Igreja: Herdeiro do Concílio Vaticano II, «conciliador», «dialogante», «atento aos pobres» assim é recordado D. António de Sousa Braga

Livro de homenagem por ocasião dos 50 anos de ordenação episcopal, em 2020, recordava missões e atitudes de bispo emérito de Angra, falecido aos 81 anos

Lisboa, 23 ago 2022 (Ecclesia) – O superior geral da congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, Dehonianos, lembrou, por ocasião dos 50 anos de ordenação sacerdotal de D. António de Sousa Braga o entusiasmo vivido pelo bispo em tempo de “mercado ideológico”.

“Quanto temos que agradecer-te pela investigação e pelo trabalho que realizaste para nos ajudar a ver a realidade de uma Congregação que procurava atualizar-se à luz das orientações do Concílio Vaticano II. O encargo que, depois, te foi confiado, tu o viveste com entusiasmo em tempos de “mercado ideológico”, como tu próprio os definias. No entanto, soubeste oferecer-nos ferramentas úteis para encontrarmos juntos caminhos, atentos para não cair em intolerâncias nem em ligeirezas que poderiam deturpar uma renovação autêntica à luz do Espírito e do nosso património carismático”, escreveu o padre Carlos Luís Suárez, num livro de homenagem pelos 50 anos de ordenação de padre do bispo emérito da diocese de Angra.

“As tuas atitudes de homem conciliador e dialogante foram contributos preciosos para a tua Província e para as responsabilidades que tiveste na Congregação, especialmente como conselheiro geral”, acrescenta ainda o responsável no livro «Testemunhos e mensagens», editado pela congregação em 2020.

D. António de Sousa Braga, bispo emérito de Angra, faleceu a 22 de agosto, em Lisboa, aos 81 anos de idade, na clínica onde fazia tratamentos diários, na sequência de uma paragem cardio-respiratória.

A publicação «Testemunhos e mensagens» junta 41 textos que “vêm do coração de quem os partilhou com toda a humildade e simplicidade”, e encontram-se marcas de “cardeais e bispos, conselheiros e superiores gerais, leigos e casais, confrades dehonianos e antigos religiosos, padres diocesanos, particularmente da diocese de Angra, amigos e familiares” que se associaram a uma data, lembrada por D. António de Sousa Braga como anos “muito preenchidos com várias missões”.

“A cada uma me entreguei com o melhor de mim, para corresponder melhor à minha vocação religiosa e sacerdotal. E é assim que ainda hoje vivo: estou muito concentrado nesta doação da minha vida, que nós, Dehonianos, chamamos a oblação”, escreveu o bispo emérito na publicação citada.

O cardeal-patriarca de Lisboa recordou o “homem simples e afável, piedoso e prestável” evidenciado no “seu caminho dehoniano, como provincial aqui, com outros cargos em Roma, como Bispo na sua Diocese de origem, como emérito e disponível agora. Em tudo isto podemos entrever o carisma sacerdotal e apostólico do Padre Dehon”.

D. António Marto recordou no texto escrito o “irmão e um exemplo de Bispo Pastor” que encontrou quando iniciou o seu ministério episcopal, “sobretudo nas assembleias plenárias e nas jornadas pastorais dos bispos”.

“Devo confessar que de imediato encontrei nele um amigo próximo. Ao primeiro contacto com D. António sobressai de imediato a riqueza da sua humanidade. É evidente a sua rica e amável personalidade humana sempre acolhedor, com o sorriso e o calor duma sensibilidade que contagia, capaz de criar à sua volta um ambiente de simpatia, apresentando-se com toda a simplicidade e humildade. É exemplo do bispo que saía às «periferias existenciais» onde há sofrimento, solidão, exclusão, degradação humana, a levar a defesa e a promoção da dignidade humana e a solidariedade evangélica, como por exemplo nas trágicas consequências dos tremores de terra nos Açores”, escreveu o bispo emérito de Leiria – Fátima.

O sucessor de D. António de Sousa Braga em Angra lembrou no livro a atenção “permanente aos excluídos” que pode constatar no período em que partilharam a missão de administrar a diocese.

“É um homem rico em valores pessoais que cativam. Homem inteligente que sabia conjugar a sua sede de busca da verdade com a sua ânsia de chegar ao coração de todos oferecendo-lhes de modo muito compreensível e testemunhal o Evangelho”, recordou D. João Lavrador.

D. Manuel Quintas foi formando de D. António de Sousa Braga, de quem recebeu também direção espiritual no seminário de Alfragide, na etapa final da formação do atual bispo do Algarve e assume ter tido uma “ação determinante na opção pela vida consagrada dehoniana”.

“Não foram anos fáceis, os que precederam e sobretudo os que se seguiram ao 25 de abril de 1974, para esta opção. Viveram-se tempos de grande convulsão ideológica, política e social a que ninguém ficava indiferente, gerando um ambiente de grande instabilidade. Tudo era provisório, até e sobretudo os governos… Esta instabilidade refletia-se no ambiente universitário e nas próprias comunidades religiosas, não proporcionando a estabilidade e a serenidade interiores adequadas e favoráveis a uma opção pessoal definitiva. No que me diz respeito, encontrei-as na estabilidade e serenidade que sempre revelava D. António Braga, unidas à proximidade e simplicidade que transparecia do seu modo de ser, de estar e de se relacionar connosco”, recorda.

O bispo José Ornelas, também da congregação dos sacerdotes Dehonianos, lembra o “irmão e amigo” que guiou pela “presença discreta e segura, mais pelo exemplo do que pelos discursos” e foi capaz de “forjar consensos, comunhão e colaboração, na comunidade, na Congregação, na Paróquia e na Igreja”.

“Tê-lo agora como irmão mais velho e inspiração no serviço episcopal é uma outra prenda e dom precioso de Deus”, escreveu o bispo de Leiria – Fátima.

O padre Hélder Fonseca Mendes, vigário-geral da diocese de Angra por ocasião dos 50 anos das bodas de ouro sacerdotais de D. António de Sousa Braga, recorda a chegada do bispo, em 1996, à diocese, e do que significou a passagem da expressão “próximo bispo” a um “bispo próximo”.

“Com 55 anos de idade, e com as bodas de prata sacerdotais recém-cumpridas, vem cheio de força e generosidade. Próximo, bondoso, dialogante e humilde a todos impressiona, a começar pelos próprios padres. Eis um mariense que não conhecia os Açores e que hoje os conhece profundamente”, escreveu.

“Imediatamente, o novo bispo mostra a abertura para a formação superior necessária dos seus padres, havendo ordenado mais 55 para o seu presbitério. Confia demasiado nos fiéis, fossem leigos, consagrados ou ordenados, pelo que nem sempre acertou, sempre arriscou, nunca mudou de atitude. Antes de afirmar ou decidir fosse o que fosse, sobrevoa o interlocutor com perguntas, até que com as respostas deste elabora a decisão mais ajustada, sendo esta, desde logo, assumida e partilhada”, recordou.

O atual administrador apostólico da diocese de Angra recorda um “pastor incansável”, “mais trabalhador do que a opinião pública conhece” que, “pelo dia e pela noite, por todos os recantos da cada uma das nove ilhas, até que uma doença o afeta reduzindo drasticamente a atividade e capacidade de trabalho”.

«António de Sousa Braga, 50 anos de Ordenação Sacerdotal – testemunhos e mensagens» foi editado em 2020 pelo Seminário Nossa Senhora de Fátima, numa coordenação do padre Manuel Barbosa e do padre Ricardo Freire.

LS

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