Ásia: Japão recebe o Papa que sonhava ser missionário no arquipélago

Francisco leva mensagem pelo desarmamento nuclear e de homenagem aos mártires da minoria católica

Tóquio, 23 nov 2019 (Ecclesia) – O Papa chegou hoje ao Japão, segunda etapa da sua 32ª viagem internacional, iniciada na Tailândia, com mensagens em favor do desarmamento nuclear e de homenagem aos mártires da minoria católica.

Na tradicional mensagem vídeo enviada antes da visita, Francisco condenou o uso de armas nucleares, que considerou “imoral”.

A única visita de um Papa ao Japão, até hoje, tinha acontecido em 1981, no pontificado de São João Paulo II.

A viagem inclui, este domingo (madrugada e manhã em Lisboa), passagens pelos locais atingidos por bombas atómicas durante a II Guerra Mundial, Nagasáqui e Hiroxima; já na segunda-feira, em Tóquio, decorre um encontro com as vítimas do chamado “triplo desastre” de 2011 -– terramoto, tsunami e acidente nuclear em Fucuxima.

A 9 de agosto de 1945, a bomba “Fat Man” causou a morte instantânea de cerca de 70 mil pessoas em Nagasáqui, além dos efeitos da radiação nos anos seguintes.

Esta é uma cidade central para a história do catolicismo nipónico e tinha, até à explosão atómica, a maior catedral do país, que foi reconstruída em 1959, mantendo no seu interior uma imagem da Virgem Maria que resistiu às radiações.

O Papa vai prestar uma homenagem às vítimas da bomba e fazer um discurso junto ao memorial de mármore preto em sua memória.

Já em Hiroxima, Francisco visita o Memorial da Paz, acompanhado por 20 vítimas do primeiro ataque atómico, numa área destruída pela bomba lançada pelo avião Enola-Gay a 6 de agosto de 1945.

Como jovem jesuíta, Jorge Mario Bergolgio tinha o sonho de ser missionário no Japão, seguindo os passos de outro membro da Companhia de Jesus: o país foi evangelizado por São Francisco Xavier, entre 1549 e 1552, a pedido da Coroa Portuguesa.

Poucas décadas depois, a comunidade católica vivia uma fase de perseguição: os primeiros mártires foram crucificados em Nagasáqui em 1597; entre eles contava-se o português São Gonçalo Garcia, canonizado em 1862 por Pio IX.

Outros 205 católicos foram beatificados em 1867, entre eles sete portugueses: João Baptista Machado, Ambrósio Fernandes, Francisco Pacheco, Diogo de Carvalho e Miguel de Carvalho (todos da Companhia de Jesus), Vicente de Carvalho (religioso agostinho), e Domingos Jorge (leigo, cuja esposa japonesa e filho também foram martirizados).

Em Nagasáqui, Francisco vai prestar homenagem aos missionários que evangelizaram o território nipónico.

Os portugueses foram definitivamente expulsos do Japão em 1639 e o Cristianismo nipónico entrou numa vivência de clandestinidade, que se prolongou até à reabertura do império ao Ocidente, na segunda metade do século XIX.

Privados do clero e das igrejas, e apesar dos massacres, alguns leigos japoneses conseguiram sobreviver, transmitindo a fé em segredo de geração em geração, sendo hoje conhecidos como “kakure kirishitan” – cristãos escondidos.

Atualmente, os católicos no Japão são 536 mil, correspondendo a 0,42% de uma população de mais de 126 milhões de habitantes, no arquipélago.

A Igreja possui 16 circunscrições eclesiásticas, 859 paróquias, 102 centros pastorais de diferentes tipos, servidos por 29 bispos, 511 sacerdotes diocesanos, 896 sacerdotes religiosos, 29 diáconos permanentes, 173 religiosos não sacerdotes, 4976 religiosas, 174 membros de institutos seculares, 1307 catequistas e 80 seminaristas.

A Missa que o Papa vai presidir em Tóquio, no dia 25, conta com uma leitura em língua portuguesa; os participantes vão rezar por todas as vítimas de acidentes nucleares.

O padre Adelino Ascenso, que foi missionário no Japão, disse que a presença do Papa no país é um “estímulo” para todos os japoneses e considera que a Ásia tem de ser “um dos centros principais” da renovação da Igreja Católica.

“Um dos centros principais da Igreja, que necessita de ser renovada permanentemente, tem de ser o continente asiático”, afirmou o superior-geral da Sociedade Missionária da Boa Nova em declarações à Agência ECCLESIA.

OC

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