«Jesus de Nazaré» entre fé e história

Livro de Bento XVI dedicado à infância de Cristo encerra trilogia que procura «reabilitação» dos evangelhos

Lisboa, 21 nov 2012 (Ecclesia) – O livro final da trilogia do Papa sobre ‘Jesus de Nazaré’ chega hoje às bancas, encerrando o projeto assumido pelo teólogo e intelectual alemão de, através da obra, reabilitar a credibilidade dos evangelhos e da figura de Cristo.

“Jesus não nasceu nem apareceu em público no indefinido ‘uma vez’ típico do mito, mas pertence a um tempo, que se pode datar com precisão, e a um ambiente geográfico exatamente definido”, escreve Bento XVI no novo volume, intitulado ‘A infância da Jesus’.

À imagem do que fizera em 2007 e 2011, nos primeiros livros desta obra de reflexão bíblica e teológica que começou a redigir em 2003, Joseph Ratzinger centra-se na figura de Cristo que é apresentada pelos evangelhos canónicos (os quatro reconhecidos pela Igreja Católica), considerando estes livros como as principais fontes credíveis para chegar ao Jesus ‘real’.

O autor sustenta que as narrações dos evangelistas Mateus e Lucas “não são formas mais desenvolvidas de mitos”, mas “história real, sucedida, embora certamente interpretada e compreendida com base na Palavra de Deus”.

O volume divide-se em quatro capítulos e aborda o arco histórico que começa na apresentação da genealogia de Jesus e termina na sua separação e reencontro com os pais, em Jerusalém, aos 12 anos.

Em causa estão 180 versículos dos capítulos iniciais dos evangelhos segundo São Mateus e São Lucas, as únicas referências aos primeiros anos da vida de Jesus que se encontram na Bíblia.

“Mateus e Lucas, cada um à sua maneira, queriam não tanto narrar ‘histórias’, mas escrever história”, indica o Papa.

As críticas aos limites das análises literárias e históricas que têm sido feitas aos evangelhos repetem-se ao longo do livro, no qual Bento XVI escreve que a exegese moderna ainda não encontrou “uma resposta convincente” para algumas questões.

O Papa remete a origem dos relatos sobre a infância para a “tradição familiar”, tornada pública “só depois da morte de Maria”.

A virgindade da mãe de Jesus, como a ressurreição de Cristo, é apresentada pelo autor como um “escândalo para o espírito moderno” e, do ponto de vista dos crentes, como “verdadeiro critério da fé”.

Numa secção do livro, intitulada ‘O parto virginal: mito ou verdade histórica?’, Joseph Ratzinger frisa que este dogma da fé católica não é apenas uma reelaboração de antigas lendas gregas ou egípcias.

“A palavra criadora de Deus, sozinha, realiza algo novo. Jesus, nascido de Maria é plenamente homem e plenamente Deus, sem confusão e sem divisão”, precisa.

Bento XVI escreve ainda sobre as questões que se levantaram a São José, “juridicamente” pai de Jesus, perante a gravidez de Maria e elogia a sua capacidade de acolher uma “mensagem nova, inesperada e humanamente incrível, que lhe virá de Deus”.

O livro reflete sobre a “origem” de Jesus e parte da pergunta feita, antes da condenação à morte de Cristo, pelo governador romano Pôncio Pilatos: “Donde vens tu?”.

“A origem de Jesus, o seu ‘donde’ é o próprio ‘princípio’, a causa primeira, da qual tudo provém; a ‘luz’ que faz do mundo um cosmos”, declara o Papa.

“Jesus vem de Deus; Ele é Deus”, prossegue.

A Agência ECCLESIA pré-publica várias passagens do livro que chega a Portugal pela mão da Princípia, que a edita nas versões impressa, eletrónica e áudio; a nível internacional, a obra tem uma tiragem inicial de mais de um milhão de exemplares, em oito línguas.

OC

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