Índia: Religiosa católica foi distinguida como «Mulher do Ano»

«Quando sou ameaçada não mostro medo», diz irmã Sudha Varghese, que se dedica aos mais pobres

Lisboa, 10 mar 2017 (Ecclesia) – A revista indiana ‘Vanitha’ elegeu como ‘Mulher do Ano’ uma religiosa católica, da congregação das Irmãs de Notre Dame, reconhecendo o serviço prestado entre as pessoas mais pobres dos grupos dalit em Bihar, na região oriental do país.

“Mesmo quando sou ameaçada, fico interiormente assustada, mas não mostro medo. Não é possível fazer tudo, mas é possível fazer muito”, afirmou a irmã Sudha Varghese em janeiro à edição indiana da página ‘The Huffington Post’.

O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC) divulga que a revista ‘Vanitha’ [em português ‘Mulher’] atribuiu o seu prémio anual à religiosa de 68 anos, na véspera do Dia Internacional da Mulher.

O prémio de 100 mil rupias reconhece o serviço da religiosa da congregação das Irmãs de Notre Dame entre as pessoas mais pobres dos grupos dalit, ou seja, os mais pobres dos pobres, os intocáveis, em Bihar, na região oriental da Índia.

A revista com maior circulação na Índia distinguiu a fundadora da organização ‘Nari Gunjan’ – ‘Voz das Mulheres’-  que atua na educação, advocacia e sistemas de amparo social, desde 1987.

A organização sem fins lucrativos indiana coordena “mais de mil grupos de autoajuda” para mulheres musahar, com 10 a 15 pessoas que recebem educação “sobre os seus direitos e auxílios para se tornarem financeiramente independentes”.

Segundo o SNPC, a religiosa ajudou a acabar com o casamento de crianças, bem como com a sua exploração por parte de pessoas de castas mais altas; cerca de 2250 raparigas tiveram apoio para concluir o ensino secundário ou frequentarem centros de desenvolvimento de competências.

“As vidas adultas das crianças vão ser afetadas por aquilo que se escolher fazer agora. Que oportunidades estamos a dar-lhes? A educação é a prioridade; sem ela, não têm o poder de fazer escolhas sobre o que querem ou podem aceitar”, disse à edição indiana do portal norte-americano.

Em 1989 obteve grau académico em Direito com o objetivo de apoiar judicialmente mulheres vítimas de violência, violação e abuso sexual.

Sudha Varghese, hoje com 68 anos, nasceu numa família próspera do estado de Kerala, em 1949, e mudou-se em 1965 para o Estado de Bihar, para trabalhar com pessoas pobres na congregação.

No convento foi atribuída à religiosa a função de ser professora que deixou para “trabalhar a tempo inteiro no desenvolvimento socioeconómico dos musahar” [literalmente "comedores de ratos"], e que viviam como escravos sob o sistema de castas indiano.

De assinalar ainda que a irmã Sudha Varghese foi distinguida pelo governo indiano com uma das mais altas condecorações civis, em 2006, e já recebeu também condecorações de vários estados da União.

CB

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