Igreja: «Sinto que a minha deficiência me aproxima de Deus» – Ana Sofia Teixeira

Igreja Católica «tem estado aberta à inclusão» mas «há aspetos a melhorar», destaca membro da Comunidade Católica com Deficiência Visual

Porto, 11 jan 2023 (Ecclesia) – Ana Sofia Teixeira, que faz parte da nova Comunidade Católica com Deficiência Visual (CCCDV), na Conferência Episcopal Portuguesa, afirma que a sua “deficiência aproxima de Deus” e partilhou desafios que a Igreja tem de integração e acolhimento.

“A Igreja Católica tem estado aberta à inclusão das pessoas com deficiência, enquanto pessoa com deficiência visual considero que há aspetos a melhorar, designadamente mais materiais em formato digital, como os cânticos”, disse em entrevista à Agência ECCLESIA.

Ana Sofia Teixeira, natural da Guarda, vive em Gondomar desde abril de 2021, na Paróquia de São Pedro da Cova faz parte do coro da igreja matriz, e integra a equipa do Serviço Pastoral da Pessoa com Deficiência da Diocese do Porto.

Para a entrevistada, que nasceu com uma deficiência visual e tem vindo a perder a visão, a Igreja Católica, no seu todo, “ainda não está organizada” no sentido de disponibilizar a estes fiéis os materiais que eles precisam para participarem nas celebrações da Eucaristia, e ao “nível do acolhimento”.

“Temos que ser sempre nós a tomar a iniciativa para arranjarmos esses mecanismos, bem como também a termos a humildade de apresentarmos as nossas dificuldades; temos de ser nós, pessoas com deficiência visual, os agentes de mudança, na paróquia, nos sítios, a sensibilizar a comunidade”, acrescentou.

Neste contexto, sublinhou que uma das dificuldades “é aceder às letras dos cânticos”, e uma das sugestões para ultrapassar esta dificuldade, que surgiu na reflexão do grupo de cegos católicos, é “as letras serem partilhadas por email, por whatsapp”, para que nas Missas, através dos smartphones terem acesso às músicas, ou “às leituras”, a pessoa com deficiência “até pode informar previamente que vai à Eucaristia para terem o dispositivo”.

Ana Sofia Teixeira explica que outra dificuldade é “ao nível do acolhimento”, como é que se pode ajudar a pessoa com deficiência visual a dirigir-se para a igreja, “a sentar-se nos bancos, uma coisa tão simples como ir comungar”, que são aspetos para os quais “a Igreja ainda não está capacitada para ajudar”.

Estas questões não são só na Igreja, é ao nível da sociedade, chego a um local, a um teatro, a um hospital, e temos de ser nós pessoas com deficiência a dizer como é que realmente nos podem ajudar. Esta evolução, que tem que acontecer, tem que ser ao nível da sociedade”.

A entrevistada, na paróquia por exemplo, sentiu esta necessidade de, no dia-a-dia, “dizer às pessoas como é que podem ajudar”, refere que “grande parte das pessoas” não sabem como abordar quem tem deficiência visual, e revela quanto mais se sente integrada partilha como é que a podem ajudar, o grupo de cegos e ambliopes católicos é também uma ajuda para saber “com ultrapassar as dificuldades”.

Ao longo da sua vida, Ana Sofia Teixeira já viveu em quatro dioceses, e sentiu-se “sempre” “bem acolhida” pelas comunidades católicas: Nasceu na Guarda, onde cresceu numa casa de acolhimento com as Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, depois formou-se em Psicologia em Aveiro, e enquanto estudante colaborou com a Pastoral Universitária, “coincidiu com os 75 anos da restauração da diocese”; depois foi trabalhar para Chaves (Diocese de Vila Real”, onde foi catequista e também integrou o coro.

Agora, vive e trabalha na Diocese do Porto, está também envolvida nas atividades dos Missionários da Verbum Dei e participou em várias reuniões da Comunidade ‘Fé e Luz’ de São Pedro da Cova.

Sinto que a minha deficiência me aproxima de Deus; vejo a minha deficiência visual como fator protetor que me permite viver numa relação de maior comunhão com Deus, se visse melhor ia ter outro modo de vida e não ter esta necessidade de ter uma relação tão próxima com Deus”.

A Comunidade Católica com Deficiência Visual (CCCDV) é uma iniciativa integrada no Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD) da CEP, e promoveu na última sexta-feira o encontro ‘Como viver a fé às escuras’.

CB/PR

 

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