Igreja está atenta aos novos desafios das migrações

O Pe. Rui Pedro termina um ciclo de sete anos como director da OCPM. De partida para Roma, explica à Agência ECCLESIA quais os principais desafios que encontrou e que caminhos devem ser trilhados no futuro O Pe. Rui Pedro, c.s., foi director da Obra Nacional Católica de Migrações desde o ano 2000 e está, neste momento, de partida para Roma, onde já em Abril vai assumir funções no Conselho Geral da sua Congregação Religiosa, os Missionários Scalabrinianos. No fim destes sete anos ao serviço dos migrantes, o director cessante da OCPM explica à Agência ECCLESIA quais os principais desafios que encontrou e que caminhos devem ser trilhados no futuro. A OCPM continuará a sua acção com uma nova equipa, em fase de constituição. Até à indigitação de um novo director nacional, pela CEP, o cargo é assegurado por Eugénia Costa Quaresma. Agência ECCLESIA – Teve oportunidade de ser director da OCPM durante uma altura em que o panorama das migrações se alterou profundamente no nosso país… Pe. Rui Pedro – Estes sete anos de trabalho foram realizados debaixo de uma grande pressão migratória, com fluxos da Europa de Leste e, agora, do Brasil. A Igreja procurou estar presente, logo desde o acompanhamento aos recém-chegados. Também vivemos um ciclo de alternância política, com várias ideologias a procurar gerir a imigração e a procurar dar respostas na área da integração. Isto foi para nós um grande desafio, porque tivemos de procurar salvaguardar a dignidade dos imigrantes e denunciar mecanismos que nos pareciam mais demagógicos do que operacionais. AE – Que balanço é possível fazer? RP –Posso dizer que saio desta missão com a percepção de que estamos diante de um conjunto de grandes reformas: a nova Lei da Imigração, a nova Lei da Nacionalidade, a reforma consular, uma nova lei do Conselho das Comunidades Portuguesa, Plano Nacional para o Acolhimento e Integração de Imigrantes (PNAII), o Alto Comissariado consolidou-se e vai passar a integrar a questão do diálogo intercultural. Estes instrumentos deixam-me alguma esperança quanto à integração dos imigrantes e à defesa dos mais vulneráveis, os irregulares, porque há outra mentalidade. AE – Nestes anos foi privilegiado o trabalho em equipa, com a voz do FORCIM? RP – Sempre tivemos a convicção de que, neste momento, no trabalho com os imigrantes, cada qual tem o seu papel. Outras organizações têm outras possibilidades e outras perspectivas. Tendo a Igreja como meta a pessoa do imigrante, a sua dignidade, parceiros das várias latitudes trabalharam juntos. As Organizações Católicas para a Imigração também procuraram falar a uma só voz, no seu Fórum, procurando abordar contributos competentes na área jurídica. AE – Houve parceiras privilegiadas? RP – Criámos grandes aliados nas Congregações Religiosas Missionárias, uma rede que é preciso potenciar, e que em muitos casos se mostraram mais eficazes do que as próprias estruturas diocesanas. Criámos outras plataformas importantes, apesar da grande maturidade nas organizações de imigrantes. AE – A presença de imigrantes entre nós ajudou a compreender melhor a universalidade da Igreja? RP – Temos vindo a proclamar esta realidade de que os imigrantes são a memória do que é a Igreja, povo em caminho, peregrino. Neste momento, como acontece com as questões ligadas à vida, há um desafio muito grande relacionado com as migrações. Na Igreja, apesar do que já foi feito, falta transmitir às comunidades o pensamento sobre as migrações. A Igreja tem uma doutrina, mas as comunidades ainda não conseguem reflectir sobre a mesma e penso que o meu sucessor terá de apostar nesta teologia das migrações, procurando ir além do social. AE – As comunidades portuguesas fora do mundo foram sempre uma preocupação? RP – Posso dizer que o dossier mais difícil foi o da emigração. Os novos fluxos de portugueses a sair, que só no ano passado atingiu os 100 mil emigrantes, criaram comunidades portuguesas em locais novos. As comunidades já estabelecidas nem sempre conseguem responder às exigências dos recém-chegados. Por outro lado, chegam notícias tristes da Holanda, do Reino Unido e da Espanha, devido também a toda a cadeia de contratação pouco transparente. Depois do encontro mundial de 2005, procuramos provocar na Igreja e na sociedade uma nova reflexão sobre as comunidades portuguesas no mundo. Estamos a tentar levar à prática as conclusões desse encontro e é preciso sensibilizar a sociedade portuguesa para as novas pessoas que estão a sair. Por outro lado, é preciso pensar em novas maneiras de formar agentes pastorais, sacerdotes, religiosos e leigos, para, com cursos ministrados em Portugal – organizados de forma excelente nos anos 60 e 70 do século passado – ser possível enviar agentes bem preparados.

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