Inventário na Diocese do Porto

Uma experiência de trabalho de catalogação e de criação de bases digitais, face às novasl exigências culturais Na sequência da Carta circular da Comissão Pontifícia (1999) sobre a “necessidade e urgência” do Inventário/Catálogo, por um lado, e do alcance cultural e pastoral desta iniciativa, por outro, após diversos debates, estudos e investigações e diversos ensaios e realizações avulsas, com muito mérito, houve, para a diocese do Porto – importa sublinhar –, um momento histórico nesta área: a reunião do Conselho Presbiteral de Outubro de 2004. Ouvida uma longa exposição sobre o assunto e após debate entre os membros do Conselho, o Senhor Bispo do Porto, mandou que se fizesse o Inventário de forma ajustada e tecnicamente correcta, pois que essa era obrigação da Igreja. Indigitou o sacerdote que fez a dita exposição, para assumir a responsabilidade do Inventário da diocese e formar equipa. Entretanto (2005), a CCDRN (1) criava um projecto financiado de inventariação e catalogação dos bens culturais móveis da Igreja, nas áreas da ourivesaria, paramentaria, escultura e pintura, tendo para isso convidado as seis dioceses da Região Norte no sentido de apresentarem as respectivas candidaturas. Apesar de limitado, foi, sem dúvida, uma grande oportunidade para lançar a acção desejada pelo Senhor Bispo e Conselho Presbiteral da Diocese do Porto. Finalmente, o Inventário/Catálogo deixava de ser um conjunto de acções isoladas, desconexas, porque voluntaristas e subjectivas. Com efeito, o referido projecto previa parâmetros concretos de intervenção e execução, princípios e formas de actuação e, sobretudo, procedimentos muito estritos de monitorização e avaliação. Assim, de 2006 a Junho de 2007, foram inventariadas 100 paróquias e elaboradas 5.000 fichas de catálogo digital e realizaram-se diversas acções de informação e formação, ao nível de toda a diocese, contando com uma notável afluência de público interessado (não apenas local, mas de toda a diocese, quer da Igreja quer da Sociedade civil). Os próprios media deram-se conta disso e difundiram-no amplamente. Concebemos um método, já amadurecido, com a nossa própria experiência, ao longo de muitos anos (desde os finais da década de 80), e criámos procedimentos para abordarmos este projecto, de forma que pudesse ter, não só continuidade, como futuro desenvolvimento, numa perspectiva de melhoria contínua. Contactamos algumas Vigararias (Arciprestados), seleccionadas preferentemente seguindo um critério de acessibilidade periférica (as paróquias mais distantes do Porto). Houve um encontro prévio com os padres de cada Vigararia seleccionada (Párocos e reitores) e expôs-se detalhadamente o projecto, em todas as suas vertentes. Tal encontro teve em vista assegurar que os padres abraçassem e se sentissem implicados nesta acção de inventariação. Era nossa convicção que tal operação de inventariação deveria ter expressão e dimensão e, por isso, ultrapassar o âmbito paroquial, demasiado restrito e pouco expressivo para o efeito. Além disso, não seria propriamente inovação na prática pastoral da Igreja que sempre (e hoje muito mais) privilegiou a pastoral de conjunto. Também, frequentemente, do ponto de vista cultural e artístico, se reflectem, nessa forma de actuação, afinidades e tipologias comuns e, dado o tendencial ou mesmo já efectivo fenómeno da mobilidade e de outras mais profundas alterações configuradoras de paróquias e freguesias (mesmo que não executadas), este procedimento pareceu o mais ajustado. Evidentemente que o projecto aprovado, com apoio de fundos comunitários, era pequeno, mesmo exíguo, para a grandeza da diocese, com 34 Vigararias e 477 paróquias. Tinha, contudo, a vantagem de ter uma dimensão ajustada ao Departamento a criar (2), com recursos humanos e financeiros escassos, e de potenciar uma melhor personalização da acção. Por outro lado, era necessário que este projecto corresse bem, no sentido de implementar um sistema de normas, procedimentos e modelos comuns a toda a diocese e, sobretudo, que provocasse o interesse e entusiasmo das paróquias pela valorização, recta utilização e divulgação do seu património. A possibilidade da recusa do projecto por parte das Vigararias (até porque incluía uma participação financeira das paróquias) esteve prevista e foi equacionada. A