Igreja/Cultura: Pergunta sobre Deus no Cinema atrai crentes e não crentes

Docente de cinema afirma que linguagem cinematográfica é um terreno «extremamente favorável» para o diálogo

Lisboa, 23 dez 2016 (Ecclesia) – A expressão de Deus na linguagem cinematográfica é um trabalho que atrai crentes e não crentes havendo diferentes formas de interpretação “mais literal” ou “subjetiva”, defende a especialista católica Inês Gil.

Para a docente de cinema e fotografia na Universidade Lusófona, os não crentes sentir-se-ão “tocados pela questão de Deus quando ela é colocada num filme mas de forma implícita”.

“Quando há uma tentativa de figurar Deus, isso afasta os não crentes. A questão da liberdade é muito importante e a pergunta atrai mais”, sublinha a também membro da equipa de cinema do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Questionada sobre a presença de Deus no cinema não confessional, a docente recorda palavras de uma crítica francesa Sylvie Pierre, atual editora-chefe da revista Trafic, ateia e não crente – que afirma que a relação entre cinema e religião foi sempre uma questão apaixonante -, mas Inês Gil sublinha que esta expressão será sempre “subjetiva” e passível de “interpretações”.

Na realização “não há regras, tudo é livre”.

A cineasta recorda Rosselini que “enquanto crente” utilizava o mundo tal “como ele se apresenta, na sua banalidade, luminosidade, sem dramatismo, uma luz uniforme que não privilegia ninguém”.

Já Bergman, que tinha “uma relação pouco pacífica com a instituição eclesial e com a religião”, procura “dramatizar, utilizar os efeitos da imagem”.

O tempo e o silêncio, “muitas vezes associados à interiorização e contemplação”, surgem como “formas que podem ser usadas no cinema para um questionamento sobre Deus e a religião”.

Para Inês Gil, o “interessante no cinema” é a diversidade que apresenta na “expressão de Deus”, sendo este um trabalho presente essencialmente “no cinema independente”.

“Há muitos realizadores que não sendo crentes sentem-se tocados por estas questões, pela pergunta existencial. Esta é uma realidade presente sobretudo no cinema independente. Mas não há um grande mercado”, observa.

A linguagem cinematográfica é “extremamente favorável” a um diálogo entre crentes e não crentes.

Inês Gil assinala a “abertura” da Igreja católica ao participar, através da atribuição do prémio Árvore da Vida, no festival de cinema Indie Lisboa.

“Assistimos a um acolhimento das novas tecnologias da expressão da espiritualidade por parte da Igreja católica”, mas admite a docente haver um “anticlericalismo primário, pouco interessante, mas muito presente” no cinema.

As programações dos festivais de cinema vão também mostrando diversidade e abertura: “Isso mostra que não há um cinema espiritual, há vários filmes e várias formas espirituais. E isso é que torna a relação entre o cinema e o transcendente muito rica”.

Inês Gil gostaria de ver a intervenção da Igreja de forma mais “ativa e visível”, lamentando a “timidez” e a ausência de um diálogo “pleno, aberto e livre”.

LS

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