Igreja não quer confessionalizar discussão em torno das questões da vida humana

Jornadas reuniram especialistas e profissionais da Comunicação Social para debater o tema «Dignidade da Vida Humana: Uma visão global» A Igreja Católica em Portugal não quer que a linguagem confessional esteja presente nas discussões em torno das questões da vida humana, como o aborto, a eutanásia ou a clonagem. Esta é uma das conclusões das Jornadas de reflexão sobre o tema “Dignidade da Vida Humana: Uma visão global” que a Comissão Episcopal das Comunicações Sociais (SNCS) da Igreja Católica promoveu entre ontem e hoje, em Fátima. D. Manuel Clemente, membro dessa mesma comissão da Conferência Episcopal Portuguesa, referiu durante o encontro que “é necessário falar sobre estes temas sobre uma base objectiva, que não seja de objectividade religiosa, porque nestas questões a linguagem confessional não é a mais adequada”. “Isto não é um problema confessional”, insistiu, ao referir-se a um “retrocesso do humanismo” na sociedade dos nossos dias. Na mesa-redonda que deu início às Jornadas, o Bispo auxiliar de Lisboa, que é também presidente da comissão episcopal da cultura, considerou que a imprensa de inspiração cristã deve tentar fazer passar uma mensagem de “nova humanidade”, que inclua os dados científicos actuais. Exemplo desta intenção foi a presença, como conferencista, do médico Alexandre Laureano Santos, consultor da comissão episcopal das comunicações sociais, para falar sobre “aspectos biológicos” da vida humana e deixar o alerta: “a vida humana suporta os outros valores, nomeadamente a existência da consciência, e é a base de todos os direitos de cidadania”. Considerando o discurso que remete para a consciência individual as decisões nesta área como uma solução mais fácil e menos necessitada de argumentação, D. Manuel Clemente alertou os profissionais católicos da comunicação social para a necessidade de “pedir uma defesa efectiva da vida e colocar em causa a sociedade que não está do lado da pessoa em dificuldade”. No mesmo sentido foi a intervenção de Manuel Nazareth, que falou aos mais de 70 participantes sobre os aspectos demográficos e as suas consequências sociais, mostrando-se particularmente preocupado com a ausência de solidariedade entre as gerações e os efeitos negativos da globalização, como o acentuar das desigualdades. “Cada vez menos têm mais, em detrimento de cada vez mais que têm menos”, lamentou. Espectáculo vs. Informação O tratamento das questões da vida nos Media, confessionais ou não, foi uma preocupação constante ao longo dos dois dias de debate e reflexão, sobretudo no que diz respeito à forma de apresentar as posições da Igreja Católica. Os intervenientes fizeram questão de destacar que ninguém parte para a discussão de temas como o aborto ou a eutanásia de ânimo leve e Manuel Nazareth referiu mesmo que “cada vez menos gente está disponível para o espectáculo” em que a cobertura mediática transforma a troca de pontos de vista sobre estas matérias. Francisco Sarsfield Cabral, director de informação da RR, referiu já na manhã de hoje que “a pior forma de reagir é fazer escândalo”, recordando os recentes acontecimentos em torno do “barco do aborto”. Ainda assim, vincou que “para muitos portugueses as coisas da Igreja são estranhas”. Já Manuel Pinto, actual provedor dos leitores do JN, criticou a “cultura da ignorância e insensibilidade” que muitas vezes marca o tratamento jornalístico das posições da Igreja, lamentando, por outro lado, que “a realidade eclesial seja, muitas vezes, pouco interessante do ponto de vista noticioso”. As implicações concretas de uma posição em favor da vida estiveram em destaque nos debate que se seguiram às intervenções dos conferencistas, com os participantes a pedirem gestos visíveis, “mesmo os mais pequeninos”, que valorizem a vida que surge e a aproximação entre gerações.

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