Igreja e Comunicação Social, relação a redescobrir

Director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja destaca a importância da nova Carta pastoral do Papa e pede entendimento sobre causas comuns nos Media A nova Carta Pastoral do Papa, “O Rápido Desenvolvimento”, mostra que as relações entre a Igreja e a Comunicação Social são um terreno a redescobrir. Em primeiro lugar, na própria recepção dos documentos oficiais. Apesar do documento ser consagrado ao rápido desenvolvimento dos Media e ser endereçado aos responsáveis pelos meios de comunicação social, encontrou pouco eco junto dos mesmos, com um destaque bem menor do que qualquer posição dedicada a outros temas da actualidade. O Pe. António Rego, director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja (SNCS), considera que esta é uma oportunidade para que estes responsáveis – proprietários, directores, editores, jornalistas – “procurar um entendimento sobre causas comuns nos Media, que dizem respeito a todos, porque são causas humanas”. “Este documento deve ser trabalhado pela Igreja, para que possa chegar de facto aos seus destinatários”, acrescenta. O Papa mais mediático de todos os tempos quis publicar este documento, segundo o director do SNCS, “num tempo em que todos estamos a sentir a água a subir, a sentir-nos imersos numa nova realidade comunicativa digital, planetária e complexa”. “Esta carta não seria tão premente, neste estilo, há 10 ou 15 anos. Há uma evolução avassaladora nas tecnologias, na televisão, nas rádios locais, na imprensa de referência, nos grandes grupos, todo um conjunto de elementos novos que merecem a nossa reflexão”, sublinha. Aldeia global O Pe. António Rego considera que “esta é uma carta do sucessor de Pedro aos homens do nosso tempo, que explicita algo que se apresenta aos nossos olhos como uma realidade desconexa”. 40 anos depois do decreto conciliar “Inter Mirifica”, o director do SNCS destaca o papel crescente dos Media na construção da aldeia global. “O homem de hoje está colocado num outro horizonte, eu diria num outro planeta, que o orienta e desorienta, que está coligado com a liberdade, a pluralidade, a comunicação, a economia”, ilustra. Nesse sentido, chama a atenção para referência à encíclica “Redemptoris missio” (1990), definindo os meios de comunicação como “areópago onde se cruzam todas as culturas, discussões, certezas e incertezas”. O Pe. Rego destaca o valor da reflexão feita sobre a comunicação (nn. 4-6; 13-14), através da Igreja, da Eucaristia, da Criação, da Palavra. “O Papa chama-nos a atenção para o facto de já vir desde muito longe esta prioridade da comunicação, como um elemento riquíssimo”. João Paulo II considera ainda que o rápido desenvolvimento das tecnologias no campo dos meios de comunicação é um “sinal de progresso”, fugindo às visões que designam os Media como instrumentos degradantes. Por isso, ganha particular relevo a mensagem do Papa relativamente à Internet, escrevendo que esta “não só proporciona recursos para uma maior informação, mas também habitua as pessoas a uma comunicação interactiva”. “A Internet oferece novas possibilidades e pode ser uma plataforma dentro da própria Igreja: publicações, televisão, rádios, tudo pode passar por aqui”, explica o director do SNCS. Desafios à Igreja O compromisso dos cristãos relativamente a esta matéria fica patente quando o Papa retoma as palavras de Paulo VI para afirmar que a Igreja não pode deixar de empregar “estes poderosos meios”. O Pe. António Rego explica que pelos Media “passam a mentalidade do mundo de hoje, a cultura contemporânea, a infância e a juventude”, pelo que a proposta da Igreja “tem todo o cabimento” nos meios de comunicação. “A Igreja, especialista em humanidade, deve propor a sua mensagem e fazer-se entender no mundo de hoje com novas linguagens”, acrescenta. O Papa pede aos católicos “um diálogo construtivo para promover na comunidade cristã uma opinião pública informada e capaz de discernimento”. Reflectindo sobre a participação da opinião pública na Igreja e da Igreja na opinião pública, João Paulo II escreve que “existe, entre os católicos, um amplo espaço para o intercâmbio de opiniões, num diálogo respeitoso da justiça e da prudência”. Para o director do SNCS é claro que “a Igreja precisa de ter uma opinião pública, porque mesmo que haja uma verdade essencial, há muitas áreas dentro do campo católico para as diferenças”. História “O Rápido Desenvolvimento” nasce na sequência das celebrações (em 2003) do 40º aniversário do decreto do II Concílio do Vaticano “Inter Mirifica”. O arcebispo John P. Foley, presidente do CPCS recordou que com esse documento “um Concílio da Igreja tratou pela primeira vez, especificamente, o tema das Comunicações Sociais”. As palavras iniciais deste documento, Inter mirifica (Entre as coisas admiráveis), como reflectem o respeito e admiração pela evolução no campo das comunicações. Posteriormente, por mandato conciliar, foi publicada (em 23.05.1971) a instrução pastoral conhecida pelas palavras Communio et progressio (Comunhão e progresso), a reconhecer que os meios de comunicação estão vocacionados para estreitar a comunhão entre os homens e contribuir para o progresso da humanidade. Vinte anos mais tarde, nova instrução pastoral (de 22.02.1992) ficou conhecida pelas palavras Aetatis novae (Da nova era), que sugerem a entrada da humanidade, pela via dos media, em nova era, a era da comunicação. Entre outras intervenções do magistério da Igreja sobre a matéria, são de registar as mensagens do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais que, por disposição conciliar (Inter mirifica, 18), se celebra cada ano no período pascal, desde 1967. Notícias relacionadas • João Paulo II desafia a Igreja a apostar no mundo dos Media • Carta Apostólica «O Rápido Desenvolvimento» do Sumo Pontífice João Paulo II aos responsáveis pelas comunicações sociais

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