Igreja e jovens em diálogo

Reportagem ao encontro de iniciativas eclesiais em Lisboa

Final da tarde de um dia de semana. À entrada da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Lisboa, são muitos os estudantes que dão por encerrado o seu dia, mas nem todos se encaminham para casa. À porta de um dos auditórios, Margarida Silva afixa o derradeiro convite para a quarta sessão do YouCat. Consigo, traz a edição que recebeu na mochila nas Jornadas Mundiais da Juventude, em 2011 em Madrid, e mais duas amigas que lhe reconhecem o entusiasmo constante na participação em atividades paroquiais. A futura médica, no terceiro ano, tem ainda tempo para organizar sessões de apresentação do Catecismo Jovem da Igreja Católica.

“Sou da zona da Póvoa do Varzim e estou habituada a uma prática tradicional. A Margarida levou-me a estudar numa paróquia e eu nem queria acreditar que o padre era mesmo padre”, refere à Agência ECCLESIA uma colega, a Cátia, que foi à quarta sessão do Youcat e viu uma “linguagem mais próxima”. Rita Nunes, também estudante no terceiro ano mas sem qualquer aproximação à Igreja, repete a experiência.

“Tinha curiosidade, sabia que era uma atividade informal dirigida aos jovens e acho que estes encontros nas universidades ajudam a potenciar a união e os valores que os jovens precisam. A maior vantagem é a proximidade e a linguagem não codificada”.

São 527 perguntas colocadas na boca dos jovens para responder ao que eles tanto querem saber. Segundo o padre Nuno Amador, da pastoral universitária do Patriarcado de Lisboa, o catecismo jovem quer “passar do livro para a vida, fazendo um percurso entre o que se acredita, como se celebra a vida e passar para uma relação mais íntima com Deus”.

O responsável admite ser difícil aferir a participação de não praticantes, mas o encontro destina-se a todos. “Para os crentes, a proposta visa aprofundar a fé, a identidade cristã e as razões de acreditar. Sentimos dificuldade em entrar institucionalmente nas universidades e esta possibilidade permite trazer para este espaço o debate das coisas da fé”.

Outra noite de semana em que alguns dos jovens do grupo Focos de Esperança, da Juventude Blasiana, se reúnem na paróquia da Penha de França, em Lisboa, para fazer o boletim paroquial. Esta é uma das suas tarefas desde que, há pouco mais de um ano, o grupo decidiu constituir-se.

Aos 32 anos Elisabete Puga, veio de Ponte de Lima para apostar na revitalização da pastoral juvenil na paróquia de Nossa Senhora da Penha de França, que alguns elementos do grupo dizem “precisar de dinamização”.

“O grupo, pertencendo à Juventude Blasiana, é um grupo paroquial. Os jovens podem pertencer a um movimento, mas sem os tirarmos da Igreja local”. A responsável diz mesmo não fazer sentido “criar grupos fechados, ainda mais em tempo de nova evangelização. Temos de criar uma Igreja de comunhão”.

Questionados sobre a sua participação no grupo, é unânime o sentimento de confirmação na identidade cristã.

Timidamente e ainda à procura das palavras que justificam a sua presença, o futuro engenheiro informático de 18 anos, João Rodrigues, explica que a sua participação em Igreja lhe permite confrontar-se com os seus defeitos. Este jovem fala de uma altura em que “todos acreditavam em Deus”, situação que se alterou. “Na realidade, os que criticam não conhecem a realidade das coisas, nunca leram a Bíblia e não sabem do que falam. É desconhecimento”.

A futura enfermeira Carolina Rodrigues não tem dúvidas ao afirmar que só quem não experimentou encontros juvenis diocesanos como ela, pode dizer que a Igreja não tem respostas para os jovens. Aos 18 anos acredita haver forma de “tornar as atividades mais apelativas, falando de coisas sérias”.

“Acho que não é preconceito, mas os jovens têm medo de pensar diferente. Eu acho que a Igreja dá resposta a minha vida, por vezes em coisas simples”. Para esta jovem a fé tem de ser estimulada. “Se assim não for deixa de ser o que é. Estimulada torna-se algo maior e melhor e a Igreja ajuda-me nisso”.

A educadora de infância Carla Carreira é perentória. “Sim, a Igreja tem lugar para os jovens. Isso é visível nos encontros diocesanos e nacionais, mas é preciso que eles queiram participar mais”. Aos 30 anos diz que a sua reaproximação à Igreja, depois de um período “em que dizia não ter tempo”, se deve a um “chamamento” e hoje faz tudo o que lhe pedem.

Também Joana, estudante de enfermagem, gostaria de ver a sua paróquia mais dinamizada. “Aqui estão muito apagados. Vemos outros locais com muitos grupos e só mais recentemente, a catequese tem crescido”.

Questionados sobre que sonho para a Igreja que integram os jovens do Focos de Esperança falam em “união”. “Numa Igreja que não se prenda a mexericos e que trabalhe em comunhão”, sonha a futura enfermeira Joana. Já Carla pede uma Igreja “cada vez mais jovem, onde se possa falar abertamente de tudo. Uma Igreja perfeita. Estamos quase lá, mas acho que ainda falta trabalhar um bocadinho…”

A relação da Igreja católica com a juventude estará em análise no programa Ecclesia da Antena 1 e no programa ’70×7′ (RTP 2) do Dia Mundial da Juventude, este ano assinalado a 1 de abril.

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