Igreja/Deficiência: Comunidades católicas desafiadas a valorizar capacidades diversas, promovendo «papel ativo»de todas as pessoas

João Francisco, jovem com paralisia cerebral, da Diocese de Setúbal, estuda Teologia e está em discernimento com os franciscanos conventuais de Chelas


Lisboa, 03 dez 2024 (Ecclesia) – João Francisco, jovem da Diocese de Setúbal com paralisia cerebral, disse à Agência ECCLESIA  que “ser portador de uma deficiência na Igreja é desafiante”, destacando que cada pessoa “tem a sua capacidade e que podem ter um papel ativo dentro do contexto eclesial”.

“Ser portador de uma deficiência na Igreja é algo desafiante. E ter esta inquietação de servir a Igreja torna-se um desafio porque o caminho não é linear. E como não é linear, não é uma linha reta, existem sempre incertezas que vão surgindo ao longo do caminho”, referiu, numa entrevista a respeito do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que se assinala hoje.

Já diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), acrescentou que uma pessoa com deficiência “tem uma tarefa dupla”, o caminho de cumprir a sua vocação, “de responder ao chamamento e de seguir a sua vocação”.

“As condições, em termos gerais – o João Francisco saberá melhor ainda do que eu – começam na acessibilidade física, na acessibilidade em termos de informação, passa pelas condições de estudo, de trabalho, de vida, passa por ultrapassar obstáculos e obstáculos que condicionam o cumprimento da vocação. E é nessa segunda dificuldade ou desafio que as pessoas com deficiência têm no cumprimento da sua vocação que eu acho que como sociedade podemos intervir e melhorar bastante”, desenvolveu Carmo Diniz.

João Francisco explica que após “um intenso trabalho pastoral” na sua comunidade decidiu “dar um tempo” e, depois, de muito refletir entrou para uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) de apoio a pessoas com deficiência.

O jovem entrevistado que foi assistente de catequese, acólito, e desempenhou “diversas outras funções” na Paróquia de Corroios, recorda “uma integração muito fácil” devido a um acolhimento e a uma “relação empática que se foi estabelecendo ao longo do tempo”.

“Esta relação empática é muito, muito importante. Ela existe porque as pessoas e as comunidades já têm essa sensibilidade ou então a encontrar exemplos como o do João Francisco que, com muita naturalidade na comunidade onde estava, pôde servir a Igreja e participar na Igreja de uma forma natural. Nem sempre é assim, existem exemplos muito bons, temos que os procurar e divulgar”, observou Carmo Diniz.

Para a diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da CEP, “às vezes, essa empatia ou essa predisposição” não acontecem por desconhecimento, por “medo de falhar, de errar ou de não fazer a abordagem certa”, por isso, com “um bocadinho de exemplo, um bocadinho de conhecimento”, podem “construir uma sociedade, uma comunidade melhor”.

João Francisco, que está a estudar Teologia, tem um profundo desejo de servir a Igreja e, hoje, encontra-se “a fazer discernimento com os Franciscanos Conventuais de Chelas”, que conheceu “graças à formação em História”, “uma inquietação vocacional que tem sido discernida ao longo dos anos, uma inquietação de longa duração”.

Neste Dia Internacional das Pessoas com Deficiência 2024, os dois entrevistados destacaram a importância que a pergunta ‘Como é que te podemos ajudar?’ pode fazer numa comunidade, no Programa ECCLESIA que é transmitido esta terça-feira, na RTP2.

“Pode fazer toda a diferença. E sem medo também de dizer não sei muito bem como é que isto vai acontecer, vamos experimentar. Estamos todos ou não estamos todos? Falta aqui alguém. O grupo ainda não está completo”, salientou Carmo Diniz.

Segundo João Francisco, essa pergunta é importante porque dá à pessoa “capacidade e voz para tomar a sua própria decisão”, o que “para uma pessoa com deficiência é muito valorizado”.

LS/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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