Igreja pede perdão, mas não cede a acusações fáceis

11 quilómetros de multidão em festa acompanham o Papa na Polónia Uma multidão em festa seguiu o Papa, ao longo de 11 quilómetros, desde o aeroporto de Varsóvia à Catedral de São João, onde Bento XVI se encontra, neste momento, com o clero da arquidiocese. O percurso do papamóvel foi prolongado, para mostrar ao Papa alguns locais significativos da cidade. Junto do túmulo do Cardeal Stephen Wyszynski, Primaz polaco falecido em 1981, Bento XVI retirou-se para um significativo momento de oração. Depois, começou por enfrentar o tema das culpas cometidas, em séculos passados, pelos cristãos, convidando a uma certa cautela: junto a uma “humilde sinceridade para não negar os pecados do passado”, é preciso evitar julgar “acusações fáceis” a “gerações precedentes, que viveram noutros tempos e noutras circunstâncias”. No seu discurso ao clero polaco, Bento XVI retomou o “mea culpa” de João Paulo II no Jubileu de 2000 para “pedir perdão pelo mal cometido, mas também agradecer o bem que foi feito”. Referindo-se mais especificamente a esta sua viagem, o Papa disse ter confiança que “estes dias venham a refrescar a fé que temos em comum”. O segundo discurso em terras polacas falou da história do país e do seu povo, uma “história dolorosa”, em tempos recentes. “Recordemos com reconhecimento e gratidão os que não se deixaram dominar pelas forças das trevas, aprendendo deles a coragem da coerência e da constância na adesão ao Evangelho de Cristo”, disse, lembrando “as heróicas testemunhas da fé que ofereceram a sua vida a Deus e aos homens, santos canonizados e também homens comuns”. No início desta intervenção, o Papa saudou o Cardeal Jósef Glemp, Arcebispo de Varsóvia, a quem felicitou pelo seu 50º aniversário de ordenação sacerdotal, que acontece hoje, precisamente. O Cardeal Jósef Glemp, Primaz da Polónia, pediu ao Papa a sua bênção para o país, que enfrenta o desafio das mudanças socio-políticas derivadas da sua entrada na União Europeia. Preocupações sociais Como era esperado, Bento XVI tem lançado um olhar atento sobre a situação social da Polónia, deixando, desde já, um alerta para os problemas da família. “Quando as famílias se dividem, quando se quebram os laços sociais, a Igreja não pode ficar indiferente”, alertou. “A Igreja na Polónia tem hoje o desafio pastoral de tomar conta dos fiéis que deixaram o país”, disse o Papa, “por causa da praga do desemprego”. Esse fenómeno, que afecta grandemente os polacos, tem estado na origem do grande volume de emigração. Nesse sentido, Bento XVI disse aos padres polacos que não tenham “medo” de deixar um “mundo seguro” para “servir a Igreja onde faltam sacerdotes”. Hoje em dia, mais de 1500 padres polacos já trabalham fora do seu país. O Papa espera que este serviço se dirija não só aos polacos que estão fora do país, mas também “às missões da África, da Ásia, da América Latina e outras regiões”. Um outro convite ao clero pedia que fossem, acima de tudo, mestres de vida espiritual, porque deles não se espera que sejam peritos “em economia, justiça ou política”. Este segundo discurso do Papa conclui-se com o lema da peregrinação, “Permanecei fortes na fé!”. “Fixando-vos em Cristo, vivei uma vida modesta, solidária com os fiéis para os quais fostes enviados. Servi todos e sede acessíveis nas paróquias e nos confessionários, acompanhai os novos movimentos e as associações, apoiai as famílias, não esqueçais os jovens, lembrai-vos dos pobres e dos abandonados”, exortou Bento XVI, numa espécie de “programa” para o clero polaco.

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