Quando o Papa João XXIII convocou o II Concílio do Vaticano sentiu-se “grande estupefacção”, mas tal como ele disse várias vezes a ideia foi fruto de inesperada inspiração. Num artigo publicado na revista Estudos, órgão do Centro Académico de Democracia Cristã (CADC), António Sousa Franco escreveu que esta assembleia magna foi convocada “na intenção de lançar uma ponte para todo o mundo contemporâneo”.
Quando o Papa João XXIII convocou o II Concílio do Vaticano sentiu-se “grande estupefacção”, mas tal como ele disse várias vezes a ideia foi fruto de inesperada inspiração. Num artigo publicado na revista Estudos, órgão do Centro Académico de Democracia Cristã (CADC), António Sousa Franco escreveu que esta assembleia magna foi convocada “na intenção de lançar uma ponte para todo o mundo contemporâneo”.
Numa pastoral dedicada ao concílio, explicava o cardeal Montini (na altura arcebispo de Milão-Itália, mas eleito Papa em junho de 1963), o sentido a atribuir ao conceito de reforma, que a designação de certo fenómeno histórico poderia levar a interpretar erradamente. O arcebispo de Milão dizia: “Donde nasce o conceito de reforma? Nasce de duas raízes: a observação de um mal e uma reacção concebida de modos variados.”
A obra de Deus realiza-se “em homens deste mundo”, os quais podem “ser falíveis e caducos”, ainda que sustentados pela “sua graça e pelo desejo de seguir Cristo”, escreveu o cardeal Montini na Quaresma de 1962.
Perante esta ideia de reforma, é fundamental distinguir dois aspectos na Igreja: o de instituição divina e o de comunidade composta por homens, pode-se dizer, em certo sentido, o ideal e o real. “A reforma é um esforço perene na Igreja, que tende a aproximar a ideia divina da realidade humana, e esta daquela”, sublinhou na altura o arcebispo italiano.
Para este diálogo com o mundo têm de se encarar de frente “todos os problemas, especialmente os que envolvem opções directamente operantes no âmbito sobrenatural (ou que neles se repercutem). E a Igreja tem considerado de modo muito particular as religiões não cristãs, que adoram o mesmo Deus, procurando, ao mostrar-lhes os seus erros, salvar aquilo que nelas representa sincero louvor a Deus e esperança de evangelização do Mundo”, escreveu António Sousa Franco, na revista «Estudos», Outubro-Novembro 1963; Nº 420-421.
Com realismo determinado por um espírito cristão esclarecido, “não esperemos do Concílio mais do que ele pode dar”, escreveu na referida revista o político português e um dos pais da última Concordata entre Portugal e a Santa Sé. Nesse mesmo texto, António Sousa Franco dizia: “Para que corresponda às necessidades da Igreja, que são as do mundo, comecemos desde já a dar execução ao que, se nós fizermos, assegurará o bom êxito do concílio”.
Esse êxito só acontecerá se existir uma renovação de vida, de mentalidades, costumes, “com base nos ditames conciliares a aprovar pelo Papa”, frisou e conclui António Sousa Franco: “O concílio, no fundo, será para o mundo o que nós formos”.
Passados 50 anos do início desta assembleia magna e baseado no texto de Sousa Franco, apetece perguntar: “O êxito do II Concílio do Vaticano já apareceu?”.
LFS