (Ecclesia) – Margarida Vaz Pinto, religiosa das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, mudou a sua vida depois de participar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2011, em Madrid, e diz que a JMJ Lisboa 2023 pode ser uma “oportunidade” para a Igreja em Portugal “abrir horizontes”.
“As jornadas pode ser uma oportunidade para abrir horizontes, para nos abrirmos ao mundo e para acolher cada um na sua diferença. A Igreja em Portugal ainda é de iguais, onde a diferença não tem muito lugar. A JMJ em Portugal pode ser uma grande oportunidade para cada um se abrir e acolher a diferença”, explica à Agência ECCLESIA.
Foi na edição das JMJ de 2011 que Margarida Vaz Pinto ouviu o Papa Bento XVI desafiar os jovens para descobrirem a sua vocação na sociedade e na Igreja, “e a perseverar nela”.
“Aquelas palavras foram para mim apesar de na altura eu ter muita dificuldade em aceitar isso. Foi nessa altura que me vem, pela primeira vez à cabeça, a opção de a minha vida passar pela vida consagrada”, recorda.
Inundada por “medo e pânico”, Margarida não reagiu bem a essa inquietação, até porque “pensava ser mãe de muitos filhos”.
De regresso a Portugal, pensou que a inquietação “acalmaria” mas tal não aconteceu.
“Eu cheguei a Portugal e no voltar à vida normal percebi que estava diferente, que havia uma questão forte que me habitava e tinha de olhar para ela. Ao mesmo tempo, quando regressei das Jornadas e a questão da vocação se tornou presente, trouxe também outra pergunta, porque conheci uma pessoa de quem me fui aproximando e tinha medo de o magoar”, explica.
Ao perceber que a sua vocação se concretizava na vida religiosa e na Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, Margarida Vaz Pinto vai estudar Teologia, em França, e durante cinco anos conhece outra forma de ser e construir a Igreja.
Foi um caminho tardio e já depois de entrar para as Escravas que fui desconstruindo a tradição religiosa em que cresci e conheci. Ao contrário de uma realidade mais tradicional portuguesa, em França o questionar a fé está muito presente, o procurar perceber o sentido de cada coisa. Em Portugal estamos ainda atrás. Em Paris senti-me obrigada a ter perguntas. Não que eu não as tivesse, mas não me passava pela cabeça formulá-las. Foi um tempo muito importante em que eu pude perceber o porquê de cada coisa, o questionar e procurar o significado das coisas em que eu acreditava”
Hoje, a irmã Margarida Vaz Pinto vive na comunidade da Fonte da Prata, na Diocese de Setúbal.
“É um bairro onde vivem pessoas de muitos países diferentes, onde chegam constantemente pessoas novas e de onde partem constantemente pessoas para procurar melhores condições de vida. São famílias numerosas e com grande número de crianças e jovens, é um bairro onde facilmente nos sentimos em casa e em família”, refere.
A religiosa integra o projeto ‘Tasse’, que tem por objetivo promover a inclusão escolar, e acompanhar crianças, jovens e famílias.
“Queremos que se sintam amados, valorizados e com perspetivas de futuro, que sinta que tem um lugar no mundo e na sociedade, que pode sempre ser mais. Cada um tem muito de bom para dar e ajudamos a puxar pelo lado bom que cada um tem”, declara.
O sonho de cuidar e de ser mãe de muitos, Margarida Vaz Pinto concretiza-o agora junto das muitas crianças que acompanha e procura valorizar.
“Deus parte dos nossos sonhos e do que somos. Este sonho foi-se transformando na minha vida. Hoje o meu sonho não é ser mãe de muitos filhos, mas pôr o meu lado maternal – que é muito forte – ao serviço das crianças, jovens e pessoas que me são confiadas. Não sou mãe de filhos biológicos mas sou mãe de muitos filhos e muitas vezes sinto, por algumas pessoas, o que uma mãe sente por um filho”, observa.
A conversa com a irmã Margarida Vaz Pinto pode ser acompanhada esta madrugada, depois da meia-noite, no programa Ecclesia na Antena 1 da rádio pública, ficando disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».
LS