Igreja Católica tem de prestar mais atenção às pessoas e preocupar-se menos com a eficiência

Jornada de Teologia Prática deu protagonismo aos percursos de vida dos crentes

O director da Faculdade de Teologia da Universidade Católica considera que os agentes pastorais, nomeadamente sacerdotes, devem dedicar-se mais ao acompanhamento das pessoas, deixando de estar excessivamente preocupados com a eficiência das suas paróquias.

“Na medida em que a Igreja, por razões de falta de pessoal, se desagarra da proximidade com as pessoas que serve, o que ela procura montar é uma máquina eficiente, um pouco ao estilo de uma multinacional, uma máquina com todas as regras da boa gestão”, constata o padre Peter Stilwell.

Com esta opção, “perdeu-se a dimensão de procurar o lugar onde as pessoas fazem o seu percurso, com os seus altos e baixos, com os seus pecados e graças, as suas conversões. É provavelmente aí que, mais do que pela máquina, passa a acção do Evangelho”, defende o vice-reitor da Universidade Católica.

“Se nos limitarmos simplesmente a gerir a vida paroquial, não percebemos o que faz 80% da população na sua procura religiosa”, sublinhou o sacerdote em declarações à Agência ECCLESIA, proferidas durante a 2.ª Jornada de Teologia Prática, que decorreu esta Sexta-feira em Lisboa.

“Parto do princípio que só cerca de 5% das pessoas não têm inquietação religiosa em alguma altura da sua vida. Nas nossas igrejas, por exemplo em Lisboa, temos 15% nas celebrações. O que fazem os outros? Por onde passam? Quais são os seus caminhos? Estão completamente perdidos ou foram encontrados de outra forma?”, questionou.

A Igreja Católica depara-se actualmente com o desafio de “tentar perceber a filigrana das suas comunidades e das pessoas que se estendem para lá delas”, referiu o sacerdote,

“Actualmente, as pessoas escolhem não só os produtos que consomem, mas também os partidos em que votam e as religiões (ou a não religião) que frequentam. Se não estivermos atentos ao que se está a passar, não percebemos como é que elas escolhem e por que é que escolhem”, advertiu.

Para o padre Peter Stilwell, é preciso “tentar compreender os lugares de referência que levam as pessoas a esta procura livre de encontro ou reencontro com Deus”, pelo que é “de extrema importância” que a Igreja saiba “como pode servir essa busca”.

O director da Faculdade de Teologia recorda o fenómeno das Jornadas Mundiais da Juventude, que reúnem centenas de milhares de jovens, muitos deles afastados das igrejas, frisando que é “relevante observar como estão a ser feitos esses percursos, o que é que atrai as pessoas, como é que elas se sentem”.

Ao incidir na importância das biografias dos crentes, a Jornada de Teologia Prática conferiu protagonismo às histórias de quem não aparece da História, mas será que a importância dada a esses percursos é suficiente para transformar a estratégia da Igreja?

“Se estivéssemos atentos, alteraríamos profundamente a nossa pastoral. Só que isso exigiria da nossa parte muita energia e muita coragem para romper com os ritmos calculáveis” da rotina paroquial, respondeu o padre Peter Stilwell.

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