Igreja e migrações

O mundo actual está marcado por um acelerado crescimento do fenómeno migratório. São cada vez mais as pessoas que, devido a diversas causas, muitas vezes dramáticas, procuram fora da sua terra de origem um local seguro que lhes permita trabalhar e viver com um mínimo de segurança e dignidade. Com esta realidade, Portugal passou de país de emigrantes para país de acolhimento de imigrantes. Na verdade, são cada vez mais os que procuram Portugal como local de destino, o que coloca, não só à sociedade civil mas também à Igreja, desafios que requerem respostas adequadas que vão ao encontro das reais necessidades e dificuldades manifestadas pela pessoa do migrante. O Papa Bento XVI, na sua Mensagem para o Dia do Migrante e do Refugiado de 2008, diz-nos que “se é verdade que muito está a ser feito por eles, é necessário comprometer-se ainda mais para os ajudar, mediante a criação de estruturas de acolhimento e de formação”. A Igreja Portuguesa tem, desde longa data, uma vasta experiência no trabalho com os migrantes, basta recordar a criação da Obra Católica das Migrações, em 1962, como resposta às necessidades pastorais emergentes nas comunidades de emigrantes portugueses na diáspora, no entanto, necessita de encontrar sempre novos métodos e novas respostas para os desafios que a realidade migratória actual levanta. Dadas às mudanças rápidas operadas na sociedade, passando-se de um mundo estável e fechado, para um mundo urbano, sem fronteiras, em permanente mobilidade, marcado por uma enorme multiplicidade de culturas a conviver no mesmo espaço e, ao nível religioso, por uma diversidade de ritos celebrativos, uma diversidade de confissões cristãs, a presença de outras religiões, mormente a religião muçulmana, são muitos os desafios que hoje se colocam à Igreja, o que levanta a questão: como responder a todos eles de forma adequada? No campo das Comunidades Portuguesas no estrangeiro, há que procurar manter uma presença de missionários que garanta o apoio e a dinamização das comunidades, promovendo o intercâmbio, os encontros de partilha entre os missionários e outros agentes pastorais e, também, uma relação sempre mais próxima com a Igreja de Portugal. Apesar das dificuldades em encontrar sacerdotes disponíveis, é preciso garantir o envio de missionários para onde as necessidades são mais urgentes. É necessário manter um conhecimento actualizado do evoluir migratório dentro do país, a fim de se promover uma sensibilidade, cada vez maior, nas Dioceses nos Secretariados Diocesanos e nos outros agentes da pastoral. As migrações manifestam necessidades humanas e espirituais que necessitam de uma resposta que tenha em conta o respeito pela diversidade do património espiritual e cultural trazido pelos migrantes dos seus países e culturas de origem. Há que promover, entre todos os agentes da pastoral dos imigrantes, uma comunhão centrada numa mesma visão estratégica que permita um trabalho de qualidade que ponha no centro o respeito pela pessoa e a defesa dos seus direitos. Urge promover uma cultura de acolhimento, dentro da Igreja e da Sociedade, centrada numa visão ecuménica do fenómeno migratório, onde sobressaia a necessidade de um tipo de diálogo inter-religioso e intercultural que combata a exclusão, o racismo, a xenofobia e a discriminação, ainda presentes em muitos sectores da sociedade e de algumas comunidades cristãs. A formação dos diversos agentes da pastoral, não só dos que estão directamente ligados à pastoral das migrações, mas de todos os agentes em geral, é uma aposta a ter em conta, pois sendo a temática migratória uma realidade cada vez mais global, não pode ser deixada como tema marginal nos planos pastorais, pelo contrário, tem de ser integrada numa visão global da pastoral da Igreja. Promover uma opção preferencial pelos mais pobres e vulneráveis: irregulares, refugiados, mulheres, vítimas de tráfico, jovens e menores, olhando cada um como pessoa única e irrepetível, à luz da teologia cristã e da filosofia que está na base dos direitos humanos. Positiva continuidade de participação em parcerias com organizações da Igreja e da Sociedade Civil, com vista a uma reflexão e busca de respostas, politicamente isentas, para os problemas que afectam os migrantes. Difusão positiva do movimento migratório pelos meios de comunicação social de inspiração cristã, procurando dar a conhecer o que a Igreja e outras organizações fazem em prol dos migrantes, assim como o contributo dos migrantes na construção da Sociedade e da Igreja. Divulgação da Doutrina Social da Igreja sobre a Mobilidade Humana, a fim de que os cristãos e, até mesmo a sociedade civil, conheçam as orientações pastorais e o pensamento da Igreja sobre esta realidade e, assim, possam encontrar princípios inspiradores para a sua acção junto dos migrantes. Diante do movimento migratório, isto é, do fenómeno da mobilidade humana, “considerada por alguns como o novo “credo” do homem contemporâneo” (Erga Migrantis Caritas Christi, 101), a voz da Igreja continua a ser uma força profética para a construção de um mundo melhor (cf. D. António Vitalino Dantas, Mensagem de Natal do Presidente da CEMH). São muitos os desafios, são tantas as prioridades, mas se centrarmos a nossa acção no acolhimento misericordioso de Cristo, que viveu no meio dos homens como peregrino e estrangeiro, saberemos fazer opções pastorais que sejam a resposta mais adequada à realidade migrante do nosso tempo. Fr. Francisco Sales Diniz, director da Obra Católica Portuguesa de Migrações

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