Igreja/Cultura: Concílio Vaticano II alterou atitude católica face à sociedade contemporânea

Manuel Alegre uniu-se a responsáveis católicos para destacar atualidade da mensagem de «alegria e esperança»

Fátima, Santarém, 22 jun 2012 (Ecclesia) – O poeta e ex-candidato à Presidência da República, Manuel Alegre, destacou hoje em Fátima a importância do Concílio Vaticano II (1962-1965) para redefinir a “relação da Igreja com o mundo”, bem com a atualidade da sua mensagem.

Alegre falava durante a 8.ª Jornada da Pastoral da Cultura, promovida pela Igreja Católica, sobre o tema ‘Há uma alegria e uma esperança para nós – O diálogo com a cultura no espírito do Concílio’, frase retirada da Constituição Pastoral ‘Gaudium et Spes’ [(GS) Alegria e esperança, em português], aprovada no Vaticano II.

“Impressiona ainda hoje a alegria e a esperança que brotam das suas páginas” e o otimismo com que se encara o futuro, segundo o poeta.

Afirmando-se “honrado, mas também embaraçado” pelo convite, o ex-deputado afirmou que João XXIII (1881-1963), o Papa que convocou o Concílio, “soube ler os sinais dos tempos”.

Alegre recordou a encíclica de João XXIII sobre a paz no mundo, a ‘Pacem in terris’, publicada a 11 de abril de 1963, mesmo mês em que Manuel Alegre foi preso em Angola, então colónia portuguesa, depois de participar num levantamento contra o regime.

Detido em Luanda, seria impedido de ler um texto que se dirigia “a todas as pessoas de boa vontade” e não apenas aos crentes, abordando temas como a liberdade, a democracia, o colonialismo ou a participação das mulheres na sociedade.

Perante cerca de 130 participantes, Manuel Alegre declamou o poema que escreveu para João XXIII: ‘Porque não sei de Deus não trago preces/Sou apenas um homem de boa vontade/Creio nos homens que acreditam como tu nos homens/creio no teu sorriso fraternal’.

“Foi a encíclica (Pacem in terris) que mais me marcou, mas não se pode esquecer a Gaudium et Spes”, com um estilo que “representa uma nova atitude da Igreja”, prosseguiu.

Alegre destacou a permanência desta mensagem perante a atual “crise moral” em que “a cultura do número substituiu o pensamento”.

Eduardo Borges de Pinho, teólogo e docente na Universidade Católica Portuguesa, evocou por sua vez o surgimento de uma “nova etapa do aprofundamento da identidade da Igreja”.

Para o especialista, a GS mostra, por parte das comunidades católicas, uma linha de “proximidade solidária” com o mundo contemporâneo.

Neste contexto, Borges de Pinho alertou para a existência de “velhos e novos clericalismos”.

A pintora Emília Nadal recordou, na sua intervenção, o “ambiente mental” que existia em Portugal, no pré-Concílio, com “grande desconfiança”, e falou do “deslumbramento” que representou a eleição como Papa de João XXIII, em 1958.

Após o Vaticano II, acrescentou, assistiu-se a um “extremar” de posições nalguns movimentos de leigos e disse que é “no interior da Igreja” que começa a definir-se a “qualidade do seu diálogo com o mundo”.

Joaquim Azevedo, presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica, aludiu à “ventania conciliar” que passou pela Igreja Católica e o interesse despertado pelos documentos do Vaticano II, que ofereceram “coragem e esperança” em tempos difíceis, na sociedade portuguesa, ao valorizarem o papel dos leigos, inclusive na vida política.

A jornada organizada pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura prossegue com a apresentação do filme ‘Mupepy Munatim’, com a presença do realizador Pedro Peralta, distinguido pela Igreja Católica no IndieLisboa 2012.

OC

Notícia atualizada às 12h08

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