Igreja/Portugal: Clero do Sul desafiado a contrariar «caos» de cimento e asfalto, na vida contemporânea (c/fotos)

Colaborador do Papa deixou alerta, em encontro de formação dos padres das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Albufeira, 23 jan 2020 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização (Santa Sé), deixou em Albufeira um alerta para as consequências do “caos urbano” numa geração “submersa em cimento e asfalto”.

“Está em jogo o futuro da criação e a dignidade das pessoas”, declarou D. Rino Fisichella, falando aos participantes nas jornadas anuais de atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal, que se concluem hoje.

A iniciativa, que começou esta segunda-feira, tem como tema “Ecologia Integral: O Homem no Centro da Criação” – inspirado na encíclica ‘Laudato Si’, do Papa Francisco – contando com o contributo de vários especialistas, numa organização do Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTE).

Em declarações à Agência ECCLESIA, D. Rino Fisichella considerou “muito significativo” o tema escolhido, sublinhando que o Papa Francisco pede uma “conversão”.

“É uma conversão que nos obriga a assumir uma responsabilidade”, precisou.

A reflexão que a ‘Laudato Si’ propõe, sobre a ecologia, recorda, segundo o colaborador do Papa, um elemento essencial da fé, que passa por “assumir responsabilidade prática sobre a criação”, o que leva, por exemplo, a “alterar estilos de vida”.

“Isto implica voltar a assumir coisas que, muitas vezes, descuramos, a começar pela criação. Para nós, falar da ecologia, do respeito pela natureza, significa recuperar muitas páginas da Sagrada Escritura que nos mostram a ação de Deus na criação, tudo o que nos rodeia”, observou o presidente do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização.

D. Rino Fisichella realça que a ‘Laudato Si’ (2015) é um texto que “pertence à tradição da Doutrina Social da Igreja”, e aborda um tema central, o “respeito pela natureza”, já tratado por Bento XVI, João Paulo II, Paulo VI ou o Concílio Vaticano II.

Na sua conferência conclusiva, esta quarta-feira, o conferencista desafiou os participantes a uma ação que leve os jovens ao contacto com a natureza, dando como exemplo a possibilidade de reavivar a experiência das “peregrinações”.

D. Manuel Quintas, bispo do Algarve, a diocese que acolheu esta iniciativa, fala num tema “muito atual, muito oportuno”, que mobilizou o clero do sul, em volta das questões da ecologia integral proposta por Francisco.

“É sinal que queremos sensibilizar-nos ainda mais sobre este tema, informar-nos, saber bem, para depois sermos também sensibilizadores”, observou.

O responsável católico saúda a coordenação que tem existido entre as quatro dioceses, permitindo um “clima de família”, nesta iniciativa anual.

O diretor do ISTE, cónego José Morais Palos, explica à ECCLESIA que a edição de 2020 surge na sequência de uma reflexão iniciada em anos anteriores sobre as “várias antropologias” e a “visão cristã” sobre o ser humano.

“A ecologia integral é uma questão antropológica, porque não há uma verdadeira ecologia sem uma antropologia adequada”, indicou.

Carvalho Rodrigues, físico e responsável pelo lançamento do primeiro satélite português em órbita, apresentou aos presentes uma reflexão em que uniu conceitos matemáticos, científicos e de fé, como revelação e infinito, para responder ao tema proposto: “Que futuro para a Humanidade?”.

“Não há nada na natureza humana que não se possa e deva indagar, e depois trazer para pormos uma probabilidade no futuro. E, se não tiver fé, não entra em jogo”, referiu.

A 13ª edição das jornadas de atualização conta com a maior participação de sempre, 116 sacerdotes das dioceses do sul de Portugal.

OC

Entre os conferencistas estiveram o subsecretário do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé), o padre Nicola Riccardi; frei Martín Carbajo, docente da Universidade Pontifícia Antonianum; Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero; e José Augusto Martins Ramos, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

As jornadas de formação encerram-se com a reflexão do presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, Pedro Vaz Patto, sobre o tema ‘New Age. Direitos dos animais versus direitos humanos – Novos fundamentalismos? Novo paganismo?’.

 

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