oportunidade oferecida era, por isso mesmo, única: escolher 6 Vigararias, num conjunto de 34. Na reunião de Vigararia, foi lembrada aos párocos a sua obrigação de ter o inventário dos bens culturais actualizado. Tal dever era-lhes imposto quer pelo Código de Direito Canónico (cf. Can. 1283) (3), quer pelo Bispo diocesano (decreto [4] de 1993), quer por diversas determinações da Igreja, nomeadamente pela Carta circular da Comissão Pontifícia para os bens culturais da Igreja de 1999. Foi-lhes anunciado e sobejamente esclarecido que se tratava de uma nova forma de fazer o Inventário, com recurso à informática, de molde a ser possível afectar todos os seus objectivos, nomeadamente a divulgação e gestão do património, em perspectiva pastoral. Tal forma de operar era confirmada e vinha sendo recomendada pela referida Comissão pontifícia o Inventário/Catálogo digital (5). Explicaram-se, detalhadamente, as finalidades, o modo de actuar e as obrigações (mesmo as de carácter financeiro) dos párocos, das paróquias e da diocese, envolvidas nesta acção. Base digital Os inventários (no sentido de simples registo) serão um mínimo exigível, mas estão longe de permitirem a expressão e expansão de todas as valências dos bens culturais. Hoje, já não correspondem às mínimas exigências culturais e ao necessário investimento em recursos humanos. Em poucos anos, deixou-se de falar em Inventário e passou-se a falar em Catálogo; depois em Inventário/Catálogo; e, finalmente, em Base de dados e Catálogos. Sem dúvida que, neste processo, tiveram influência decisiva os desenvolvimentos tecnológicos ao nível da informática e da telemática. Fazer um catálogo digital não é passar uma ficha de papel para um computador (6). É utilizar um programa digital específico que contém uma interminável (?) possibilidade de campos de pesquisa, em que os aspectos descritivos serão, progressivamente, reduzidos, em favor dos enumerativos, tanto no que respeita ao objecto, à matéria e às técnicas, ao conjunto e ao contexto, à categoria e à tipologia, à função e à significação, ao tempo e ao espaço e a todas as espécies de relações sofridas ou produzidas, etc. Julgamos que, neste campo, ainda se está a dar os primeiros passos, mas há já algumas sugestões interessantes (7). O inventário fora, por isso, uma realidade que começava e acabava. Só precisaria de ser actualizado quando se acrescentava uma nova peça ou se perdia uma existente. Era, digamos, um sistema fechado. Uma base de dados é um sistema aberto. Dificilmente será possível ser concluída (não me refiro, propriamente, ao número de objectos). A dificuldade está mais na complexidade dos campos de definição (e, em parte, no desenvolvimento da própria informática aplicada a este âmbito dos bens culturais) e nas exigências de estudo e investigação. Mas este é, com certeza, o futuro! Pensar de outro modo será perda de tempo e de dinheiro… A Base de dados digital é imprescindível para uma gestão interessante, sapiente, útil e pedagógica dos bens culturais de qualquer instituição. Esta Base de dados não deverá estar acessível a todos indiscriminadamente. Dela sairão catálogos com diversas finalidades: divulgação, segurança, estudo e investigação, pedagogia cultural, educação, evangelização, etc… que permitirão interacção, a ponto de se ir criando o que hoje se costuma chamar “museu difundido”, numa determinada Região ou num País, numa Diocese ou numa Vigararia, permitindo identificar ou confrontar, individualizar ou associar, etc. … Eis um projecto cheio de promessas bem interessantes e com capacidade de contribuir para o desenvolvimento cultural e espiritual, para uma verdadeira humanização e com múltiplas possibilidades de aplicação a uma nova evangelização (8). A reacção, sobretudo no primeiro encontro, não foi igual em todas as Vigararias: desde o silêncio ao entusiasmo, passando pela hesitação. Entretanto, os dados estavam lançados e, no caso dos duvidosos, a solução deveria passar por outras Vigararias. Diante disto, ninguém quis ficar excluído (até porque as despesas eram distribuídas pelo projecto comunitário aprovado). Um aspecto imprescindível era a formação de equipas de voluntários. Estas equipas serão sempre da responsabilidade do Pároco (pessoas da sua total confiança). São elas que farão a ponte entre a intervenção exterior (o técnico de