Igreja/Sociedade: Papa defende educação de menores, contra exploração sexual

Francisco encerrou congresso das «Scholas Occurrentes», com participação de autarcas portugueses

Roma, 25 mai 2023 (Ecclesia) – O Papa disse hoje, em Roma, que é preciso apostar na educação para travar a exploração sexual de menores.

“Quantas crianças não têm hoje oportunidade de acesso à Educação? Quantas vezes, por falta de educação sexual, se acaba na comercialização do amor? E o amor não é para se comercializar, as crianças não devem ser usadas, como elementos a meio caminho, na sociedade”, assinalou, encerrando o I Congresso Mundial de Cidades Ecoeducativas, que se iniciou esta terça-feira.

Em ligação com o México, Francisco foi questionado sobre o Pacto Educativo Global, lançado em 2020, convidando a “assumir as deficiências ou limitações” do sistema, como o abandono escolar ou a falta de acesso ao ensino, que considerou “um peso para a sociedade”.

“Que os filhos tenham educação é dever dos pais e da sociedade como um todo. E prepará-los para que saibam o que é o amor, na vida, para que não os comercializem depois ou acabem por ser usados”, acrescentou, denunciando o negócio da pornografia.

A iniciativa contou com a presença de meia centena de autarcas, da América Latina e de Portugal, que entregaram ao Papa as conclusões do congresso.

Francisco ligou-se, por via digital, com um grupo de idosos e jovens de uma residência na Espanha que faz parte do programa educativo intergeracional ‘Olhar Juntos’, falando ainda com comunidades juvenis da ‘Scholas Occurrentes’ na Argentina, Estados Unidos da América, México e Amazónia colombiana.

Questionado sobre se tenciona fazer a primeira viagem à Argentina, sua terra natal, como Papa, respondeu: “A minha ideia é ir no ano que vem, vamos ver se é possível”.

Numa ligação com a Colômbia, a primeira-dama do país, Verónica Alcocer, enviou uma mensagem ao Papa: “Queremos agradecer-lhe por ter escolhido a Colômbia. Estamos convencidos de que, através da arte e da cultura, iremos semear sementes que contribuam para a paz”.

Em Puerto Nariño, da Amazónia colombiana, o autarca local, Alirio Vásquez, pediu a Francisco que abençoasse uma claquete de cinema, área que integra o projeto educativa da ‘Scholas’.

“A beleza que nos salvará é a poesia da criação. Aquele facto poético que Deus nos deu e do qual temos de cuidar”, declarou o Papa.

O evento foi organizado pela fundação pontifícia ‘Scholas Occurrentes’ e pelo Banco Latino-Americano de Desenvolvimento (CAF) para comemorar os 10 anos do lançamento mundial do projeto mundial de Educação desenhado pelo Papa.

De Miami, María e Camila, duas voluntárias das ‘Scholas’, questionaram Francisco sobre a crise de violência, incluindo o bullying, tendo a resposta sublinhando a importância da “autenticidade”.

Quando a forma de ser do outro não é respeitada, isso é muito grave e destrói vidas. Todas as pessoas têm o dever de ser autêntica e o direito de que essa autenticidade seja respeitada. Esse é o grande caminho”.

O Papa respondeu ainda a uma pergunta sobre a crise de armas nos Estados Unidos da América, destacando que é necessário identificar as causas do problema.

“Não se sai de uma crise sozinho, sai-se acompanhado. E de uma crise não se sai igual, sai-se melhor ou pior. Temos de fazer por que seja melhor”, enfatizou.

Francisco considerou que algumas medidas pedagógicas ou políticas “não ajudam a sair da crise”, transformando-a num “labirinto”.

O Papa, filho e netos de migrantes italianos, na Argentina, falou da “graça de ter os avós vivos”, na sua infância e adolescência.

“Os diálogos mais profundos tive-os com eles. Em pequeno, ouvindo-os, ali aprendi os valores, com a sensação de que é preciso voltar às raízes”, assinalou, falando de improviso.

O encontro, transmitido online, deixou um alerta sobre a necessidade de promover o diálogo intergeracional.

“Uma sociedade que despreza essa relação [jovens-idosos, ndr] não sobrevive”, declarou Francisco, que criticou a tendência de “esconder os velhos”.

Entre os vários presentes recebidos, o Papa teve uma oferta especial do presidente do Nápoles, Dino De Laurentiis, que festeja o título de campeão italiano de futebol: uma camisola com o número 10, a mesma que foi usado pelo argentino Diego Armando Maradona.

“O senhor é o número 10 da Igreja, o grande substituto de Maradona”, declarou De Laurentiis, elogiando o papel de Francisco na luta contra “todas as injustiças do mundo”.

O encontro começou ao som de uma adaptação da ‘Balada da Despedida’, cantada por Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão.

O outro autarca português presente no encontro foi Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais.

‘Scholas Occurrentes’ é uma organização internacional de direito pontifício presente em 190 países dos cinco continentes que, através da sua rede, integra meio milhão de redes educativas.

Em Portugal, a Fundação ‘Scholas Ocurrentes’ tem sede em Cascais.

O projeto ‘Scholas’ nasceu dos programas “Escola de Vizinhos” e “Escolas Irmãs” desenvolvidos na cidade de Buenos Aires por iniciativa do então arcebispo local, D. Jorge Mario Bergoglio, o atual Papa.

OC/CB

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