Francisco evoca exemplo dos mártires do arquipélago
Tóquio, 23 nov 2019 (Ecclesia) – O Papa apresentou-se hoje aos bispos católicos do Japão como um “missionário”, que cumpre o sonho antigo de anunciar a fé cristã no arquipélago, prestando homenagem aos seus mártires.
“Não sei se sabeis, mas desde jovem senti simpatia e estima por estas terras. Passaram-se muitos anos desde aquele impulso missionário, cuja realização se fez esperar. Hoje, o Senhor dá-me a oportunidade de estar no vosso meio como peregrino missionário seguindo os passos de grandes testemunhas da fé”, declarou, na sede da Nunciatura Apostólica, poucos minutos após a sua chegada a Tóquio, debaixo de chuva e vento.
Francisco referiu que se passam 470 anos desde a chegada dos primeiros missionários, evocando a figura de um jesuíta, São Francisco Xavier.
“Quero unir-me convosco para dar graças ao Senhor por todos aqueles que, ao longo dos séculos, se dedicaram a semear o Evangelho e a servir o povo japonês com grande unção e amor; tal dedicação conferiu uma fisionomia muito particular à Igreja japonesa”, indicou.
Após uma vaga de perseguições nos séculos XVI e XVII, o Cristianismo foi oficialmente banido do Japão; os que se mantiveram cristãos tiveram de praticar a sua fé em segredo durante mais de dois séculos.
“Pensemos também nos ‘cristãos escondidos’ da região de Nagasáqui, que mantiveram a fé durante várias gerações graças ao batismo, à oração e à catequese. Autênticas Igrejas domésticas que resplandeciam nesta terra, talvez sem o saberem, como espelhos da Família de Nazaré”, disse o Papa.
O Papa recordou também os mártires São Paulo Miki e seus companheiros e o Beato Justo Takayama Ukon, que, no meio de muitas provações, deram testemunho até à morte.
“O ADN das vossas comunidades está marcado por este testemunho, antídoto contra todo o desespero, que nos indica a estrada para onde encaminhar-se. Sois uma Igreja que se manteve viva pronunciando o Nome do Senhor e contemplando como Ele vos guiava no meio da perseguição”, declarou.
Uma Igreja de mártires, referiu Francisco, pode falar com maior liberdade, especialmente quando aborda questões urgentes como a paz e a justiça.
“Em breve, visitarei Nagasáqui e Hiroxima, onde rezarei pelas vítimas do catastrófico bombardeamento destas duas cidades e darei voz aos vossos próprios apelos proféticos em prol do desarmamento nuclear. Desejo encontrar-me com os que sofrem ainda as feridas daquele trágico episódio da história humana, bem como as vítimas do ‘tríplice desastre’”, em Fucuxima, adiantou.
O Papa falou ainda do elevado número de suicídios, no Japão, bem como ao bullying e várias formas de “alienação e desorientação espiritual”, particularmente entre os jovens.
A 32ª viagem internacional do pontificado começou na quarta-feira, na Tailândia, e prossegue até ao próximo dia 26.
OC
Ásia: Japão recebe o Papa que sonhava ser missionário no arquipélago