Portugal: Cegos procuram as acessibilidades para «viver a fé às escuras»

Comunidade Católica com Deficiência Visual está a ser criada no âmbito do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência

Lisboa, 10 jan 2023 (Ecclesia) – A Comunidade Católica com Deficiência Visual promoveu o encontro “Como viver a fé às escuras” para fomentar a inclusão de todas as pessoas na experiência crente, nomeadamente de quem é cego ou tenha baixa visão.

Em declarações à Agência ECCLESIA, José Maria Ferreira disse que o encontro, realizado através dos meios digitais, revelou que as pessoas “têm bastante interesse” em encontrar condições para incluir quem não está inserido em comunidades crentes.

A Comunidade Católica com Deficiência Visual (CCCDV) é uma iniciativa integrada no Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD) da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), criada há um ano para ajudar a Igreja Católica a ser mais inclusiva e acessível para as pessoas cegas ou com baixa visão.

“Este grupo funciona também como ponte para ajudar quem precisa, gente que está afastada, que tem medo… Há gente que já teve alguns desafios de inclusão ou que não foi tão bem compreendida, há quem não vá porque não tenha meios”, acrescentou José Maria Ferreira, referindo-se à participação da comunidade com deficiência visual nas Eucaristias.

De acordo com José Maria Ferreira, o webninar, que decorreu na última sexta-feira, “revelou também a necessidade de existir este mecanismo de apoio”, considerando que a Comunidade Católica com Deficiência Visual pode ajudar “gente que não está integrada, nem incluída” a criar condições de participação.

Segundo o entrevistado, que tem baixa-visão grau alto, quem não vê ou vê pouco precisa de ser ajudado para viver “a sua fé da melhor forma possível e da melhor maneira possível”, observando que “há casos positivos de inclusão”, e devem olhar para as coisas de uma forma positiva, “mas há ainda muito desafio e muito trabalho pela frente”.

“A comunidade procura responder a uma questão muito simples: O que é que estas pessoas precisam para poder viver a sua fé da melhor maneira possível, sobretudo o aspeto da acessibilidade”, afirmou José Maria Ferreira, acrescentando que a acessibilidade não é só “para quem tem mobilidade reduzida, é bastante mais abrangente do que isso”.

O entrevistado, membro do SPPD há dois anos e que está a coordenar a criação da Comunidade Católica com Deficiência Visual em Portugal, explicou que a ideia nasce de uma proposta da Federação Internacional de Cegos Católicos “para criar uma associação do género”, com o objetivo de “perceber, compreender, as necessidades que as pessoas com deficiência visual, sobretudo cegas, têm na sua vida cristã”.

Sobre os desafios que a Igreja Católica tem nos seus vários âmbitos para acolher as pessoas de baixa visão, em particular, a CCCDV indica “dois passos primários”: “Em primeiro lugar é ouvir muito, depois, e o Papa Francisco tem falado muito nisso, ir às periferias, ir ter muitas vezes com quem não está incluído”.

“Depois há desafios concretos: As comunidades não se demitirem, ou seja, é preciso perceber como é que aquela pessoa vai comungar, como é que consegue ouvir um texto através da áudio-descrição, como é que a pessoa pode participar numa Missa, há alturas em que, por vezes, é difícil saber como fazer, os gestos, que apoios é que são precisos em concreto”, desenvolveu José Maria Ferreira.

O responsável pela criação da Comunidade Católica com Deficiência Visual em Portugal realça que “há muita coisa que se pode fazer e a fazer”, para além dos conteúdos em braile, os conteúdos digitais serem acessíveis, o que constitui “um passo importante”, ressalvando que já existe “muita coisa feita”.

A Comunidade Católica com Deficiência Visual “tem sido um desafio interessante”, assinala José Maria Ferreira, adiantando que neste momento são “10 pessoas fixas” de Lisboa e do Porto, mas o grupo “está a crescer, está-se a implementar”, e querem continuar a alargar, porque “a comunidade procura ser de âmbito nacional”.

Ana Sofia Teixeira, natural da Diocese da Guarda, vive no Porto, onde faz parte da equipa diocesana de Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, integra o coro da Paróquia de São Pedro da Cova (Gondomar), e faz parte da Comunidade Católica com Deficiência Visual.

“Esta comunidade é uma resposta que vem complementar a que existe ao nível do serviço nacional. Todas as deficiências têm particularidades, uma vez que temos as nossas queremos apoiar, ajudar a Igreja a ir de encontro às nossas particularidades de forma mais efetiva, e também é com o intuito de empoderar as pessoas com deficiência ao nível da igreja”, disse hoje, em declarações à Agência ECCLESIA.

Sobre o webinar ‘Como viver a fé às escuras’, Ana Sofia Teixeira destaca que este “‘viver a fé às escuras’ é abrangente para toda a gente”, para toda a sociedade.

“Infelizmente vivemos tempos de uma grande crise de valores e a nossa sociedade atravessa tempos em que se vive uma fé às escuras, que não é substanciada, consolidada, acrescentou a entrevistada que nasceu com uma deficiência de visão e tem vindo perdê-la ao longo.

O webinar foi promovido pela Comunidade Católica com Deficiência Visual em parceria com o Secretariado Nacional de Educação Cristã e a Agência ECCLESIA e contou com a participação de Carmo Diniz, diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, e de D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social e Mobilidade Humana.

CB/PR

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