«Jesus de Nazaré»: Cristianismo é mais do que uma moral

Bento XVI admite ênfase excessiva na questão do «regramento no âmbito sexual»

Lisboa, 10 Mar (Ecclesia) – Bento XVI defende no seu novo livro, hoje publicado, que o cristianismo é mais do que “uma moral, uma espécie de «rearmamento» ético”, porque tem como ponto central “o dom do encontro com Deus em Jesus Cristo”.

Na obra «Jesus de Nazaré. Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição», o Papa assinala que a “exegese liberal” afirmou que Jesus “teria substituído a concepção ritual da pureza pela moral: no lugar do culto e do seu mundo, entraria a moral”.

Na fé cristã, observa, “é o próprio Deus encarnado que nos purifica verdadeiramente, e atrai a criação unindo-a a Deus”.

A reflexão de Bento XVI aborda o “conceito de pureza”, sublinhando que a devoção do século XIX o tornou “ unilateral” reduzindo-o cada vez mais à “questão do regramento no âmbito sexual”, “fazendo desconfiar da esfera material, do corpo”.

Segundo o Papa, é a “palavra” de Jesus que purifica e o amor é “o processo da passagem, da transformação, da saída dos limites da condição humana votada à morte”.

“A «hora» de Jesus é a hora da grande «passagem para mais além», da transformação, e esta metamorfose do ser realiza-se através da agápe (um dos termos gregos para a palavra amor, ndr)”, escreve.

Comentando o gesto de lavar os pés aos discípulos, realizado por Cristo, o Papa sublinha que “solicitação para fazer o que fez Jesus não é um apêndice moral do mistério ou sequer algo em contraste com ele”.

“O «mandamento novo» não consiste simplesmente numa exigência nova e superior – está ligado à novidade de Jesus Cristo, à crescente imersão n’Ele”, prossegue.

Neste contexto, Bento XVI alude à negação de Pedro, uma “mesquinha forma de táctica” num momento de ameaça, perante a prisão de Jesus, considerando que o primeiro Papa teve de “aprender a humildade do discípulo”.

O Papa liga ainda o texto do lava-pés à confisão: “Uma vez que também continuam a ser pecadores, os baptizados têm necessidade da confissão dos pecados que «nos purifica de toda a iniquidade»”.

A segunda parte de «Jesus de Nazaré» vai ser apresentada hoje no Vaticano, em conferência de imprensa, com a presença do cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, e de Claudio Magris, escritor e germanista.

Toda a obra começou a ser elaborada nas férias de 2003, antes da eleição de Joseph Ratzinger como Papa.

OC

 

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