2023: «Há cinco anos a paz não era sexy, não tocava as pessoas» – Helena Marujo

Especialista em Psicologia Positiva e responsável pela Cátedra Unesco ‘Educação para a paz global sustentável’, pede que se conjuguem nas «escolas e empresas» as palavras «amor», «bem-estar», «felicidade», «esperança», pois são construtoras de uma sociedade que se olha e deseja construir a «felicidade pública»

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 11 jan 2023 (Ecclesia) – Helena Marujo, professora e Psicóloga especialista em Psicologia Positiva, lamenta que a reflexão em torno da paz tenha sido acordada com o conflito na Ucrânia e valoriza a intervenção do Papa Francisco para uma “paz positiva”.

“A proposta do Papa Francisco é a da paz positiva: todo o seu discurso tem sido uma construção de estruturas, atitudes, formas de organização social que ativem e promovam a justiça, a igualdade, a partilha de recursos de uma forma sustentável e onde dimensões como a integridade, honestidade ou a não corrupção, nos convocam a ser construtores de uma forma de viver em sociedade, profundamente respeitadora e dignificadora de todos. É essa dimensão de paz positiva que vejo a mensagem do Papa (para o Dia Mundial da Paz), que nos propõe uma expressão linda de «ousar fazer diferente»”, refere à Agência ECCLESIA a responsável pela Cátedra Unesco «Educação para a paz global sustentável», na Universidade de Lisboa.

“Há cinco anos a paz não era sexy, não tocava as pessoas e não se falava da paz. De repente, lembramo-nos que a paz é fundamental quando somos confrontados com a guerra. E isso é uma leitura limitativa porque se foca na ideia de uma paz negativa”, acrescenta.

A expressão proposta por Francisco «ousar fazer diferente», “muito difícil de concretizar”, tem conduzido o percurso de Helena Marujo, que propõe que palavras como “bem-estar e felicidade” possam entrar nas “empresas e nas escolas” e ser conjugadas em família.

“Não termos medo de trazer a palavra amor, perguntar o que nos faz verdadeiramente felizes em conjunto, não numa perspetiva individualista e idiossincrática, mas o que me faz feliz a mim na relação com os outros”, valoriza.

A docente universitária integra uma iniciativa coletiva «Silêncio pela paz», que junta diferentes pessoas com “diversas orientações, religiões e visões do mundo”, que desde o início da guerra na Ucrânia procuram “lembrar a igualdade humana”, sendo uma atividade que pode ser dinamizada em diferentes locais do país.

“Num espaço público, junto da natureza, quando o tempo o permite, o objetivo é levar um tema para reflexão, convidar cada participante a partilhar a sua experiência de paz: como a vive e a leva para a sua vida; segue-se um tempo de silêncio, onde cada um pode rezar, meditar, fazer yoga, caminhar, e no final partilha-se a reflexão e experiência, e dá-se um reencontro entre todos, numa experiencia de construção de paz”, relata.

Helena Marujo sublinha a dimensão pessoal que conflui para uma construção comunitária de paz: “Sobretudo lembra-nos como cada um está a construir, nos seus momentos do quotidiano, uma vida mais harmoniosa, pacificada e com mais consequências para uma sociedade que merece de nós o melhor”.

Quase três anos depois de em Portugal ter sido decretado o confinamento por causa da pandemia da Covid-19, a especialista em Psicologia positiva reconhece como “uma das principais vitórias” o ser humano ter tido a “coragem” de se assumir “vulnerável”.

“Tínhamos de aparecer sempre enquanto pessoas fortes, vencedoras, e sermos capazes desse reconhecimento da nossa vulnerabilidade – com todo o sofrimento que traz – humaniza-nos e aproxima-nos, coração a coração. Faz sentido, cada vez mais, sermos construtores de recursos psicológicos”, indica.

A especialista sustenta que a psicologia fornece uma “compreensão em diálogo”.

“Na minha formação não fazia sentido que o meu trabalho fosse identificar as patologias; queria ajudar as pessoas a perceber onde estavam a suas forças e virtudes. São essas que conseguem catapultar a resiliência”, precisa, para explicar a sua investigação na vertente da psicologia positiva, que realizou em conjunto com o seu colega e marido Luís Miguel Neto.

Helena Marujo afirma ser um “privilégio” investigar a “felicidade e o bem-estar” e explica como a linguagem, “não descreve apenas a realidade mas também a cria”

“Quanto mais usarmos palavras de desânimo, de descrença, desconfiança, o nosso discurso individual e até o coletivo, cresce. Somos pessoas basicamente boas. Estamos num momento da história em que isso é cada vez mais visível – estamos mesmo a fazer uma trajetória de reconhecimento que queremos viver vidas que valham a pena, não apenas para nós, mas saber qual o nosso lugar no mundo. É a dimensão da felicidade pública. Faz sentido eu ser virtuoso se isso for contributivo para uma sociedade que precisa das minhas virtudes, de mim quanto mais iluminado possível”, afirma.

A conversa com a professora e especialista em Psicologia positiva Helena Marujo pode ser acompanhada esta madrugada, depois da meia-noite, no programa Ecclesia na Antena 1 da rádio pública, ficando disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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