Publicação nasceu a 18 de março de 1923, para defender «os direitos da Igreja, a inviolabilidade da consciência, a liberdade, os pobres e os humildes»
Évora, 17 mar 2023 (Ecclesia) – O jornal ‘A Defesa’, da Arquidiocese de Évora, está a celebrar os 100 anos da publicação do seu primeiro número, a 18 de março de 1923, mantendo, segundo o arcebispo local, a missão de ser “rosto” da Igreja neste território alentejano.
“A Defesa é o rosto desta diocese, de muita gente, de muito suor, muita dedicação, muito sofrimento, muita luta pela justiça”, refere à Agência ECCLESIA D. Francisco Senra Coelho.
O responsável saúda o percurso de um título que habituou os seus leitores a ter uma voz lúcida, independente, defensora da liberdade, da tolerância e do respeito”.
“Este jornal viu, acompanhou, testemunhou, com uma grande dimensão de liberdade, porque é um jornal independente, momentos determinantes”, da história do século XX até à atualidade, realça.
D. Francisco Senra Coelho alude, por exemplo, ao fim da I República, à fundação do Estado Novo, a primeira Concordata [1940], a perda de “muito património” de arte sacra, a guerra colonial, a revolução do 25 de Abril ou a proclamação de Évora como “património mundial” da Unesco.
Este percurso, acrescenta, foi vivida sob a “inspiração da Doutrina Social da Igreja” e em “defesa da identidade, dos valores” da região e do território da Arquidiocese de Évora, assumindo-se atualmente, também como fonte de “investigação histórica”.
O arcebispo recorda que a publicação que chegou a ser perseguida, tanto pela PIDE como no pós-revolução, assumindo um passado que é “motivo de orgulho” e os desafios do futuro, face à “digitalização” dos media”.
Numa caixa de correio em Évora ou no Colégio Pontifício Português, em Roma, onde o então padre Senra Coelho estudava, o jornal era sempre aguardado, como um “abraço” com a terra que adotou,
“Eu esperava pela ‘Defesa’ como quem espera pelo pão ou pela água”, relata, antes de evocar vários responsáveis do jornal, entre eles o falecido cónego Salvador dos Santos, antigo diretor do jornal e primeiro presidente da Direção da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC).
A fundação do jornal foi decidida por D. Manuel Mendes da Conceição Santos, que chegou a Évora em 1921 – após ter já fundado o jornal ‘A Guarda’ – e a data escolhida para o primeiro número foi, simbolicamente, a véspera da solenidade de São José. O primeiro editorial, republicado na edição comemorativa dos 100 anos, esta semana, referia o objetivo da publicação: “A Defesa vem, muito modestamente embora, preencher uma lacuna”. O jornal assumia o objetivo de defender “a verdade cristã, os direitos da Igreja, a inviolabilidade da consciência, a liberdade, os pobres e os humildes”. |
Atualmente com periodicidade semanal, ‘A Defesa’ é propriedade da SIRE – Sociedade Instrutiva Regional Eborense, S.A.
O padre Eduardo Pereira da Silva, que foi diretor do jornal ‘A Defesa’ durante 17 anos, é atualmente administrador da SIRE e recorda o nascimento do jornal, no “calor da República”, num momento em que faltava uma “voz diferente”.
“Uma voz que fosse serena, que defendesse os seus valores, obviamente, mas que não viesse combater ninguém, dando voz às aspirações das pessoas, dos mais pobres e marginalizados”, precisa.
No centenário de ‘A Defesa’, o seu diretor é o cónego Manuel Maria Madureira, o qual sublinha a linha editorial do jornal, com uma relação entre os conteúdos informativos e um forte pendor formativo.
“Eu descobri ao longo destes 100 anos, a grande preocupação de formar. Tudo aquilo que o jornal tem feito, em favor das pessoas, dos seus leitores, é mesmo para os formar, em clima religioso e, sobretudo, em clima humanista”, diz à Agência ECCLESIA.
A edição centenária, em papel, está hoje no ambiente digitalizado, e para o sacerdote “a palavra escrita continua a ser muito importante”.
Pedro Conceição, chefe de redação, admite que hoje o trabalho é “tecnologicamente mais fácil”, mantendo a aposta original na “formação e informação”, com a tradição de colunistas que abrangem várias áreas, com conteúdos que “continuam a fazer muito sentido e cada vez mais”.
“Procuramos dar sempre o que de melhor vai acontecendo”, mantendo o espírito fundacional de fugir a “polémicas” e sensacionalismo, acrescenta o jornalista, com duas décadas de profissão.
O responsável admite que a ausência de um corpo redatorial mais vasto é compensada pelos canais de acesso à informação, sublinhando que a importância do “trabalho jornalístico se mantém”, em particular face à proliferação de “fake news”.
Pedro Conceição aborda ainda o esforço de reformulação do site, na procura de “novos leitores”.
“O digital não é o que virá, é o que está. Não há volta a dar, é uma mudança cultural”, conclui.
Quem sente ainda a vantagem do papel é Armando Ribeiro, que todas as semanas recolhe na sua caixa de correio, a edição semanal do jornal que lhe chega a casa.
Esta e outras histórias do centenário jornal ‘A Defesa’ estão em destaque na edição do programa ‘70×7’, este domingo, na RTP2.
Para assinalar o centenário, vai ser inaugurada este domingo, pelas 16h00, na Galeria dos Arcebispos da Catedral de Évora, a Exposição “100 anos d’a defesa”, que ficará patente até 22 de maio de 2023.
HM/CB/OC