Sacerdote apresentou conferência sobre «O que é que a transição digital pede à Igreja?», nas Jornadas de Teologia 2025, na Universidade Católica Portuguesa no Porto

Porto, 04 fev 2025 (Ecclesia) – O padre Andrea Ciucci, da Pontifícia Academia para a Vida (Santa Sé), alertou esta segunda-feira para o perigo de a Igreja se tornar uma “agência que fala do passado”, nas Jornadas de Teologia 2025, na Universidade Católica Portuguesa, no Porto.
“A inteligência artificial impõe um novo olhar sobre o futuro e corremos o risco de nos tornarmos a agência do passado, todos dedicados a defender posições conquistadas; múltiplas crises abalam violentamente a humanidade no seu conjunto e corremos o risco de nos perdermos a nós próprios, continuando a repetir, a explicar, a justificar”, afirmou, informa o jornal Voz Portucalense.
Na conferência intitulada “O que é a transição digital pede à Igreja?”, o sacerdote de Milão falou do medo da Igreja em relação à investigação científica, apesar da grande “lista de monges, padres, freiras e irmãs” que dedicaram a vida a este ramo na sua história.
O padre Andrea Ciucci considera que a Igreja “teme que, de algum modo, a investigação científica ponha em perigo a sua mensagem, minando a sua força, por vezes até o seu poder”.
“Quando a Igreja tem medo, retrai-se, condena, nega, queima. Olha para o passado. Prefere suspender a sua investigação inteligente sobre as condições da realidade. Entrincheira-se atrás de dogmas que servem para fechar discursos, em vez de abrir novos discursos sobre bases sólidas”, assinalou.

No âmbito das reflexões sobre inteligência artificial, o sacerdote defende que é essencial voltar a debruçar sobre o tema do corpo, algo que o sistema de inteligência artificial não tem, mas os seres humanos sim.
Nesta “era da inteligência artificial, somos chamados a falar novamente de corpos, ou melhor, a valorizar os nossos corpos”, referiu, salientando que fé cristã habilita de forma “muito especial” para esta operação, dado que a “experiência cristã é a religião dos corpos”.
“Encontramos a nossa verdade no corpo ressuscitado de Cristo. Todos os domingos distribuímos e comemos o corpo de Cristo e, recitando o credo, afirmamos, atenção, não a imortalidade das almas, mas a ressurreição dos corpos”, sublinhou.
No final da conferência, o padre Ciucci apontou três ideias para o futuro, sendo uma delas a “importância de trabalhar nas comunidades em rede, tendo mesmo recordado a estrutura de trabalho das ‘mesas redondas com as quais o sínodo’”.
O sacerdote da Pontifícia Academia para a Vida salientou também a emergência das “narrativas”, tal como Jesus contava parábolas, e a importância dos influenciadores na web.
“A experiência cristã sempre se difundiu graças ao testemunho, ao facto de alguém ter dado a cara por ela”, afirmou.

Antes do padre Andrea Ciucci, D. Vicenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho para a Vida, abordou “A mudança de época e o desafio da inteligência artificial”, lembrando o “Apelo de Roma para a Ética da Inteligência Artificial (IA)”, lançado pela Santa Sé em fevereiro de 2020.
“O Apelo de Roma não é um tratado nem um manual: é um instrumento para convocar diferentes atores, de modo a que cada um contribua para o desenvolvimento de uma ética da IA”, realçou.
O colaborador do Papa indicou que “no domínio da inteligência artificial, os progressos foram mais rápidos e generalizados do que se esperava” e destacou o termo utilizado pelo Papa Francisco “algorética ou ética da inteligência artificial”.
“Queremos propor uma humanização da tecnologia. A ‘algorética’, já referida, opõe-se à algocracia, que é o poder indiscriminado dos algoritmos”, referiu.
As Jornadas de Teologia, centradas este ano no tema da “Ciberteologia e Inteligência Artificial”, iniciaram-se na segunda e terminam quinta-feira, reunindo especialistas nacionais e internacionais para explorar as implicações antropológicas, éticas e teológicas da inteligência artificial.
LJ