Igreja: Sínodo é «modo de vivermos em comunidade e de todos decidirem» – Frei José Nunes

Religioso dominicano destaca atualidade dos textos bíblicos, face a guerra entre Israel e a Palestina

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Lisboa, 27 out 2023 (Ecclesia) – Frei José Nunes, da Ordem dos Pregadores, disse hoje que a “Igreja e o Sínodo já não é uma coisa de bispos”, destacando como “grande, grande novidade” a participação alargada de pessoas na assembleia que está a terminar no Vaticano.

“Desde que passou para Roma, no princípio deste mês, acho que não é muito correto chamar-se ‘Sínodo de Bispos’, porque desta vez estavam lá dezenas de pessoas que não eram bispos: padres, religiosos, leigos e muitos com direito a voto. Isto é que é sinodalidade”, disse o religioso dominicano, em entrevista à Agência ECCLESIA, onde comentou a liturgia deste domingo.

A assembleia sinodal, presidida pelo Papa, tem 365 votantes, entre eles 54 mulheres, a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Frei José Nunes salienta que ser cristão “dá trabalho, é uma alegria, é maravilhoso, mas dá trabalho”, explicando que “é uma questão teológica”, uma vez que cada batizado é membro de “Cristo, sacerdote, profeta e rei, todo o cristão, não é o padre, nem o bispo, desde o Papa”.

No contexto do Sínodo dos Bispos, dedicado à ‘Sinodalidade’, afirma que “isto é para sempre, isto é um modo de ser Igreja, é um modo de viver em comunidade e de todos decidirem sobre tudo”.

“Isto nunca está acabado, é mesmo bom que nós não percamos este entusiasmo, esta frescura e este interesse, este querer participar. Há um perigo, que é um dos grandes perigos do clericalismo, que tem sido denunciado pelo Papa Francisco, e que era um dos grandes alvos a abater com este sínodo”, salientou o frade da Província Portuguesa da Ordem Dominicana.

Frei José Nunes explica que o clericalismo “não é só um mal” do clero, “que se queria impor ao conjunto dos fiéis e mandar e decidir em nome de todos, isso existe”, mas o religioso observa que também há “um perigo do clericalismo que é do grande conjunto dos leigos”.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, começou a 4 de outubro e decorre até sábado; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

“Agora começa uma outra parte do sínodo: o Papa prolongou por mais um ano, até outubro de 2024, para que tudo isto que foi conversado volte às comunidades”, acrescenta, destacando da assembleia sinodal a metodologia de trabalho com “reflexão, misturada com oração, compromisso, a solidariedade, compreensão, escuta uns dos outros”.

“Penso que terá havido uma plataforma ótima de discussão, de conversa, e de busca da verdade em comum, porque sinodalidade significa isso. Significa caminhar juntos à procura da verdade, à procura da verdade para a Igreja, para o mundo”, comentou o religioso dominicano.

HM/CB/OC

No Programa ECCLESIA, transmitido na RTP2, em cada sexta-feira, o convidado faz uma análise, um comentário, à liturgia de domingo, que vai ser proclamada nas comunidades por todo o mundo, e frei José Nunes destacou, por exemplo, a atualidade da primeira leitura, tirada do Livro do Êxodo (Ex 22, 20-26).

“O que a primeira leitura realmente pede no fundo é uma concretização do Evangelho, do amor, porque o amor não é para ser vivido só de boca. O amor traduz-se depois em obras, em ações, em comportamentos de solidariedade, de ajuda, de libertação, de quem anda preso, de quem anda com uma vida desgraçada”, explicou o frade da Ordem dos Pregadores.

Neste contexto, destaca também uma atualidade “muito grande”, porque fala muito de Israel e no Egito, onde o povo de Israel “foi escravizado” e “agora não deve escravizar quem lá vive no seu território”.

“Enquanto as pessoas dos dois lados não se tratarem como irmãos e não verem que há reféns dos dois lados, que há vítimas dos dois lados, que há terroristas dos dois lados que é preciso superar, enquanto não praticarmos em obras o amor, a fraternidade é impossível. Há uma história realmente e cada um tem as suas razões. Enquanto a gente não fizer a união e buscar a paz é impossível”, desenvolveu frei José Nunes.

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