inventário, da responsabilidade da equipa diocesana) e a comunidade. Compete-lhes dinamizar a comunidade. Podem (devem mesmo) ser constituídas por pessoas de diversas idades, de diferentes profissões, sensibilidades, formações académicas, disponibilidades. Cada vez mais, ao nível de outros países europeus se valoriza o voluntariado (não apenas o religioso e social), nesta área patrimonial. Esta diversidade é muito oportuna e útil para a multiplicidade de tarefas que a cultura e a pastoral dos bens culturais requerem. Esta presença dos voluntários na acção não é apenas útil para a execução do inventário (abertura das igrejas, recolha de informações, testemunhos orais e tradições, de peças dispersas ou guardadas por particulares, envolvimento das populações, salvaguarda dos bens culturais, guarda e arranjo das igrejas, manipulação de peças, criação de novas mentalidades, introdução de boas práticas, promoção e valorização dos bens culturais, etc.), mas para a sua própria formação e, consequentemente, criação de um voluntariado consciente e responsável, dinamizador e formador do seu meio social (9). O envolvimento das comunidades, neste e noutros projectos que lhes dizem respeito, é absolutamente essencial, digamos, imprescindível. Compete também às comunidades cristãs, em comunhão com os seus párocos, salvaguardar, defender e conservar os seus bens culturais, como um legado, uma memória, um testemunho actualizado da sua fé, do evangelho que vivem e que tais bens consignam. Nunca pensaríamos numa acção tão importante, tão decisiva, na vida de uma comunidade, ignorando a própria comunidade. De mais a mais, conhecendo o seu património, a comunidade conhece-se melhor a si mesma, aprende e é estimulada a viver, hoje, a fé de sempre, deixando-se imbuir pelos critérios de qualidade e de esplendor que o património recebido lhe transmite. Foi possível apurar que, entre os leigos, há mais interesse (em muitos casos, verdadeiro amor) pelos bens culturais da igreja que o que se supunha. Relativamente a esta acção nas 100 paróquias destacaram-se 232 voluntários. Contudo a tarefa é demasiado importante e complexa para que possa ser deixada nas mãos de voluntários. Há questões técnicas diversas e complexas, difíceis de solucionar em diversos âmbitos que nos obrigam a não dispensar os peritos, quanto possível, os melhores. Se a acção não tiver isto em conta será um fracasso. Assim, o projecto deverá ser conduzido por técnicos superiores que actuarão no âmbito da Vigararia e que, em cada paróquia, deverão ser apoiados por uma equipa de voluntários (se possível, pelo menos alguns, com alguma formação académica). Estes voluntários deverão receber alguma, ainda que sumária, formação específica, de acordo com as matérias a abordar (escultura, pintura, paramentaria, etc.). Mas a acção de inventariação, repetimos, não pode ser entregue a voluntários. Esta acção insere-se na linha de uma prática secular, ininterrupta da Igreja. Podemos dizer, grosso modo, que a Igreja sempre fez inventários, pelo menos desde o séc. IV (1)0. Tal acção deve ser compreendida, primariamente, como resposta actualizada a esse secular testemunho da tradição eclesiástica. Por isso, em primeiro lugar, todos os elementos que chegaram até nós, deverão ser registados. Contudo, tal tradição eclesiástica precisa de ser actualizada, de acordo com as novas necessidades e exigências que superam o mero registo de propriedade, e visam uma superior utilidade pública (cultural e espiritual). O descaminho de muito do nosso património encontra, frequentemente, a sua raiz na perda de utilidade pública (caíram em desuso) de muitos bens culturais, mercê de sucessivas reformas do culto e da celebração litúrgica ou de adaptação a novas sensibilidades devocionais. Por isso, o conhecimento e o consequente apreço, pode, em alguns casos, restituir-lhes as funções ou atribuir-lhes outras, ao menos de história ou de memória viva e, certamente, de estímulo para novas criações. A privação do contacto com esta riquíssima tradição não tem sido benéfica. Pelo contrário, tem sido uma das principais causas da perda de património e da sua substituição pelo Kitsch que invadiu deploravelmente, nos últimos tempos, as nossas igrejas e não se vê, para já, forma de o extirpar. Hoje é já convencional considerar que o simples inventário ou registo