Igreja de Nossa Senhora das Salas apresenta o seu tesouro pela primeira vez

Diocese de Beja prossegue esforço de valorização do Património A Diocese de Beja, em parceria com o IPPAR e a Câmara Municipal de Sines, inaugura no próximo dia 9, quarta-feira, pelas 19h00, a Igreja e o Tesouro de Nossa Senhora das Salas, em Sines, um dos mais importantes monumentos nacionais do nosso território. Construído nos primórdios do século XVI por iniciativa de Vasco da Gama, a Igreja de Nossa Senhora das Salas é um dos raros testemunhos arquitectónicos que pode ser associado à vida do célebre almirante. O enigma continua a rodear as suas origens, mas a colaboração entre diversas entidades permitiu preservá-lo e torná-lo agora acessível. Embora classificado como Monumento Nacional desde 1922, esteve durante muitos anos encerrado aos visitantes, em risco de ruína. A igreja de Nossa Senhora das Salas, em Sines, constitui um dos mais interessantes exemplos da arquitectura manuelina do Sul de Portugal, com a nave coberta por uma abóbada de cruzaria de ogivas, estrutura que se reflecte nas fachadas laterais com três panos, separados por contrafortes escalonados que terminam em pináculos cónicos, bem característicos da época dos Descobrimentos. Embora a fundação deste curioso santuário remonte a D. Vataça Lescaris, princesa bizantina que foi donatária de Santiago do Cacém, Sines e Panóias nos inícios do século XIV, o edifício actual foi construído por ordem de Vasco da Gama, o capitão da armada que D. Manuel I enviou em 1497 a “descobrir” o caminho marítimo a Índia. Filho de Estêvão da Gama, alcaide de Sines, o navegante nasceu no paço do castelo desta vila, ao redor de 1468, seguindo uma carreira à sombra da corte. A sua familiaridade com o oceano e as técnicas da navegação pode ajudar a explicar ter sido escolhido para aquela decisiva missão, projectada por D. João II, mas já realizada pelo rei que lhe sucedeu. Santa Maria das Salas foi, desde os finais da Idade Média, um centro polarizador da devoção das gentes de Sines, em especial das ligadas ao mar. Não surpreende, assim, que a família dos Gamas lhe tivesse grande veneração. Fiel à tradição dos seus maiores, Vasco da Gama prometeu, no regresso da primeira viagem ao Oriente, sendo já almirante das Índias, mandar reedificá-la com toda a sumptuosidade, em sinal de reconhecimento pela protecção recebida nessa empresa. Iniciadas nos primeiros anos do século XVI, as obras depararam com a oposição da Ordem de Santiago, ciosa dos seus privilégios no senhorio de Sines, e foram mesmo proibidas pelo rei, em 1507. No entanto, era tal a influência do navegante na sua terra que nunca deixaram de avançar, embora lentamente. A ermida seria sagrada e aberta ao culto em 1529, já depois da morte de D. Vasco, mas ostenta na frontaria as suas armas e uma inscrição gótica que evoca os seus títulos de conde de Vidigueira e vice-rei da Índia, tornando bem patente o apreço que dedicou ao monumento. De facto, a igreja das Salas é um dos raros edifícios contemporâneos do navegante que lhe pode ser indiscutivelmente associado, o que impõe uma carga histórica muito significativa. Mas o valor patrimonial do monumento abrange também outras incorporações posteriores, entre as quais se destacam o notável conjunto de azulejaria de finais do século XVIII e os três retábulos de talha dourada e policromada, além de notáveis exemplares de pintura, escultura, ourivesaria, joalharia e artes decorativas. Classificada desde 1922 como Monumento Nacional e propriedade do Estado, esta igreja recebeu, ao longo dos últimos três anos, obras muito profundas de recuperação, levadas a cabo pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) com o apoio do Programa Operacional da Cultura (Ministério da Cultura e União Europeia), que vieram pôr cobro ao adiantado estado de degradação não só do imóvel como do seu rico espólio. O tesouro No âmbito da parceria existente entre o IPPAR, a Câmara Municipal de Sines e o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, este organismo, a quem cabe a responsabilidade científica e técnica pela tutela dos bens culturais da Igreja no Baixo Alentejo, procedeu à montagem do Tesouro de Nossa Senhora das Salas. Este núcleo constitui a sexta unidade da Rede Museológica da Diocese de Beja e será inaugurado no próximo dia 9 de Agosto, pelas 19.00 horas. Dá a conhecer ao público, pela primeira vez, as dezenas e dezenas de jóias e alfaias que foram oferecidas ao longo dos séculos à imagem da Virgem, incluindo também outras peças provenientes de outros monumentos religiosos do concelho de Sines, alguns dos quais já desaparecidos, como o convento de Santo António e a ermida de Santa Catarina (cujos últimos vestígios foram demolidos, com explosivos, aquando da realização do novo complexo portuário). No fundo, concretiza-se assim um passo decisivo, através da colaboração entre o Estado, o município e as paróquias, para devolver à fruição colectiva, num ponto de grande interesse turístico, um vasto conjunto de bens que nasceram da devoção popular e foram ciosamente acautelados pela comunidade local. Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja

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