Igreja/Portugal: Missa em Lisboa lembra padre Alberto Neto, 25 anos após homicídio

Sacerdote ligado à Capela do Rato atravessou transição da ditadura para a democracia

Lisboa, 03 jul 2012 (Ecclesia) – O padre Alberto Neto, conhecido pela oposição à ditadura em Portugal (1926-1974), é hoje evocado numa missa na Capela do Rato, em Lisboa, no dia em que passam 25 anos sobre o seu homicídio.

A celebração, marcada para as 19h30, vai ser presidida pelo cónego António Janela, que conheceu o padre Alberto na segunda metade da década de 1960, no contexto da criação de uma equipa de professores de Educação Moral e Religiosa Católica para as escolas lisboetas.

O padre Alberto Neto (1931-1987) “viveu e morreu como um profeta”, era “humilde” e a sua “opção preferencial pelos pobres não era um chavão mas uma realidade concreta”, frisou o cónego Janela num testemunho em vídeo publicado hoje no site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC).

Na primeira parte das declarações, apresentada esta segunda-feira, o cónego descreve os acontecimentos ocorridos na Capela do Rato há 40 anos, na passagem de 1972 para 1973, quando um grupo de leigos ocupou o espaço e foi detido pelas autoridades.

O sacerdote recorda que partiu os selos colocados pela polícia com o objetivo de impedir o acesso à capela e presidiu à missa de 1 de janeiro de 1973, Dia Mundial da Paz, tendo sido preso após a celebração.

O padre Alberto não esteve diretamente envolvido nos acontecimentos por se encontrar acamado com pneumonia, mas a ocupação policial também se deveu ao ambiente que criou enquanto responsável pela Capela do Rato, sustentou o cónego Janela.

Os 56 anos do padre Alberto atravessaram um “intenso período que incluiu o salazarismo, o marcelismo e introduziu a democracia em Portugal”, destaca David Soares na obra ‘Religião e cidadania: protagonistas, motivações e dinâmicas sociais no contexto ibérico’, publicada este ano pelo Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa.

Os excertos do volume transcritos na edição de hoje do Semanário Agência ECCLESIA assinalam que o “percurso de crítica” do sacerdote beirão se manifestou na “atividade pública” e “criou um impacte na consciência de muitos católicos”.

O vídeo publicado hoje pelo SNPC inclui a interpretação do cónego Janela sobre a execução do padre Alberto Neto, precedida de ameaças por escrito quando era pároco de Rio de Mouro.

“Sabia que pisava um terreno minado mas era um homem corajoso. Sofreu as consequências de não se ter refugiado na comodidade do clérigo que faz o seu serviço e ponto final. Arriscou e pagou com a própria vida”, sublinhou.

A convivência com o desporto, que o revelou como adepto do Sporting Clube de Portugal, não se resumia a defender o clube de Alvalade, constituindo um pretexto para se aproximar dos jovens, aproveitando o facto de a Capela do Rato ser ponto de encontro da Juventude Estudantil Católica (JEC), salientou o cónego Janela.

David Soares realça por sua vez que o padre Alberto Neto “estava apostado em transformar a liturgia”, na sequência do Concílio Vaticano II (1962-1965), o que suscitou a “tensão da gestão institucional entre uma tradição e uma modernidade religiosa”.

A aproximação do padre Alberto Neto aos jovens deveu-se ao seu cargo professor, onde se evidenciou enquanto pedagogo, e intensificou-se a partir de 1965, quando foi nomeado assistente da JEC.

RJM

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