de peças, o mínimo obrigatório, é absolutamente insuficiente e já não responde àquelas finalidades requeridas para uma utilização pastoral e cultural dos bens culturais (11). Considerando que os bens culturais da Igreja não são meros objectos de colecção (e mesmo esses), mas elementos integrados ou associados ao culto ou à piedade dos fiéis, o simples registo material pecaria não apenas pela insuficiência, mas adulteração. A dimensão imaterial associada aos objectos também deve ser registada. Método Como método é, muito importante, a nosso ver, o registo fotográfico não apenas dos objectos isolados, mas nos seus contextos, independentemente de qualquer apreciação crítica que deverá ser deixada para momento posterior. O nosso projecto contempla esta forma de catalogação (ficha de catálogo) que, evidentemente, absorve o simples inventário (ou registo). Poderia mesmo considerar-se um baixo aproveitamento de recursos humanos e materiais, reduzir a acção a um mero registo de inventário. Um elemento indispensável nesta acção é o técnico superior da área do património ou da história da arte. Para o tipo de inventário que realizamos é necessário escolher alguém formado nesta área, com cultura, sensibilidade e, sobretudo, grande abertura para o estudo e a investigação. Não podemos esconder que este desempenho não é fácil! A experiência, neste caso, conta bastante. A nossa prática diz-nos que estes técnicos ou são raros ou não existem. Esta experiência vem-nos do acompanhamento dos estagiários propostos por algumas instituições e que acolhemos com solicitude e responsabilidade (12). Este é, sem dúvida, um bom caminho, com futuro, sobretudo se os estagiários forem bem acompanhados. Normalmente, abrem-se concursos e fazem-se entrevistas, mas ficamos sempre a saber pouco das capacidades e possibilidades dos técnicos: apenas diploma e curricula, em muitos casos, restrito e teórico. Estas limitações que encontramos não são, de modo nenhum, uma censura às escolas, o que seria injusto da nossa parte. Ai de nós, então, se não houvesse tais escolas. Também para estas tarefas importa despertar vocações. Os melhores técnicos são os formados na acção, quando se apaixonam por esta área muito prática do saber. Esta tarefa é muito exigente porque requer conhecimentos aplicados em várias áreas, como história da arte, história da Igreja, história civil, teologia, liturgia e direito canónico, iconografia, arqueologia, arquitectura, paleografia, ourivesaria, mineralogia, ciência do tecido, bibliologia e outras, fotografia, topografia, cartografia, informática. Frequentemente, é necessário recorrer a peritos que possam colmatar lacunas, ajudar e formar os próprios técnicos. Eles próprios e quem gere o projecto deverão prever sessões teóricas e práticas sobre estas e outras matérias afins. A acção da inventariação/catalogação tem o seu centro no terreno, com a intervenção de um técnico de inventário e da equipa local de voluntários. A ida para o terreno do técnico é sempre precedida de uma importante preparação e investigação. Definido o lugar onde deve actuar, o técnico faz o levantamento de toda a documentação disponível, cartográfica, fotográfica, bibliográfica (registos e inventários antigos, livros de visitações, monografias, jornais, álbuns fotográficos, memórias paroquiais, etc), pesquisando em bibliotecas e arquivos. É costume dizer-lhes: já sabem o que vão encontrar, se ainda existir… Evidentemente que esta pesquisa só termina com a entrega final dos dados. De seguida, é apresentado aos párocos da Vigararia onde vai actuar, fazendo uma marcação de visita ao local, de encontro com os voluntários e planeamento das acções. O técnico superior é permanentemente avaliado não só no respeita ao número de peças catalogadas, mas quanto à qualidade do trabalho realizado. Para além da formação contínua e da avaliação, todo o processo que realiza na paróquia, colaborando com o pároco e sendo apoiado pela equipa de voluntários, será monitorizado por uma equipa diocesana que inclui, para além da gestão e coordenação, Professores universitários especializados nas respectivas áreas. O técnico vai para o “campo” munido de um computador portátil com o respectivo programa informático, máquina fotográfica digital e tripé e um kit (conjunto de peças necessárias: fita métrica, balança, luvas, máscaras, fios