Igreja: Fátima primeiro «estranha-se», depois «entranha-se, entra no coração» – D. António Marto

Cardeal evocou percurso de 15 anos, de teólogo «cético» a «pensador encantado», identificando ponto alto e momento mais difícil que viveu na Cova da Iria

Foto: Agência ECCLESIA/LFS

Fátima, 04 mar 2022 (Ecclesia) – O cardeal D. António Marto falou esta quinta-feira do seu percurso de mais de 15 anos como responsável pela Diocese de Leiria-Fátima, num encontro com hoteleiros, na Cova da Iria, afirmando que Fátima primeiro “estranha-se”, mas depois “entranha-se”.

“Eu era um cético antes de ter feito uma reflexão sobre o acontecimento de Fátima, mas depois descobri uma beleza e uma riqueza que não suspeitava”, realçou o administrador apostólico de Leiria-Fátima, no encerramento do encontro de hoteleiros e responsáveis de Casas Religiosas que acolhem peregrinos no santuário nacional.

Na última intervenção enquanto bispo responsável pelo Santuário de Fátima, D. António Marto sublinhou que “foi com relutância” que aceitou a nomeação para a Diocese de Leiria-Fátima e que o fez “para obedecer ao Papa”, em 2006 (Bento XVI).

“Primeiro estranha-se, no sentido de ficar deslumbrado e estupefacto com o que se vê, mas depois entranha-se, entra no coração”, disse o cardeal D. António Marto.

Enquanto bispo, afirmou, “nunca” deixou de ser “o pensador que ficou encantado com Fátima”, sobretudo “com o silêncio impressionante” que os muitos milhares de peregrinos são capazes de fazer.

Em declarações aos jornalistas, o administrador apostólico da Diocese de Leiria-Fátima confessou que vai ter, “naturalmente, saudades dos amiguitos e amiguitas”.

Ao ver as crianças nas celebrações, D. António Marto explicou que sentia necessidade de lhes dizer algo.

“Se ninguém lhes diz nada, as crianças saem daqui frustradas”, observou, justificando assim a decisão de lhes começar a dirigir “uma saudação de ternura e de carinho”, que passou a ser uma “marca” pessoal.

A tradição impôs-se e, se por alguma razão D. António Marto se esquecia da saudação específica, “recebia emails de todo o país a dizer que se tinha esquecido dos amiguitos e amiguitas”.

Enquanto responsável pelo Santuário, o cardeal recorda que a primeira coisa que fez foi “conversar com os responsáveis, sobre a melhor forma de redescobrir a beleza e a riqueza da Mensagem de Fátima na sua dimensão mística”, e redimensionar “a internacionalização” de Fátima, algo que o levou a trazer às Peregrinações Internacionais Aniversárias bispos e cardeais de todo o mundo.

Ao ouvir o Papa Bento XVI, aquando da sua presença na Cova da Iria em 2010, a perspetivar o Centenário das Aparições (2017), o cardeal D. António Marto recordou a inspiração que sentiu naquele momento, que “culminou num programa comemorativo de sete anos empolgantes e muito belo, em todos os aspetos”.

O dia 13 de maio de 2017 é recordado como “um momento culminante”, com a canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto pelo Papa Francisco, na Cova da Iria.

“Foi o momento alto do meu episcopado, inesquecível”, afirmou.

A “glória e a cruz andam juntas”, observa o cardeal português que, passados três anos, teria de presidir à peregrinação de 13 de maio de 2020 “sem peregrinos”, por causa da pandemia de Covid-19.

Foto: Lusa

“Foi um momento doloroso” porque “trazia sobre os meus ombros o peso do sofrimento da humanidade”, disse, emocionado, D. António Marto.

Depois de quase seis meses sem qualquer movimento, entre 2020 e 2021, e de três meses com grandes constrangimentos à mobilidade das pessoas, o que as impediu de se deslocarem à Cova da Iria, o Santuário encerrou 2021 com o registo de 2,4 milhões de peregrinos, mais um milhão que no primeiro ano da pandemia.

Além da apresentação dos números, o 43.º Encontro de Hoteleiros contou com uma reflexão sobre o tema do ano pastoral- ‘Levanta-te! És testemunha do que viste’ – e uma conferência sobre o centenário do jornal ‘Voz da Fátima’.

Este domingo, pelas 16h00, a Sé de Leiria acolhe uma celebração eucarística de ação de graças e de despedida do cardeal D. António Marto da Diocese de Leiria-Fátima.

No final da Missa, decorre a apresentação de um livro que recolhe cartas pastorais e outros escritos e pronunciamentos do responsável, intitulado ‘Cardeal D. António Marto: Teólogo e Pastor’.

António Augusto dos Santos Marto nasceu a 5 de maio de 1947, em Tronco, Concelho de Chaves, Diocese de Vila Real; foi ordenado padre em Roma, em 1971 e a 10 de novembro de 2000 foi nomeado bispo auxiliar de Braga, pelo Papa João Paulo II, tendo passado pela Diocese de Viseu antes de ser escolhido por Bento XVI, em 2006, como bispo de Leiria-Fátima.

A 28 de janeiro, o Papa aceitou a sua renúncia ao cargo, por motivos de saúde, nomeando como sucessor D. José Ornelas, até então bispo de Setúbal.

LFS/OC

Leiria-Fátima: D. António Marto elogia sucessor e destaca alinhamento com o Papa (c/vídeo)

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Agência ECCLESIA

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