Irmã Lúcia: Vice-postuladora defende seriedade do processo de beatificação

«Vasta documentação» continua a ser estudada dez anos depois da morte da religiosa portuguesa

Lisboa, 12 fev 2015 (Ecclesia) – A vice-postuladora da causa de canonização da Irmã Lúcia, vidente de Fátima, defendeu em entrevista à Agência ECCLESIA que a “vasta documentação” da religiosa tem prolongado a fase diocesana, primeira etapa do processo, realçando a seriedade deste trabalho.

“A vasta documentação é um desafio. Obviamente que estamos todos muito ansiosos pela sua beatificação, mas eu penso que a Irmã Lúcia merece um estudo muito aprofundado e rigoroso, não só para a questão histórica, que é muito importante, mas concomitantemente, para a sua dimensão espiritual”, refere a irmã Ângela Coelho, em declarações que integram a mais recente edição do Semanário ECCLESIA.

A fase inicial do processo de beatificação começou em 2008, três anos após a morte da Irmã Lúcia, depois de o agora Papa emérito Bento XVI ter concedido uma dispensa em relação ao período de espera estipulado pelo Direito Canónico (cinco anos).

Os trabalhos incluem a recolha de documentação, entrevistas a testemunhas que conviveram com a religiosa e a análise dos seus escritos por teólogos.

“Creio que prestamos um melhor serviço à própria Lúcia, à sua santidade e características, se estudarmos bem a documentação que existe”, sustenta a irmã Ângela Coelho, que em setembro de 2014 foi nomeada vice-postuladora da causa de canonização da Irmã Lúcia pelo postulador geral dos Carmelitas, o padre Romano Gambalunga.

A irmã Ângela Coelho é também postuladora da causa de canonização dos pastorinhos Beatos Jacinta e Francisco Marto, os irmãos que, juntamente com Lúcia, segundo o testemunho reconhecido pela Igreja Católica, presenciaram as aparições da Virgem Maria na Cova da Iria, entre maio e outubro de 1917.

Segundo esta responsável, o processo para a beatificação da Irmã Lúcia tem de levar em conta que se está na presença de “uma mulher que viveu quase 98 anos, que se correspondeu com Papas, desde Pio XII até João Paulo II, com cardeais, bispos, com pessoas que agora são beatos como Teresa de Calcutá, José Maria Escrivá, Álvaro del Portillo”.

“Lúcia escreveu a irmãos de outras confissões religiosas e a milhares e milhares de pessoas, que agora nos começam a devolver as respostas que a Lúcia deu – conseguimos recolher mais de 11 mil cartas -, o que torna o processo complexo”, admite.

No centro desta documentação, um “espólio enorme”, revela, está um “trabalho de difusão da mensagem de Fátima.

“É muito e tem de ser estudado por todos os membros da comissão histórica mas também por dois sensores teólogos que nos garantam que nada do que a Lúcia escreveu está contra a fé da Igreja, contra a doutrina, costumes e moral e que nos façam entender qual o perfil espiritual da mulher que está por detrás das cartas”, explica a vice-postuladora.

A irmã Ângela Coelho precisa que o processo de beatificação não está centrado nas aparições nem no facto de Lúcia ser uma vidente.

“Depois da experiência de 1917, sabemos que a Irmã Lúcia teve outras aparições de Nossa Senhora e do céu – a famosa sétima aparição que Nossa Senhora disse vir a acontecer, em 1921, no dia 15 de junho”, observa.

Segundo, a responsável, o essencial para a causa de canonização é que “Lúcia obedeceu”.

“Quando o bispo lhe pede algo, Lúcia consulta Nosso Senhor e escreve. É mais o sentido de perceber como é que ela foi vivenciando estes momentos”, relata.

Os anos de clausura da religiosa portuguesa levaram até ao Carmelo de Coimbra mais de 70 mil cartas, a que a Irmã Lúcia respondeu.

“Ela lidou com pessoas humildes, estrelas de cinema, Papas, reis. É incrível como todo o sofrimento do século XX passa por aquele coração”, conclui a irmã Ângela Coelho.

A vice-postuladora da causa vai intervir hoje na evocação do 10.º aniversário da morte da irmã Lúcia, no Convento de Santa Teresa, em Coimbra.

O programa, com conferências e momentos de oração, conta com a participação do também vice-postulador da causa, padre Aníbal Castelhano; do diretor do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte; do provincial dos Carmelitas Descalços, padre Joaquim Teixeira; e do reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas.

LS/OC

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