Igreja/Abusos: «Quando ouvimos testemunhos, ficamos diferentes» – D. Francisco Senra Coelho

Arcebispo de Évora aborda memorial proposto pela Comissão Independente e jornada de oração promovida pela CEP

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Évora, 16 mar 2023 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora afirmou que é preciso fazer “tudo o que estiver ao alcance” para ajudar as vítimas de abusos sexuais, assumindo que se volta “diferente” quando se ouvem os testemunhos.

“Quando ouvimos testemunhos, nós ficamos diferentes, penso que esta realidade faz uma grande diferença entre as pessoas: ouvir um testemunho de uma vítima é como visitar Auschwitz, fica-se para sempre diferente. Volta-se interiormente de outra maneira, atinge-se uma outra maturidade e um outro realismo”, disse D. Francisco Senra Coelho à Agência ECCLESIA.

A Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal sugeriu a criação de um memorial de homenagem às vítimas.

“Penso que o que estamos a fazer é criar a segurança para todas as crianças ao nível da violência sexual. Esta luta merece gratuidade, não calculismo nem chantagem, às vezes percebe-se que o que está no centro é o ataque à instituição”, indica o arcebispo de Évora.

A 3 de março, a Conferência Episcopal Portuguesa, no comunicado conclusivo da Assembleia Plenária Extraordinária dedicada à análise do relatório apresentada a 13 de fevereiro, informou que ia realizar “um memorial no decorrer da Jornada Mundial da Juventude e perpetuado, posteriormente, num espaço exterior” da CEP, assumindo a proposta da CI.

D. Francisco Senra Coelho referiu que esta proposta da Comissão Independente “colheu a abertura, a compreensão, e adesão de quase todos os bispos”: “Não vi que tornasse uma polémica, uma situação difícil entre nós”.

O arcebispo de Évora, historiador, lembrou que existem “muitos memoriais em Portugal de momentos decisivos”, como na Sé eborense, “a lembrar e fazer memória de todos os que morreram” num “ato intolerante, ocupante” nas invasões napoleónicas, ou nas Caxinas a quem morreu no mar, aos combatentes da Grande Guerra, e a “lembrar gestos heroicos dos soldados da paz”.

“Se, de facto, é educativo e não um gesto justiceiro, mas um gesto de justiça que se faça”, desenvolveu o entrevistado, pedindo que se tenha “sempre a vítima no centro” e que “as atitudes assumidas não sejam antieclesiais, anti-Igreja”.

Esta terça-feira, o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reuniu-se, em Fátima, e no comunicado final renovou o propósito de realizar um memorial e anunciou uma jornada nacional de oração pelas vítimas de “abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja”, uma expressão do Papa Francisco, no dia 20 de abril, encerramento da próxima Assembleia Plenária do episcopado.

O arcebispo de Évora, que começou por “reafirmar cada uma das proposições do comunicado”, disse que a CEP “pretende que cada comunidade tenha o seu momento de se encontrar com a misericórdia de Deus”, para além de uma “grande celebração”.

“Vai acontecer um momento simbólico e, ao mesmo tempo, muito forte de oração pelas vítimas, por todos os que sofreram, e por todos os que verdadeiramente trabalham pela libertação destas pessoas no seu sofrimento. Temos de rezar por todos os que à volta deste fenómeno e desta patologia, que é tão antiga como a história da humanidade, da qual Cristo falou de um modo muito duro, ‘aí daqueles que escandalizem os mais pequeninos’”, desenvolveu D. Francisco Senra Coelho.

CB/OC

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