Igreja: Provincial dos jesuítas em Portugal evoca «extrema perseguição» aos cristãos no Japão do século XVII

Semanário Ecclesia apresenta novo filme «Silêncio», de Martin Scorsese

Lisboa, 13 jan 2017 (Ecclesia) – O provincial da Companhia de Jesus (Jesuítas) em Portugal considera que o filme ‘Silêncio’, de Martin Scorsese, é uma oportunidade de confrontar-se com o “encontro difícil” entre o Cristianismo e as tradições japonesas, nos séculos XVI e XVII.

“Possivelmente, associamos sempre ou louvamos a dimensão do êxito da missionação, mesmo quando foi difícil, como o martírio, mas aqui também cabe revisitar este avesso da dificuldade de permanecer firme num ambiente de extrema perseguição”, explicou à Agência ECCLESIA o padre José Frazão.

Para este responsável, ‘Silêncio’ é uma oportunidade para “revisitar a questão dramática da fé” e “quase equívoca” de várias perspetivas possíveis para enquadrar a adesão a Jesus Cristo, a sua “visibilidade pública e transmissão”.

O professor universitário João Paulo Oliveira e Costa assinala, por sua vez, que a “história pode ser sempre uma lição” e, neste caso, observa-se a intolerância religiosa, “seja pela imposição, seja pela rejeição”.

“O caso japonês é muito particular, é o caso de um país que sendo confrontado com outra religião a rejeitou através do Estado. Não é totalmente comparável com as situações de perseguição religiosa nos nossos dias, de qualquer maneira, tudo o que seja meditar sobre a intolerância e o diferente é bom”, desenvolveu.

A mais recente edição do Semanário ECCLESIA – ‘dúvida e martírio, de Portugal ao Japão’ – dedicada ao filme ‘Silêncio’, traz uma entrevista ao realizador Martin Scorsese à ‘America Magazine’ e diversas análises e opiniões sobre esta presença cristã no Japão.

O filme e o livro homónimo de Shusaku Endo contam a história de Cristóvão Ferreira, um jesuíta português que teve uma missão importante em território nipónico, bem como de outros jesuítas que partiram à sua procura quando chegou a notícia da sua eventual apostasia.

O provincial português dos jesuítas entende que o filme “não permite” uma leitura a “branco e preto, bem e mal”, afirmação da fé pelo martírio ou negação da fé pela apostasia.

“Estamos longe de afirmar que a sua apostasia pública seja renúncia à fé no mais íntimo do seu coração. Torna extremamente problemática a questão mas também muito interessante”, acrescentou o padre José Frazão.

João Paulo Oliveira e Costa, que vai ver e analisar o ‘Silêncio’ com os alunos de mestrado e licenciatura, considera que as pessoas de boa vontade podem “aproveitar” o filme para “meditar sobre as dificuldades da religião”.

Em 2016, o historiador esteve no país do sol nascente onde assistiu a cerimónias dos descendentes dos cristãos escondidos que, em séculos de separação, “derivaram numa espécie de animismo” e continuam a achar que “têm uma entidade própria”, qualquer coisa “com o Senhor da Cruz”.

Para João Paulo Oliveira e Costa, isso “é sinal da intensidade da religião” e sublinha que a missionação japonesa foi das “mais extraordinariamente bem conseguidas”.

HM/CB/OC

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