Depois de vários anos a trabalhar na saúde mental, a enfermeira Vanessa Alves toca agora a vulnerabilidade nos cuidados paliativos onde concretiza «o amor» que sente pelas pessoas
Lisboa, 24 ago 2022 (Ecclesia) – Vanessa Alves, enfermeira que trabalha na área dos cuidados paliativos, lamenta que se “baixe a voz quando se fala da morte” e se esqueça a “tanta vida que se pode dar” a esta fase.
“Baixamos a voz para falar sobre a morte e a morte não é senão uma etapa da vida. É preciso dar vida à morte. Não podemos esperá-la apenas; há tantas coisas para fazer com a vida que há na morte”, explica a jovem à Agência ECCLESIA.
A enfermeira explica a necessidade de reconhecer que a saúde mental deve ser transversal a todas as áreas, “em cuidados paliativos, em especial”.
“Basta que nos imaginemos na angústia por não poder continuar a ver os filhos crescer, não poder ver o casamento do neto ou fazer a viagem há tanto tempo imaginada. Claro que a nossa mente se vai abaixo. Somos todos, em todas circunstâncias, pessoas altamente vulneráveis e esquecemo-nos disto; fazemo-nos de fortes, sempre. Mas chega uma altura da vida em que a vulnerabilidade se toca com os dedos. Nesta altura é difícil, parece tudo ainda maior e mais difícil. Eu, que gosto tanto de pessoas, quero ajudá-las nesta altura em que é tudo muito maior e mais difícil. Acho que não faço coisas extraordinárias, mas empresto as minhas mãos e a partir daí, só Deus sabe o que acontece”, explica.
Nascida em Lisboa, com oito anos, Vanessa rumou a Alcaravela, na diocese de Portalegre-Castelo Branco, um local onde atualmente estão os pais e a avó.
Na idade de procurar oportunidades laborais, regressou a Lisboa onde encontrou lugar para trabalhar na área da saúde mental que sempre a inquietou desde pequena: “Sim, interessavam-me os órgãos, mas queria perceber o que é que as pessoas tinham lá dentro, mas interessava-me sobretudo o que pensavam e a forma como pensavam. E eu queria descobrir”.
“São as pessoas que me apaixonam e me fazem continuar na enfermagem. Se não fossem as pessoas que temos oportunidade de cuidar não descobríamos tantas coisas que conseguimos fazer”, sublinha.
A profissional lamenta que a saúde mental seja “muito maltratada” e reconhece que “dificilmente” uma pessoa vai ao médico porque “está triste, o trabalho deixou de render ou porque está mais irritada em casa”.
“Se não estivermos muito atentos, facilmente caímos numa situação de doença sem percebermos. Facilmente caímos em situação de doença e geralmente quando percebemos já é tarde”, alerta.
Vanessa Alves fala na importância que o tempo assume no tratamento.
“Dar comprimidos é fácil mas nem sempre resolve. Esta noite estive com um paciente que estava muito ansioso e ele precisava que eu ficasse e conversasse com ele. Foi um consolo e, no final, muito feliz por ter acontecido uma conversa, pediu-me para tirar a máscara para pode reconhecer-me na rua e cumprimentar-me”, recorda.
A viver em Lisboa, há 11 anos, Vanessa integra o grupo «PCB@LX», onde universitários e jovens trabalhadores oriundos da diocese de Portalegre – Castelo Branco a residir em Lisboa, se reúnem mensalmente para receber um convidado que possa “com a sua vida incentivar a ser mais e melhor”.
“Não tem de ser só uma pessoa cristã mas que seja alguém que tenha algo a acrescentar à vida dos outros, é um espaço de aprendizagem, uma cadeira que não existe nas faculdades que nos permite ir mais longe”, explica falando do percurso de 10 anos que o grupo tem.
Vanessa Alves está ainda envolvida no Comité Organizador Diocesano (COD) de Portalegre-Castelo Branco que prepara as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 e assume o caminho “bonito” que tem sido feito.
“Os símbolos da JMJ quando estiveram em Portalegre – Castelo Branco passaram por lares, jardins de infância, nos hospitais, celebramos uma missa no parque de estacionamento de um hipermercado e que bonito que foi, estivemos num Carmelo, e, em alguns locais onde não havia oportunidade de parar por falta de tempo, passamos na estrada e as pessoas fizeram pequenos altares para ver passar a carrinha – nem sequer os símbolos mas ver passar a carrinha. Foi um dos momentos mais bonitos”, recorda.
A jovem de 33 anos explica que a JMJ é feita de muitos encontros, “sempre entre as pessoas”.
“A jornada muda a nossa vida desta forma. A jornada é sobretudo os encontros que anonimamente vemos acontecer. É muito importante a semana dos eventos centrais, mas o caminho, o que preparamos e a vida que vivemos até lá, é que são importantes”, assume.
A conversa com Vanessa Alves pode ser acompanhada esta madrugada, depois da meia-noite, no Programa Ecclesia na Antena 1 da rádio pública, ficando disponível no portal de informação ou em formato podcast.
LS