e fitas, flanelas, etc…). Não podemos contentar-nos com um trabalho amadorístico, absolutamente insuficiente para a tarefa que se pretende. Para acção que realizamos nas 100 paróquias, contamos com 6 técnicos superiores, para a recolha de informação no terreno, para a formação dos voluntários e para a introdução de dados em base digital. Neste mesmo sentido, foi também necessário poder contar com um Conselho científico, constituído por peritos em diversas especialidades (13). No projecto último, obtivemos esse apoio, graças à assistência de um representante do M.C., do I.P.M.C., do D.C.T.P. da Faculdade de Letras da U.P., do acompanhamento científico da U. Portucalense e da Doutora Manuela Pinto da Costa, para a paramentaria e tecidos. Outros colaboradores foram indispensáveis para a realização do projecto: um jurista, um Informático, uma empresa de programação da base de dados, um designer, técnicos de contabilidade e administração. Futuro Esta empresa do Inventário/Catálogo ou, melhor dito, de uma base de dados digital da diocese do Porto está a dar os primeiros passos. Por isso, o Bispo da diocese manifestou positivamente a vontade de que se desse continuidade. Neste momento estamos a concluir o levantamento e a composição de fichas de catálogo de duas Vigararias periféricas, no total de 24 paróquias, e a inseri-las na base de dados. Já lançamos, segundo os moldes descritos, a inventariação/catalogação de três outras Vigararias periféricas, no total de 45 paróquias. Até ao fim do ano, contamos ultrapassar as 100 paróquias. Estas afirmações parecem enfáticas, sabendo que este trabalho é dispendioso. Mas, felizmente vai havendo compreensão dos párocos para a “necessidade e urgência” e sensibilidade para a qualidade com que o trabalho é feito. Esta acção preliminar do Inventário/Catálogo, na diocese, ainda irá durar alguns anos. Sim, porque “o inventário nunca acaba” – a frase certa e inspirada que, um dia, me saiu para um canal da TV, para escândalo de alguns. Confesso que, só depois, me dei conta do que disse. Lembro que apenas estamos a fazer o inventário/catálogo dos bens móveis. E o imóvel e integrado (talha, pintura mural, azulejo, etc.)? E o restante móvel (mobiliário, alfaias e objectos, noutros materiais, alguns preciosos, instrumentos musicais, cristais, etc.)? As paróquias, onde já se realizou a 1ª acção, sabem que voltaremos a passar, após algum tempo de repouso. O projecto é para ser completado, para ficar pronto (não propriamente acabado!…). Esta metodologia pretende atingir toda a diocese, no mais curto espaço de tempo possível, colocando-a em “estado” de inventário. Esta, sem esquecer outras, é a principal acção pastoral, na área dos bens culturais da Igreja, na diocese do Porto. Com o trabalho realizado, nas mais de 100 paróquias, pensamos lançar algumas acções concretas de promoção e divulgação dos bens culturais e realizar ensaios de exposições de âmbito vicarial, elaboração de brochuras ou de guias, em vista de roteiros que incentivem as visitas às nossas igrejas que, para tal, deverão ser preparadas. Quando se fala de nova evangelização importa compreender que não foi o evangelho que mudou, mas os homens. Tem de haver novas formas, as mais adequadas para despertar os ouvidos e os olhos. Nós acreditamos que esta é uma dessas formas. Mas e apesar de tudo, gostaríamos que os cristãos, particularmente os que frequentam a igreja aos domingos, mostrassem, de forma mais sensível, o amor à sua igreja, visitando-a com mais frequência, pelo que lá se encontra: o Supremo Tesouro. Sim, é que o SUPREMO TESOURO, que os nossos maiores, carinhosa e generosamente, envolveram com o que foram encontrando de mais precioso, e que, hoje, atrai tantos outros homens e mulheres em busca de pérolas, poderá tornar-se a PRECIOSA PÉROLA que recolhem. Pe. Manuel José Dias Amorim, Coordenador do Departamento de Bens Culturais da Igreja NOTAS: 1 Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte. 2 Departamento dos bens culturais da Igreja, do Secretariado de Liturgia da Diocese do Porto. 