Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais 2023 aponta a «novas formas e modalidades para o anúncio»
Cidade do Vaticano24 jan 2023 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje, na sua mensagem para Dia Mundial das Comunicações Sociais 2023, a uma escuta “sem preconceitos”, que permita “falar com o coração no processo sinodal”, em curso na Igreja Católica.
“Duma escuta sem preconceitos, atenta e disponível, nasce um falar segundo o estilo de Deus, que se sustenta de proximidade, compaixão e ternura. Na Igreja, temos urgente necessidade duma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs”, escreve Francisco, num texto intitulado “Falar com o coração: Testemunhando a verdade no amor”, que se inspira numa passagem da carta de São Paulo aos Efésios (Ef 4,15).
O tema escolhido para o 57.º Dia Mundial das Comunicações Sociais está em ligação ao de 2022, “Escutar com o ouvido do coração”, e insere-se no processo sinodal 2021-2024.
“Sonho uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio maravilhoso que é chamada a proclamar no terceiro milénio”, assume o Papa.
Francisco acrescenta que esta comunicação tem de colocar no seu centro “centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado” e esteja “mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial”.
“Uma comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor”, prossegue.
Não devemos ter medo de proclamar a verdade, por vezes incómoda, mas de o fazer sem amor, sem coração. Com efeito o programa do cristão – como escreveu Bento XVI – é ‘um coração que vê’. Trata-se de um coração que revela, com o seu palpitar, o nosso verdadeiro ser e, por essa razão, deve ser ouvido”.
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O Dia Mundial das Comunicações Sociais é a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963; assinala-se, em cada ano, no domingo antes do Pentecostes – 21 de maio, em 2023.
A mensagem para a celebração é tradicionalmente publicada a 24 de janeiro, dia da memória litúrgica de São Francisco de Sales (1567-1622), padroeiro dos jornalistas.
O Papa apresenta o bispo e doutor da Igreja – a quem dedicou a 28 de dezembro de 2022 a Carta Apostólica Totum amoris est, nos 400 anos da sua morte – como “um dos exemplos mais luminosos e, ainda hoje, fascinantes deste falar com o coração”.
“Para ele, a comunicação nunca deveria reduzir-se a um artifício, a uma estratégia de marketing – diríamos nós hoje –, mas era o reflexo do íntimo, a superfície visível dum núcleo de amor invisível aos olhos”, escreve.
Em 2023 celebra-se o centenário da proclamação de São Francisco de Sales como padroeiro dos jornalistas católicos, feita por Pio XI com a Encíclica ‘Rerum omnium perturbationem’.
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“Mente brilhante, escritor fecundo, teólogo de grande profundidade, Francisco de Sales foi bispo de Genebra no início do século XVII, em anos difíceis marcados por animadas disputas com os calvinistas. A sua mansidão, humanidade e predisposição a dialogar pacientemente com todos, e de modo especial com quem se lhe opunha, fizeram dele uma extraordinária testemunha do amor misericordioso de Deus”, escreve Francisco.
O Papa cita o doutor da Igreja e “santo da ternura” para afirmar: “Somos aquilo que comunicamos”.
“Uma lição contracorrente hoje, num tempo em que, como experimentamos particularmente nas redes sociais, a comunicação é muitas vezes instrumentalizada para que o mundo nos veja, não por aquilo que somos, mas como desejaríamos ser”, precisa.
O texto do Papa é apresentado esta manhã, numa sessão que decorre em Santarém, por iniciativa da Diocese local e do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais.
OC
A mensagem para o 57.º Dia Mundial das Comunicações Sociais conclui-se com a seguinte oração:
Que o Senhor Jesus, Palavra pura que brota do coração do Pai, nos ajude a tornar a nossa comunicação livre, limpa e cordial. Que o Senhor Jesus, Palavra que se fez carne, nos ajude a colocar-nos à escuta do palpitar dos corações, para nos reconhecermos como irmãos e irmãs e desativarmos a hostilidade que divide. Que o Senhor Jesus, Palavra de verdade e caridade, nos ajude a dizer a verdade no amor, para nos sentirmos guardiões uns dos outros. |
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