Igreja/Cultura: Investigador propõe olhar sobre «anos de ouro da arquitetura religiosa em Portugal» no século XX

Tese de doutoramento analisa impacto do Movimento de Renovação da Arte Religiosa

Lisboa, 28 out 2014 (Ecclesia) – O arquiteto João Alves da Cunha apresentou hoje em Lisboa uma tese de doutoramento sobre o Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR) e a sua atividades nas décadas de 50 e 60 do último século.

“A palavra-chave para a arquitetura do MRAR é integração”, precisou, sublinhando o “funcionalismo litúrgico”, com a centralidade absoluta do altar, e uma busca pela “envolvência”, com uma “planta em leque” que procura aproximar a assembleia.

Estas igrejas, em contexto urbano, procuravam traduzir uma “arte de serviço”, com atenção à dimensão social e aos vários serviços paroquiais.

‘O MRAR e os anos de ouro da arquitetura religiosa em Portugal no século XX’, título do trabalho, teve orientação do arquiteto José Manuel Fernandes, da Faculdade de Arquitetura de Lisboa, e co-orientação de Nuno Teotónio Pereira que presidiu ao MRAR.

João Alves da Cunha, do Grupo de Arquitetura do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), disse ter sido motivado pela “escassez de informação”, pelo que passou em revista o “estudo, debate e partilha” que foram promovidos “entre vários grupos profissionais, juntamente com padres e seminaristas”.

Este dinamismo promoveu uma mudança no panorama da arte religiosa em Portugal, identificável num novo entendimento do papel social da Igreja, requerendo novos tipos de espaços face às conceções litúrgicas que viriam a ser consagradas no Concílio Vaticano II (1962-1965).

O MRAR foi fruto “da história e do seu tempo” e, apesar de ter existido durante poucos anos, “o seu valor e o impacto que causou” foram suficientes para abrir portas a novos protagonistas.

João Alves da Cunha lamentou a falta de permanência deste pensamento no pós-concílio, face à fragmentação de estilos.

“É preciso reunir novamente arquitetos, artistas, historiadores, padres e seminaristas”, concluiu o autor da tese.

O trabalho académico aborda a dinâmica do grupo que entre o início da década de 50 e final da década de 60 do século XX reuniu vários arquitetos e artistas plásticos em Portugal, como Nuno Teotónio Pereira, João de Almeida, Diogo Pimentel, Nuno Portas, Luís Cunha, Erich Corsepius, Madalena Cabral, Formosinho Sanchez, Manuel Costa Cabral, Eduardo Nery e Jorge Vieira, entre outros.

O grupo começou a sua ação apoiado numa ‘Exposição de Arquitetura Religiosa Contemporânea’, em 1953; o leque de interesses do movimento acabaria por alargar-se a outros campos, como música sacra, ourivesaria e paramentaria.

Nuno Teotónio Pereira foi distinguido em 2012 pelo SNPC com o «Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes» e é coautor da igreja do Sagrado Coração de Jesus (1962-1970), em Lisboa, hoje um monumento nacional.

Nuno Portas, coautor do mesmo edifício, foi um dos elementos do júri e falou numa “tese de múltiplas teses”, face à diversidade de problemas que tinham de ser enfrentados, sustentando que o MRAR “cumpriu” a sua missão.

O arquiteto leu uma comunicação de Nuno Teotónio Pereira, ausente por motivos de saúde, na qual este destaca “o combate” em “defesa de verdadeira arquitetura, em oposição à arquitetura de fachada”, na construção de igrejas.

“Se a doutrina da Igreja era de plena atualidade, a sua arquitetura tinha de revelar isso, revelar as marcas da contemporaneidade”, acrescentou

OC

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