3 A propósito deste cânone, a Comissão Pontifícia para os Bens culturais da Igreja, em Carta circular aos Bispos diocesanos, dá a seguinte explicação: «O projecto [de Inventário/Catálogo] assenta nas disposições do Código de Direito Canónico, que prescreve a necessidade de se redigir «um inventário exacto e discriminado […] dos bens imóveis e móveis, quer sejam preciosos, quer de qualquer modo respeitantes aos bens culturais, ou de outras coisas, com a sua descrição e avaliação». Daqui se passa a apresentar a oportunidade de uma descrição sempre mais completa do património historico-artístico da Igreja, nos seus componentes e contexto. De per si, as instruções do Código, embora prescrevam uma série de procedimentos de ordem administrativa ordenados à tutela, solicita, tanto na norma do cânone citado como na sua intenção geral, a realização de um inventário «accuratum ac distinctum» que favoreça a valorização eclesial do património cultural, em conformidade com a acção da Igreja, orientada para a «salus animarum». Por sua vez, a «descrição» do património em causa conduz à sua inventariação pormenorizada, estimulando também a progressiva elaboração de um catálogo». (Necessidade e urgência da inventariação e catalogação do património cultural da Igreja: Carta circular da Comissão Pontifícia para os bens culturais da Igreja [=Necessidade e urgência], Vaticano, 8 de Dezembro de 1999). 4 «Todos os párocos, reitores de igrejas, superiores de casas religiosas, provedores de irmandades, juízes de confrarias e demais responsáveis de instituições eclesiásticas a quem esteja cometida a guarda de bens da Igreja estão obrigados a fazerem o inventário do património cultural (artístico, histórico e religioso) das suas instituições, nos termos que agora se estabelecem» (Decreto do Bispo do Porto, 15 de Outubro de 1993). 5 Cf. Necessidade e urgência…“Dado que a informatização tem vindo a modelar os actuais sistemas culturais, é bom utilizar, sempre que isto for possível, as tecnologias modernas, a fim de se obter ficheiros mais manuseáveis e aproveitáveis, e mais facilmente integráveis… Todavia, a catalogação realizada exclusivamente através do uso de fichas de papel apresenta vários limites, seja pela excessiva amplitude dos espaços ne-cessários para guardar as fichas, seja pela difícil difusão das informações sobre os objectos catalogados. É de desejar, pois, a promoção do uso de bases informáticas em conjunto com o tradicional sistema de catalogação em papel.” 6 Esta era uma das práticas voluntaristas, difundida na altura, em algumas paróquias. 7 São de encomiar e promover os esforços que se estão a fazer no âmbito da normalização da linguagem. 8 Extractos do texto distribuído aos párocos. 9 Estas equipas poderão vir a ter, no futuro, um papel de acolhimento dos visitantes. Ninguém melhor que elas, se bem formadas, para garantir a abertura das igrejas e a visita guiada. Isto não se improvisa. Deve começar desde o primeiro momento. 10 Cfr. Carta Circular “Necessidade e urgência…” 11 Ibidem “A concepção do trabalho de recolha das informações como um mero recenseamento do património, com o objectivo de aceder à sua tutela jurídica, pode-se considerar, por isso, superada. As exigências actuais requerem conhecimentos que garantam uma credibilidade científica, uma actualização contínua e, sobretudo, a valorização cultural e eclesial dos dados reunidos”. 12 Já recebemos cerca de uma dezena de estagiários da Escola Superior de Educação, alguns dos quais escolhemos para trabalhar connosco. 13 Cfr. Carta Circular “Necessidade e urgência…” “Além disso, é desejável que o organizador das fichas tenha um conhecimento suficiente de outras disciplinas afins (história da arte, história da Igreja, história civil, teologia, liturgia e direito canónico). Não podendo estender a sua competência a todas as ciências, o organizador das fichas deverá porém ter a capacidade de procurar a colaboração nas matérias que forem surgindo (arqueologia, arquitectura, paleografia, ourivesaria, mineralogia, ciência do tecido, bibliologia e outras). Deve ainda saber recorrer a outros técnicos, como os fotógrafos, topógrafos, cartógrafos e desenhadores para, caso seja necessário, as fichas terem um apoio visual do objecto enquanto tal ou do seu contexto. Deve, finalmente, ser assistido por consultores jurídicos e administrativos, que lhe permitam uma tutela das legítimas autonomias das entidades eclesiásticas (proprietárias ou usufrutuárias do património em causa) e uma correcta supervisão da utilização dos dados reunidos”.

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