Em entrevista à rádio espanhola Cadena Cope, Francisco destacou reforma do sistema judicial do Vaticano e referiu-se ao caso do cardeal Angelo Becciu
Cidade do Vaticano, 01 set 2021 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje que a corrupção é “uma doença recorrente”, é preciso usar “todos os meios” para evitar esta “história antiga”, e destacou os avanços na consolidação da justiça do Estado do Vaticano.
“Ao longo de três anos, avançou-se para que a justiça fosse mais independente, com meios técnicos, depoimentos de testemunhas apuradas, técnicas atuais, nomeações de novos juízes, do novo Ministério Público”, disse o Papa, numa longa entrevista à Rádio Cadena Cope emitida hoje.
À emissora católica de Espanha, Francisco observou que a corrupção “é uma história antiga” no mundo mas é preciso usar “todos os meios” para a evitar e recordou vários casos da história.
“Esperemos que esses passos na justiça do Vaticano ajudem a que haja cada vez menos casos”, acrescentou, referindo que “tudo começou com duas reclamações de pessoas que trabalham no Vaticano e que viram uma irregularidade”, duas pessoas boas que “estavam um pouco intimidados” e foi preciso “encorajá-los a avançar”.
Sobre o caso do cardeal Angelo Becciu, antigo prefeito da Congregação para a Causa dos Santos (Santa Sé), um colaborador que “ajudou muito” e que em 2020 se demitiu da congregação e renunciou aos direitos ligados ao cardinalato, o Papa salientou que “vai a julgamento sob as leis do Vaticano” e desejou, “de todo o coração, que seja inocente”.
“Tenho uma certa estima como pessoa, ou seja, desejo que dê tudo certo. Mas é uma forma afetiva de presumir inocência, vamos lá. Além da presunção de inocência, espero que tudo corra bem. Agora, a justiça é quem vai decidir”, acrescentou, sobre o cardeal com quem celebrou Missa da Ceia do Senhor, no dia 1 de abril.
Francisco também conversou sobre a pedofilia e o trabalho da Igreja Católica e começou por elogiar o cardeal norte-americano Sean O’Malley, presidente da Comissão para a Proteção de Menores, pela sua “coragem” e pediu aos governos para agirem contra a pornografia infantil, que é “um problema global e grave”.
“Às vezes, pergunto-me como é que alguns governos permitem a produção de pornografia infantil. Hoje, com os serviços secretos, sabem tudo. Um governo sabe que no seu país se produz pornografia pedófila. Para mim, esta é uma das coisas mais monstruosas que eu já vi”, acrescentou.
À pergunta se o diabo também está no Vaticano, o Papa assinalou que “o diabo anda por toda parte”, e explicou ter mais medo dos “demónios instruídos, quem toca a campainha, pede licença, entra em casa, fica amigo”, e salientou que Jesus também falou desses.
Em março passado assinalaram-se nove anos da sua eleição como Papa – Francisco recorda ter sido surpreendido com a escolha – e explica que, desde o início, tenta “colocar em prática” o que os cardeais disseram nas reuniões antes do conclave, sobre o que o futuro pontífice tinha de fazer.
“Acho que ainda existem várias coisas para fazer, mas não há nada inventado por mim. E o meu projeto de trabalho, a exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A Alegria do Evangelho), tentei resumir o que nós, cardeais, dizíamos na altura”, acrescentou.
Sobre a reforma da Cúria Romana, destacou que “está a avançar, passo a passo e bem”, e sublinhou que, desde o início, está a ser implementado o que os cardeais disseram antes do conclave, e “o primeiro documento” foi a ‘Evangelii Gaudium’.
Na longa entrevista à rádio católica de Espanha, emitida hoje, o Papa conversou ainda sobre a Missa Tridentina, recordou São João Paulo II e Bento XVI, um caminho até ao seu ‘Motu Proprio’ “Guardiães da Tradição” (Traditionis custodes), o caminho sinodal da Igreja Católica na Alemanha, sobre o ambiente e a vontade de participar na COP26, em Glasgow, o Afeganistão, a Espanha, o processo independentista na Catalunha e a eutanásia, e a Hungria, e, a nível mais pessoal, da família, da sua saúde e futebol.
CB