Igreja: Seres humanos ficarão «sempre para trás» se procurarem imitar a Inteligência Artificial – Pró-reitor da Universidade Católica Portuguesa

Professor João Duque explicou os conceitos de «pós-humanismo crítico e pós-humanismo tecnológico», no II Congresso Nacional da Escola Católica

Fátima, 10 out 2024 (Ecclesia) – O pró-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP) afirmou hoje que o ser humano ficará “sempre para trás” se procurar imitar a Inteligência Artificial.

“Há quem diga que o principal impacto e mais problemático da Inteligência Artificial sobre os humanos é fazer com que os humanos tentem imitar a inteligência artificial, isso será o principal perigo” afirmou João Duque em declarações à Agência ECCLESIA, após a conferência “O humano e o pós-humano” em que interveio, no II Congresso Nacional da Escola Católica, em Fátima.

“Ficaremos sempre para trás [se procurarmos ser à semelhança da inteligência artificial], certamente, e vamos perder, depois, outros elementos que já não vamos ter como humanos”, alertou.

Na conferência, o professor catedrático da Faculdade de Teologia da UCP explicou os conceitos de “pós-humanismo crítico e pós-humanismo tecnológico”, advertindo para uma mudança para uma mudança paradigmática em evolução.

“O pós-humanismo crítico critica uma certa forma do humanismo. Essa forma do humanismo é, sobretudo, o chamado humanismo moderno, que é um humanismo que colocava o ser humano no centro de tudo, como sujeito de tudo, senhor de tudo e, eventualmente, também proprietário de tudo. O chamado antropocentrismo radical”, explicou à Agência Ecclesia.

Já o transhumanismo, isto é, o pós-humanismo tecnológico, esclarece o docente, “são todos os desenvolvimentos tecnológicos atuais aplicáveis ao ser humano,” no fim de contas, dando corpo ao desejo de ser “uma espécie perfeita”.

“Nós desejamos certas perfeições e depois consideramos que a tecnologia nos vai conceder essas perfeições, e provavelmente até vai, e consideramos que, com isso, de facto, atingimos aquilo que o ser humano deva ser”, salientou.

“Mas, necessariamente, ao passarmos para esse tipo de ser humano, nós abandonamos outras características do humano, que são tipicamente humanas e que, na minha perspetiva, pelo menos, são altamente problemáticas se as abandonarmos”, desenvolveu João Duque.

Questionado sobre de que forma estas tendências se inserem no meio educativo, o pró-reitor da UCP realçou que os alunos “não estão imunes” à discussão pública que acontece.

Foto: João Cláudio Fernandes

Sobre o problema ético da Inteligência Artificial, que “é um problema sério”, João Duque defende que tem de ser trabalhado nas aulas de filosofia e de Moral.

“A outra questão tem mais a ver com o próprio perfil do humano, não será que nós, muitas vezes, no próprio projeto educativo, criamos uma imagem de ser humano muito semelhante àquela imagem moderna de ser humano prepotente, de ser humano proprietário?”, questionou.

“E essa é que é a grande questão, será nesse ser humano que temos que investir ou num ser humano que conviva sadiamente com as suas fragilidades”, referiu.

Na conferência do II Congresso Nacional da Escola Católica, o conferencista defendeu que professores têm de ajudar alunos a mergulhar nos problemas humanos”, ainda para mais “alunos que vivem num mundo altamente tecnologizado e afastado do real”.

A Associação Portuguesa de Escolas Católicas (APEC) e o Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC) promovem hoje e sexta-feira o II Congresso Nacional da Escola Católica, no Centro Pastoral de Paulo VI, em Fátima, com 350 participantes.

LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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