Igreja e novo Governo espanhol em confronto

O novo presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, tem feito questão de defender para o Estado uma “visão laica”, segundo a qual ninguém pode impor as suas crenças. As consequências práticas desta perspectiva, no campo do aborto, das uniões homossexuais, da clonagem terapêutica e da educação religiosa estão a deixar a Igreja Católica espanhola com os nervos em franja. O arcebispo Primaz da Espanha, D. Antonio Cañizares, considera que “nenhuma maioria pode legitimar legislações contrárias a direitos fundamentais, como a vida”. Para Zapatero, “chegou a hora do respeito radical das opções sexuais de cada indivíduo, a hora de uma visão laica em que ninguém impõe as suas crenças, nem na escola nem na investigação, nem em nenhum âmbito da sociedade”. Para o PSOE, as teses da Igreja Católica na Espanha são “irritantes, fora de tom e reaccionárias”, opinião partilhada pelos movimentos homossexuais. O arcebispo de Toledo recorda os ataques que a Igreja tem sofrido desde a publicação do Directório de Pastoral Familiar, advertindo sobre o perigo de um “laicismo ideológico” que, segundo o prelado, viola a liberdade religiosa e procura impedir que a Igreja torne públicas suas crenças. Numa carta pastoral intitulada “Laicismo e liberdade religiosa”, o arcebispo denunciava que “é abusivo pretender que a Igreja cale as suas crenças ou os seus valores morais próprios, perante realidades humanas ou sociais que pedem iluminação e orientação”. Hoje, em entrevista ao jornal católico “La Razón”, o arcebispo Cañizares ataca as intenções do novo líder do Governo espanhol, afirmando que “a democracia não se pode tornar num substituto da moralidade”. “A questão da defesa do direito inalienável da vida, por parte de todo o ser humano, não é algo arbitrário ou ao juízo de cada ser humano”, acrescentou. Em relação à presença da Religião nas escolas, que Zapatero quer tornar opcional e sem nenhum valor para a avaliação dos alunos, o Primaz da Espanha lembra que a presença na escola do ensino religioso católico “materializa o direito dos pais a que os seus filhos recebam a formação que eles desejam”, neste caso a formação religiosa católica exigida por 82 por cento dos mesmos. “Nenhuma realidade da democracia espanhola tem uma adesão tão maioritária como esta. A eliminação da disciplina de religião seria um grande cerceamento das liberdades”, concluiu.

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