Igreja/Cultura: Oração cristã tem marca inédita de proximidade com o divino

Padre Tolentino Mendonça e compositor João Madureira partilharam perspetivas em jornada de Teologia Prática, na Universidade Católica

Lisboa, 26 out 2012 (Ecclesia) – O padre e poeta José Tolentino Mendonça, vice-reitor da Universidade Católica, disse hoje que a oração cristã é marcada pela “relação de proximidade” com o divino, a quem chama ‘Pai’.

“O que distingue a oração cristã não é a magnificência dos seus textos, mas o facto de ser uma espécie de escola de desejo de que Deus seja Deus, que o Pai seja Pai, que Deus se revele”, disse o especialista, durante a 3ª Jornada de Teologia Prática que decorreu na Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa.

O sacerdote madeirense questionou porque é que as pessoas e o próprio Jesus rezam, colocando a resposta na “palavra-chave relação”.

“Nós somos uma oração, na nossa raiz”, afirmou, em referência a uma “experiência fundamental que afasta absolutamente da solidão”.

Segundo o biblista, a oração é “sobretudo uma experiência de ‘tu’”, em contraponto a um Deus colocado na terceira pessoa, que se distancia.

“A oração cristã, a oração que Jesus nos ensina [Pai-Nosso, ndr] tem de ser vista na dimensão antropológica”, referiu, numa intervenção dedicada ao tema ‘A palavra orante de Jesus: para uma audição teológica’.

Para o também diretor do Centro de Estudos de Religiões e Culturas, da UCP, o cristianismo permite descobrir a “presença de Deus” numa dimensão de relação e não apenas de transcendência.

“Jesus ensina a filiação, não um conjunto de palavras para repetirmos. A oração de Jesus não tem Deus só como horizonte, tem Deus como objeto”, precisou.

O compositor João Madureira, professor da Escola Superior de Música de Lisboa, falou sobre a relação entre a música e o texto religioso, a partir da sua obra ‘Pater’ (pai), e do processo de composição de uma peça enquanto “oração musical”, inspirada no Pai-Nosso.

A melodia, para dois tenores, evocou a “dupla natureza”, humana e divina de Jesus, para transmitir esta ideia “do ponto de vista simbólico, musical”.

“Quis fazer um texto musical que esteja em suspensão – uma ideia que sinto no Pai-Nosso”, revelou.

Esta jornada, concluída com a intervenção de D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda, reuniu responsáveis da Igreja, do mundo académico e artistas para abordar, ao longo do dia, a temática geral ‘«Quando rezardes, rezai assim» – Sentidos, práticas, figuras orantes’.

“Vivemos um tempo com situações novas, não apenas uma época de mudanças, mas uma mudança de época: relativismo, fundamentalismos, pluralismo religioso, minoria, indiferença, uma crescente religiosidade imatura e supersticiosa. Todavia, às vezes preferimos viver do passado e não encarar profeticamente o futuro”, advertiu o prelado.

Para este responsável, “é insuficiente na oração a palavra, para o diálogo é absolutamente necessário a escuta”.

OC

Notícia atualizada às 23h59

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