O antigo diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais sublinha que esta assembleia magna convocada pelo Papa João XXIII e continuada pelo seu sucessor, Papa Paulo VI, “não se submeteu ao efémero, não se inspirou nos rumores da época, mas não esteve surdo aos apelos de todos os tempos e do seu tempo concreto que a Igreja vivia no lastro misterioso da sua história”.
O II Concílio do Vaticano (1962-1965) deixou raízes na história da Igreja e da humanidade. Passados cinquenta anos, os textos e os comentários dos grandes mestres do concílio permanecem “vivos, atuais e abertos ao futuro”, referiu o padre António Rego ao jornalista António Marujo na obra «Quando a Igreja desceu à Terra – Testemunhos de memória e futuro nos 50 anos do II Concílio do Vaticano».
O sacerdote jornalista que nasceu nos Açores, em 1941, revela que quando percorre a sua biblioteca e vê os livros que adquiriu ao longo das últimas décadas, nota que “há lá vivos e mortos”. “Mortos são os «datados», presos a estilos passageiros que nem se situaram no património cultural e espiritual, nem abriram qualquer fresta ao futuro”, lê-se na obra editada pela «Lucerna», na página 28. No entanto, o II Concílio do Vaticano é um “compêndio vivo da Igreja”.
O antigo diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais sublinha que esta assembleia magna convocada pelo Papa João XXIII e continuada pelo seu sucessor, Papa Paulo VI, “não se submeteu ao efémero, não se inspirou nos rumores da época, mas não esteve surdo aos apelos de todos os tempos e do seu tempo concreto que a Igreja vivia no lastro misterioso da sua história”. O II Concílio do Vaticano não se realizou “contra ninguém” e “não condenou ninguém”, mas “abriu os umbrais da Igreja a todos”.
A Igreja não está no centro de si para acabar em si mesma. Ela existe para o mundo, existe para fora. O centro é Cristo, a luz das nações. O Papa Francisco diz mesmo: “A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir para as periferias”. Não apenas as geográficas, mas também as existenciais, como acentua o Papa argentino. Neste contexto, a Igreja tem de continuar a alimentar a chama do II Concílio do Vaticano, mesmo em tempos em que há “correntes nostálgicas de muitos acessórios que o concílio aconselhou a deixar cair”, referiu o padre António Rego na obra citada.
Ao fazer referência às áreas dentro da própria Igreja que recuaram, o sacerdote natural da Ilha de São Miguel salientou o “reacendimento do clericalismo em detrimento do sacerdócio, nostalgias furtivas da liturgia antes da reforma, certos estilos de piedade que descentram o essencial, olhares sobre o mundo e as outras confissões religiosas como puros inimigos a abater”. O II Concílio do Vaticano abriu a Igreja ao mundo e a relacionar-se com o próprio mundo, mas, passados 50 anos, alguns microgestos de pietismo revelam desprezo total pelo homem de hoje.
LFS